PASSEATA DE 16 DE MAIO
A Passeata de 16 de maio trata-se de
um ato político ocorrido em 16 de maio de 2001, em Salvador, Bahia, contra o
então senador Antônio Carlos Magalhães. A passeata contou com mais de oito
mil pessoas, entre sindicalistas e principalmente estudantes, a maioria
secundarista. O movimento foi brutalmente reprimido pela Polícia Militar da
Bahia no campus da Universidade Federal da Bahia, bairro do Canela.[1]
Histórico
Em 2001, ganhou repercussão a denúncia de que Antônio Carlos Magalhães teria
cometido violação do painel eletrônico do Senado Federal do Brasil. Enquanto
preparava sua renúncia para não ser cassado, diversas personalidades baianas,
como a dançarina Carla Perez e a cantora Gal Costa, passaram a defendê-lo
publicamente nos órgãos de comunicação detidos pelo político baiano.
Temerosos de que se criasse a impressão de uma Bahia pró-carlismo, diversos
movimentos, incluindo sindicais, anarco-punks e estudantis, realizaram uma
passeata no dia 10 de maio, com objetivo de chegar ao edifício Stella Maris,
residência de Antônio Carlos Magalhães, e promover uma lavagem simbólica de suas
escadarias. No entanto, os quase três mil manifestantes
foram detidos pela Polícia Militar, sendo duramente reprimidos com gás
lacrimogêneo e espancamentos em plenas ruas do bairro do Campo Grande,
no centro da cidade. Alguns membros do movimento chegaram a ser detidos. O ato
foi flagrado pelos principais veículos de comunicação do estado, exceto a Rede
Bahia, retransmissora da Rede Globo no estado e de propriedade do senador.
O evento causou revolta e, desafiando ameaças da secretária de segurança do
estado, os manifestantes tornaram a promover uma passeata, desta vez no dia 16,
uma quarta-feira. A estratégia elaborada por uma comissão reunida na sede do
Diretório Central dos Estudantes da UFBA era fazer com que a passeata seguisse
pelo interior do campus da universidade federal, chegando ao edifício Stella
Maris, no bairro da Graça, através de um acesso próximo à Faculdade de Direito.
O fato de se tratar de uma área federal, em tese, impediria a presença de
policiais militares, que por lei são proibidos de exercer suas funções nestes
locais.
Com a chegada do dia 16, pela manhã, mais de oito mil pessoas seguiram o trajeto
escolhido. Ao chegarem ao então viaduto Nelson Sampaio (rebatizado como viaduto
16 de Maio), já se encontrava, em torno da Faculdade de Direito e no vale do
canela, uma força composta por centenas de homens da Polícia Militar da Bahia,
contendo tropa de choque e cavalaria, em plena área federal, uma infração legal
nunca antes vista, mesmo nos tempos de ditadura.
Durante quase uma hora, políticos de esquerda tentaram estabelecer uma
negociação para permitir o prosseguimento do movimento, via bairro da Graça, sem
sucesso. Já no período da tarde, após horas de espera por algum acordo, a
Polícia Militar ofereceu aos líderes do movimento a opção de contornarem o
bloqueio e se dirigirem ao vale do canela, descendo o viaduto.
Contudo, logo após tal medida, veio a ordem para que os PM's dispersassem os
manifestantes, quando estes se dirigiam ao vale do canela, sendo que muitos
deles, incluindo estudantes secundaristas, tentaram ultrapassar a barreira
policial e foram gravemente feridos. A passeata se dividiu em três grupos
dispersos: o que retornou pelo mesmo caminho, antes do viaduto Nelson Sampaio, o
que foi compelido a tomar o vale do canela, e o grupo que foi sitiado, pela
Polícia Militar, na Faculdade de Direito da Ufba.
Por quase uma hora e meia a Polícia Militar tentou desalojar estudantes que
armaram barricadas no vale do canela, e os policiais chegaram a invadir algumas
faculdades, como a de Direito, Administração e Medicina, e os Institutos de
Educação e de Ciências da Saúde, destruindo vidraças e outras estruturas da
universidade, buscando reprimir os estudantes.
O evento causou número não verificado de atingidos, mas estima-se que pode ter
alcançado o número de cem feridos, a maior parte entre os manifestantes,
constando alguns casos de lesões graves causadas por estilhaços de bombas,
prolongada exposição a gás pimenta e lacrimogêneo e espancamentos.
A Passeata de 16 de Maio ganhou ainda mais repercussão. A mídia nacional
retratou o episódio como um ato de extrema aberração legal e truculência contra
um movimento público inteiramente legítimo, perpetrado pela Polícia Militar da
Bahia, por ordem da Secretaria de Segurança Pública (então gerida pela
Secretária Kátia Alves) e em função de autorização expressa do governador do
estado na ocasião, César Borges - com respaldo do Senador Antônio Carlos
Magalhães.
No dia seguinte, 17 de maio de 2001, mais de 20 mil manifestantes, incluindo
Heonir Rocha, então reitor da UFBA, resolveram enfrentar novamente as forças do
estado, e marcharam, em ato de repúdio e protesto, ao edifício Stella Maris,
desta vez com sucesso e sem confronto com a polícia.
Referências
«PM baiana usa câmeras em
passeata contra ACM». Estadão. 15 de maio de 2001. Consultado em 24 de novembro
de 2012
Ligações externas
Matéria da TV Ufba sobre o Documentário "Choque"
Matéria da Adusp sobre o episódio de 16 de maio[ligação inativa]
<https://pt.wikipedia.org/wiki/Passeata_de_16_de_maio>
POLÍTICA BRASILEIRA