MANIFESTANTES PRÓ-BOLSONARO AGRIDEM
PROFISSIONAIS DA IMPRENSA
grupo globo
Profissionais de imprensa são agredidos durante manifestação antidemocrática com
a presença de Bolsonaro
Equipe do jornal 'O Estado de São Paulo' sofreu agressão física durante a
cobertura do ato em frente ao Planalto. Este domingo (3) é o Dia Mundial da
Liberdade de Imprensa.
Por G1 — Brasília
03/05/2020 16h50 Atualizado há 23 horas
Fotógrafo Dida Sampaio é agredido por simpatizantes de Bolsonaro em Brasília. —
Foto: Ueslei Marcelino/Reuters Fotógrafo Dida Sampaio é agredido por
simpatizantes de Bolsonaro em Brasília. — Foto: Ueslei Marcelino/Reuters
Profissionais de imprensa foram agredidos em frente ao Palácio do Planalto neste
domingo (3) enquanto cobriam o ato em apoio ao governo Jair Bolsonaro e com
pautas antidemocráticas e inconstitucionais. A equipe do jornal ‘'O Estado de
São Paulo' foi atingida por chutes, murros, empurrões e rasteiras. Este domingo
é o Dia Mundial da Liberdade de Imprensa.
Bolsonaro participou do ato e cumprimentou apoiadores que defendiam pautas
inconstitucionais e antidemocráticas, como pedidos de fechamento do Congresso e
do Supremo Tribunal Federal (STF) e intervenção militar.
Em transmissão do protesto nas redes sociais, o presidente disse que tem "as
Forças Armadas ao lado do povo" e que "não vai aceitar mais interferência".
Disse, ainda, que pede a "Deus que não tenhamos problemas nesta semana, porque
chegamos no limite". Ele não explicou o que pretende fazer para evitar tais
interferências ou qual seria o "limite" citado.
Bolsonaro volta a apoiar ato antidemocrático contra o STF e o Congresso, em
Brasília
Durante o ato, jornalistas de diversos veículos foram agredidos e hostilizados
por participantes do protesto. Um motorista do "Estadão", que dava apoio à
equipe de reportagem, foi atingido por uma rasteira. O fotógrafo Dida Sampaio,
do mesmo jornal, foi empurrado e sofreu chutes e murros.
Ao todo, um fotógrafo, dois jornalistas e o motorista do jornal foram
hostilizados e agredidos, verbal ou fisicamente. Segundo o veículo, eles
deixaram o local para uma área segura, buscaram a ajuda da Polícia Militar e
passam bem.
Além do "Estadão", houve agressão e ofensa a equipes da "Folha de S.Paulo", do
jornal O Globo e do site "Poder360".
Fotógrafo Dida Sampaio é agredido por simpatizantes de Bolsonaro em Brasília. —
Foto: Ueslei Marcelino/Reuters Fotógrafo Dida Sampaio é agredido por
simpatizantes de Bolsonaro em Brasília. — Foto: Ueslei Marcelino/Reuters
Reação
Juristas, políticos e entidades reagiram a mais uma participação de Bolsonaro em
ato antidemocrático e às agressões no Dia Mundial da Liberdade de Imprensa.
Veja notas das entidades de imprensa:
Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj)
"Publicamos hoje uma noticia-manifesto sobre o Dia Mundial da Liberdade de
Imprensa. Lá citamos o levantamento das agressões do ano e os casos ocorridos
dia 1 e 2.
Nossa posição é de condenação a toda e qualquer agressão a jornalistas. Hoje
foram dois repórteres fotográficos agredidos em Brasília. Repudiamos todas elas
e pedimos o apoio da sociedade ao jornalismo e aos jornalistas."
Associação Brasileira de Imprensa (ABI)
"Hoje, 3 de maio, Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, ironicamente, mais uma
vez jornalistas e profissionais de imprensa no Brasil sofreram agressões verbais
e físicas por parte de seguidores do presidente Jair Bolsonaro. Em Brasília,
manifestantes agrediram com chutes, murros e empurrões profissionais do jornal
'O Estado de São Paulo'.
O fotógrafo Dida Sampaio registrava imagens do presidente em frente à rampa do
Palácio do Planalto, em uma pequena escada na área restrita para a imprensa,
quando foi empurrado por manifestantes, que lhe desferiram chutes e murros. O
motorista do jornal, Marcos Pereira, levou uma rasteira. Os profissionais
deixaram o local escoltados pela PM. Repórteres foram insultados.
Esses atos violentos são mais graves porque não há, de parte do presidente ou de
autoridades do governo, qualquer condenação a eles. Pelo contrário, é o próprio
presidente e seus ministros que incitam as agressões contra a imprensa e seus
profissionais.
A Associação Brasileira de Imprensa (ABI) se solidariza com os agredidos e mais
uma vez protesta e chama a atenção da sociedade brasileira para a perigosa
escalada da agressividade e da violência dos seguidores do presidente Bolsonaro,
não só em relação a profissionais de imprensa como a autoridades da República e
opositores."
Associação Nacional de Jornais (ANJ)
"A Associação Nacional de Jornais (ANJ) condena veementemente as agressões
sofridas por jornalistas e pelo motorista do jornal O Estado de S.Paulo quando
cobriam os atos realizados neste domingo (3) em Brasília.
Além de atentarem de maneira covarde contra a integridade física saqueles que
exerciam sua atividade profissional, os agressores atacaram frontalmente a
própria liberdade de imprensa. Atentar contra o livre exercício da atividade
jornalística é ferir também o direito dos cidadãos de serem livremente
informados.
A ANJ espera que as autoridades responsáveis identifiquem os agressores, que
eles sejam levados à Justiça e punidos na forma da lei."
Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo e Observatório da Liberdade de
Imprensa da OAB
"Tais agressões são incentivadas pelo comportamento e pelo discurso do
presidente Jair Bolsonaro. Seus ataques aos meios de comunicação, teorias
conspiratórias e comportamento ofensivo fomentam um clima de hostilidade à
imprensa, além de servirem de exemplo e legitimarem o comportamento criminoso de
seus apoiadores. É inaceitável que militantes favoráveis ao governo saiam às
ruas com objetivo expresso de intimidar os profissionais de imprensa, quando o
próprio governo federal definiu o jornalismo como atividade essencial durante a
pandemia.
A deterioração da liberdade de imprensa, fomentada por autoridades eleitas e
servidores públicos, é um risco grave para a democracia. A Abraji e o
Observatório da Liberdade de Imprensa da OAB cobram das instituições
republicanas que protejam o direito da sociedade à informação. Os três poderes,
nas três esferas, não podem se mostrar passivos diante da violência física e
simbólica contra os jornalistas, e devem punir agressões e reagir aos discursos
antidemocráticos."
Jornal "O Estado de S. Paulo"
"A diretoria e os jornalistas de O Estado de S. Paulo repudiam veementemente os
atos de violência cometidos hoje contra sua equipe de jornalistas durante uma
manifestação diante do Palácio do Planalto em apoio ao presidente Jair Bolsonaro.
Trata-se de uma agressão covarde contra o jornal, a imprensa e a democracia. A
violência, mesmo vinda da copa e dos porões do poder, nunca nos intimidou.
Apenas nos incentiva a prosseguir com as denúncias dos atos de um governo que,
eleito em processo democrático, menos de um ano e meio depois dá todos os
sinais de que se desvia para o arbítrio e a violência.
Dada a natureza dos acontecimentos deste domingo, esperamos que a apuração penal
e civil das agressões seja conduzida por agentes públicos independentes, não
vinculados às autoridades federais que, pela ação e pela omissão, se acumpliciam
com o processo em curso de sabotagem do regime democrático."
"É inaceitável, é inexplicável que ainda tenhamos cidadãos que não entenderam
que o papel de um profissional da imprensa é o papel que garante, a cada um de
nós, poder ser livre", disse a ministra do STF Cármen Lúcia.
Ana Flor: Presidente tem que esclarecer o que quis dizer com ‘chegamos no
limite’
<https://g1.globo.com/politica/noticia/2020/05/03/profissionais-de-imprensa-sao-agredidos-durante-manifestacao-antidemocratica-com-a-presenca-de-bolsonaro.ghtml>
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