AMIZADE COLORIDA

 

 Amigos coloridos pintam o quadro de relacionamentos para o século XXI
 

Plínio Teodoro
De repente, pinta aquele clima. Umas taças de vinho a mais, um pouco de censura social a menos e aquela tela que retrata o amigo - ou amiga -, confidente de todas as horas, acaba ganhando cores vivas e intensas. E como em um passe de mágica, em cinco ou seis retas - como diria o compositor Toquinho, em sua inesquecível Aquarela - um castelo se desenha para acomodar a colorida amizade.

"Este tipo de relação nasceu junto com a liberalização sexual, no fim dos anos 60, por pessoas mais, digamos, modernas que não viam a necessidade de namorar para sentir prazer na companhia de outras", afirma o consultor em relacionamento, Sérgio Savian, que há mais de 30 anos analisa as mudanças de comportamento entre casais.

No entanto, a flexibilidade das convenções sociais e as novas mídias, como a internet, alavancaram ainda mais este tipo de relação, que é considerada por Savian um boa opção para o século XXI. "Os tempos atuais permitem que você troque carícias, que tenha alguém ao seu lado sem seguir o caminho tradicional do namoro, noivado e casamento, mas é preciso estar em sintonia com este pensamento".

Segundo o consultor, o grande diferencial das amizades coloridas em relação a outros tipos de relacionamento entre casais é a questão da fidelidade. "Em uma amizade colorida não há cobranças em relação ao outro, é mais fácil de levar, você fica junto quando der, sem obrigações e com a certeza que a pessoa é bacana", afirma a designer Amanda Pereira, de 28 anos, que já teve mais de um amigo colorido.

A primeira experiência, conta Amanda, foi na época da faculdade. Após o primeiro beijo houve certo constrangimento entre ela e o amigo. "Mas depois de uns dias a gente tocou no assunto e acabou ficando junto de novo. E assim foi por alguns anos, interrompidos temporariamente quando ele ou eu arrumávamos um namorinho mais sério".

Day after
O dia depois é sempre o que mais causa constrangimentos entre amigos que resolvem aderir ao tipo de relacionamento. O estudante Marcos Fábio Serapião, de 21 anos, confessa que nunca deu muita sorte com suas amizades coloridas, justamente por causa do dia depois. "As mulheres ficam presas a conceitos como amor e fidelidade que impedem que esse tipo de relacionamento dê certo. Um erro, em minha opinião, já que uma amizade colorida pode ser muito proveitosa para ambas as partes".

Segundo Savian, o lidar com o dia depois não é apenas uma questão de ser homem ou mulher. Ele explica que há dois tipos de personalidades, que se acentuaram ainda mais com o mundo atual. Pessoas mais românticas ou aquelas menos articuladas socialmente têm maior dificuldade em lidar com este tipo de relação. "Porém, há pessoas alérgicas a compromissos, ainda mais com uma pessoa só. A amizade colorida só vai bem quando as duas pessoas têm uma autonomia bacana. Há casos de namorados que resolveram fugir do compromisso e do status quo e deram 'marcha ré' na relação".

Meninos e meninas
Adepta fervorosa do tipo de relacionamento, a funcionária pública Eva Gala, de 24 anos, usa e abusa dos amigos e das amigas coloridas. Modernizando ainda mais a relação, ela relata que em seu grupo de amigas é comum que existam trocas de carícias. "É tranquilo dentro do nosso conceito de amizade colorida. Nós saímos, ficamos, nos divertimos juntos, somos amigos independente de irmos para a cama ou não. O que acho complicado é a confusão que as pessoas fazem disto".

Entre as mulheres, explica ela, a relação termina no beijo, mas nada impede que uma amiga repasse o amigo colorido da vez para satisfazer os desejos sexuais de outra. "Quando estamos sem namorados, os amigos cumprem o papel de parceiro na cama, sem cobranças ou ciúmes".

Para Savian, não há uma maneira de compreender totalmente o que envolve sentimentos. E, em um mundo onde o prazer está logo em frente, na tela do computador, nada melhor que os amigos - que são pessoas de confiança mútua - busquem formas de se relacionar sem levar em conta as censuras e os conceitos pré concebidos pela sociedade de outrora. "Não tem muito o que dizer a alguém que queira experimentar este tipo de relacionamento a não ser 'vá fundo', ou, como já é popular: relaxa e goza".

E se é isto o que você procura, pegue sua caixa de lápis colorido e, seguindo as notas orquestradas pelo compositor Toquinho, numa folha qualquer desenhe um navio de partida, com alguns bons amigos bebendo de bem com a vida. Pois o futuro aí está.

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