AS DESCOBERTAS RECENTES SOBRE A AÇÃO DA MACONHA NO CÉREBRO E SEU IMPACTO NA SAÚDE E NO COMPORTAMENTO

SINAPSES

Até vinte anos atrás, o efeito da maconha no cérebro era desconhecido. Graças aos avanços nos exames de imagem, capazes de flagrar o o cérebro em pleno funcionamento, foi possível estabelecer que a maconha interfere na função dos endocanabinoides, substâncias cerebrais liberadas naturalmente quando as conexões entre os neurônios (sinapses) são ativadas.
Tais compostos têm a função de regular as sinapses, de forma a preservar a comunicação entre os neurônios. As últimas pesquisas sobre endocanabinoides, conduzidas pela Universidade Hebraica, em Jerusalém, revelaram que esses compostos estão espalhados por todo o cérebro, o que explica a ação difusa da maconha.

RECEPTORES

A maconha ocupa o lugar dos endocanabinoides nos receptores desses compostos nos neurônios.  Receptores são estruturas na superfície dos neurônios que servem de porta de entrada para os endocanabinoides.  Dessa forma, a comunicação neural (sinapse) se torna ineficiente. Eventualmente, pode haver até mesmo perda da função dos neurônios.  Em estudos recentes, descobriu-se que os receptores submetidos à ação da droga se comportam de formas diferentes.  Alguns reagem a quantidades pequenas de maconha; outros, a grandes volumes.

VULNERABILIDADE

A afinidade química da maconha com os receptores endocanabinoides é tamanha que basta um ano de uso contínuo (pelo menos uma vez por semana) para que os danos sinápticos possam vir a se tornar definitivos, mesmo com a suspensão da droga.  Esse prejuízo ocorre, sobretudo, durante a adolescência, quando o cérebro está em transformação e os mecanismos neurais estão mais vulneráveis. Trabalhos recentes detalhando a afinidade química da maconha, financiados pelo instut5uto Nacional sobre Abuso de Drogas, nos Estados Unidos, mostraram que a semelhança com os endocanabinoides é maior do que se se imaginava, ratificando o efeito danoso ao cérebro.

AS ÁREAS CEREBRAIS AFETADAS

1 - CÓRTEX, a área da cognição
Efeito da maconha: falta de concentração, dificuldade de raciocínio e problemas de comunicação

2 - HIPOTÁLAMO, área da sensação de saciedade
Efeito da maconha: aumento do apetite

3 - HIPOCAMPO, área da memória
Efeito da maconha: perda das lembranças, sobretudo as recentes e de longa duração

4 - NÚCLEOS DA BASE E CEREBELO, área dos movimentos do corpo
Efeito da maconha: falta de coordenação motora e desequilíbrio

5 - AMÍGDALA, área do controle das emoções
Efeito da maconha: aumento ou diminuição da ansiedade
(Fonte: Os psiquiatras Ronaldo Laranjeira, da Universidade Federal de São Paulo, campus de Ribeirão Preto, e Valentim Gentil, do Instituto Psiquiátrico do Hospital das Clínicas, e a psicóloga Clarice Madruga, da Unifesp)

O RISCO DE DOENÇAS EM RELAÇÃO A QUEM NÃO USA A DROGA

Os riscos de doenças psiquiátricas associados ao uso crônico da maconha, em comparação com quem não usa a droga. Por uso crônico, entende-se o consumo de um cigarro de maconha pelo menos uma vez por semana durante um ano

PREJUÍZOS DIÁRIOS: Todos os usuários, sem exceção, sofrem de pelo menos um dos sintomas abaixo.

Depressão
2 vezes maior é o risco de desenvolvimento da da doença

Transtorno bipolar
2 vezes maior é a probabilidade de manifestação do distúrbio

Esquizofrenia
3,5 vezes maior é a possibilidade de incidência do problema

Transtorno de ansiedade
5 vezes maior é o risco de ocorrência do distúrbio

Memória
60% dos usuários têm dificuldade com lembranças, sobretudo as mais recentes

Concentração
40% dos usuários têm dificuldade de ler textos longos e mais complexos

Funções executivas
40% dos usuários têm dificuldade de planejar e executar tarefas de forma organizada e rápida

Vida social
40% vivem isolados socialmente, limitando a convivência com pessoas ao ambiente de trabalho

Inteligência
8 pontos a menos de QI é a perda registrada pelos usuários da droga

Vida profissional
35% ocupam cargos aquém da sua capacidade devido ao baixo rendimento e à incapacidade de mudar sua situação

(Fonte: Os psiquiatras Ronaldo Laranjeira, da Universidade Federal de São Paulo, Universidade  Duke, nos Estados Unidos, Instituto de Saúde Pública da Suécie e King's College, de Londres) 
(Veja, 31 de outubro de 2012, pags. 94, 95)