Fim dos impérios Alemão, Russo,
Otomano e Austro-Húngaro
Criação de novos países na Europa e no Oriente Médio
Transferência das colônias alemãs e das regiões do antigo Império Otomano para
outras potências
Criação da Sociedade das Nações (mais...)
Combatentes
Aliados (Tríplice Entente):
França França
Reino Unido Império Britânico
Red Ensign of South Africa 1912-1928.svg África do Sul
Austrália
Canadá
British Raj Red Ensign.svg Índia britânica
Newfoundland Red Ensign.png Terra Nova
Nova Zelândia
Rodésia do Sul Rodésia do Sul
Rússia Rússia
Reino de Itália Itália
Estados Unidos
Sérvia Sérvia
Japão
Bélgica
Grécia Grécia
Roménia Romênia
Portugal
Brasil Brasil
...e outros Impérios Centrais (Tríplice Aliança):
Império Alemão Alemanha
Grão-Ducado de Baden Baden
Reino da Baviera Baviera
Reino da Prússia Prússia
Reino da Saxônia Saxônia
Reino de Württemberg Württemberg
Áustria-Hungria Áustria-Hungria
Bulgária Bulgária
Império Otomano Império Otomano
...e outros
Comandantes
França Georges Clemenceau
França Raymond Poincaré
França Ferdinand Foch
Reino Unido Jorge V
Reino Unido H. H. Asquith
Reino Unido David Lloyd George
Reino Unido Douglas Haig
Reino Unido Winston Churchill
Rússia Nicolau II
Rússia Nicolau Nikolaevich
Rússia Aleksei Brusilov
Reino de Itália Vítor Emanuel III
Reino de Itália Vittorio Orlando
Reino de Itália Luigi Cadorna
Estados Unidos Woodrow Wilson
Estados Unidos John J. Pershing
Portugal Sidónio Pais
Brasil Venceslau Brás Império Alemão Guilherme II
Império Alemão Paul von Hindenburg
Império Alemão Erich Ludendorff
Império Alemão Erich von Falkenhayn
Império Alemão Helmuth von Moltke
Áustria-Hungria Francisco José I
Áustria-Hungria Carlos I
Áustria-Hungria Conrad von Hötzendorf
Áustria-Hungria Arz von Straußenburg
Império Otomano Mehmed V
Império Otomano İsmail Enver
Império Otomano Mehmed Talat
Império Otomano Ahmed Djemal
Império Otomano Mustafa Atatürk
Bulgária Fernando I
Bulgária Nikola Zhekov
Forças
42.959.850 soldados1 25.248.321 soldados1
Baixas
Mortes militares: 5 milhões
Mortes civis: 6 milhões
Total: 11 milhões Mortes militares: 4 milhões
Mortes civis: 4 milhões
Total: 8 milhões
Primeira Guerra Mundial (também conhecida como Grande Guerra ou Guerra das
Guerras até o início da Segunda Guerra Mundial) foi uma guerra global centrada
na Europa, que começou em 28 de julho de 1914 e durou até 11 de novembro de
1918. O conflito envolveu as grandes potências de todo o mundo,2 que
organizaram-se em duas alianças opostas: os aliados (com base na Tríplice
Entente entre Reino Unido, França e Império Russo) e os Impérios Centrais
(originalmente Tríplice Aliança entre Império Alemão, Áustria-Hungria e Itália;
mas como a Áustria-Hungria tinha tomado a ofensiva contra o acordo, a Itália não
entrou em guerra).3 Estas alianças reorganizaram-se (a Itália lutou pelos
Aliados) e expandiram-se em mais nações que entraram na guerra. Em última
análise, mais de 70 milhões de militares, incluindo 60 milhões de europeus,
foram mobilizados em uma das maiores guerras da história.4 5 Mais de 9 milhões
de combatentes foram mortos, em grande parte por causa de avanços tecnológicos
que determinaram um crescimento enorme na letalidade de armas, mas sem melhorias
correspondentes em proteção ou mobilidade. Foi o sexto conflito mais mortal na
história da humanidade e que posteriormente abriu caminho para várias mudanças
políticas, como revoluções em muitas das nações envolvidas.6
Entre as causas da guerra inclui-se as políticas imperialistas estrangeiras das
grandes potências da Europa, como o Império Alemão, o Império Austro-Húngaro, o
Império Otomano, o Império Russo, o Império Britânico, a Terceira República
Francesa e a Itália. Em 28 de junho de 1914, o assassinato do arquiduque
Francisco Fernando da Áustria, o herdeiro do trono da Áustria-Hungria, pelo
nacionalista iugoslavo Gavrilo Princip, em Sarajevo, na Bósnia, foi o gatilho
imediato da guerra, o que resultou em um ultimato Habsburgo contra o Reino da
Sérvia.7 8 Diversas alianças formadas ao longo das décadas anteriores foram
invocadas, assim, dentro de algumas semanas, as grandes potências estavam em
guerra; através de suas colônias, o conflito logo se espalhou ao redor do
planeta.
Em 28 de julho, o conflito iniciou-se com a invasão austro-húngara da Sérvia,9
10 seguida pela invasão alemã da Bélgica, Luxemburgo e França, e um ataque russo
contra a Alemanha. Depois da marcha alemã em Paris ter levado a um impasse, a
Frente Ocidental estabeleceu-se em uma batalha de atrito estático com uma linha
de trincheiras que pouco mudou até 1917. Na Frente Oriental, o exército russo
lutou com sucesso contra as forças austro-húngaras, mas foi forçado a recuar da
Prússia Oriental e da Polônia pelo exército alemão. Frentes de batalha
adicionais abriram-se depois que o Império Otomano entrou na guerra em 1914,
Itália e Bulgária em 1915 e a Romênia em 1916. O Império Russo entrou em colapso
em março de 1917 e a Rússia deixou a guerra após a Revolução de Outubro, mais
tarde naquele ano. Depois de uma ofensiva alemã em 1918 ao longo da Frente
Ocidental, os Aliados forçaram o recuo dos exércitos alemães em uma série de
ofensivas de sucesso e as forças dos Estados Unidos começaram a entrar nas
trincheiras. A Alemanha, que teve o seu próprio problema com os revolucionários,
neste ponto, concordou com um cessar-fogo em 11 de novembro de 1918, episódio
mais tarde conhecido como Dia do Armistício. A guerra terminou com a vitória dos
Aliados.
Eventos nos conflitos locais eram tão tumultuados quanto nas grandes frentes de
batalha, e os participantes tentaram mobilizar a sua mão de obra e recursos
econômicos para lutar uma guerra total. Até o final da guerra, quatro grandes
potências imperiais — os impérios Alemão, Russo, Austro-Húngaro e Otomano —
deixaram de existir. Os Estados sucessores dos dois primeiros perderam uma
grande quantidade de seu território, enquanto os dois últimos foram
completamente desmontados. O mapa da Europa central foi redesenhado em vários
países menores.11 A Liga das Nações (organização precursora das Nações Unidas)
foi formada na esperança de evitar outro conflito dessa magnitude. Há consenso
de que o nacionalismo europeu provocado pela guerra, a separação dos impérios,
as repercussões da derrota da Alemanha e os problemas com o Tratado de Versalhes
foram fatores que contribuíram para o início da Segunda Guerra Mundial.12
...
Antecedentes
Ver artigo principal: Causas da Primeira Guerra Mundial
No século XIX, as grandes potências europeias tinham percorrido um longo caminho
para manter o equilíbrio de poder em toda a Europa, resultando na existência de
uma complexa rede de alianças políticas e militares em todo o continente por
volta de 1900.3 Estes começaram em 1815, com a Santa Aliança entre Reino da
Prússia, Império Russo e Império Austríaco. Então, em outubro de 1873, o
chanceler alemão Otto von Bismarck negociou a Liga dos Três Imperadores (em
alemão: Dreikaiserbund) entre os monarcas da Áustria-Hungria, Rússia e Alemanha.
Este acordo falhou porque a Áustria-Hungria e a Rússia tinham interesses
conflitantes nos Bálcãs, o que fez com que a Alemanha e Áustria-Hungria
formassem uma aliança em 1879, chamada de Aliança Dua. Isto foi visto como uma
forma de combater a influência russa nos Bálcãs, enquanto o Império Otomano
continuava a se enfraquecer.3 Em 1882, esta aliança foi ampliada para incluir a
Itália no que se tornou a Tríplice Aliança.13
Depois de 1870, um conflito europeu foi evitado em grande parte através de uma
rede de tratados cuidadosamente planejada entre o Império Alemão e o resto da
Europa e orquestrada por Bismarck. Ele trabalhou especialmente para manter a
Rússia ao lado da Alemanha, para evitar uma guerra de duas frentes com a França
e a Rússia. Quando Guilherme II subiu ao trono como imperador alemão (kaiser),
Bismarck foi obrigado a se aposentar e seu sistema de alianças foi gradualmente
enfatizado. Por exemplo, o kaiser se recusou a renovar o Tratado de Resseguro
com a Rússia em 1890. Dois anos mais tarde, a Aliança Franco-Russa foi assinada
para contrabalançar a força da Tríplice Aliança. Em 1904, o Reino Unido assinou
uma série de acordos com a França, a Entente Cordiale, e em 1907, o Reino Unido
e a Rússia assinaram a Convenção Anglo-Russa. Embora estes acordos não tenham
aliado o Reino Unido com a França ou a Rússia formalmente, eles fizeram a
entrada britânica em qualquer conflito futuro envolvendo a França ou a Rússia e
o sistema de intertravamento dos acordos bilaterais se tornou conhecido como a
Tríplice Entente.3
HMS Dreadnought. Uma corrida armamentista naval existia entre o Reino Unido e o
Império Alemão.
O poder industrial e econômico dos alemães havia crescido muito depois da
unificação e da fundação do império em 1871. Desde meados da metade dos anos
1890, o governo de Guilherme II usou essa base para dedicar significativos
recursos econômicos para a edificação do Kaiserliche Marine (em português:
Marinha Imperial alemã), criada pelo almirante Alfred von Tirpitz, em rivalidade
com a Marinha Real Britânica na supremacia naval mundial.14 Como resultado, cada
nação se esforçou construir o outro em termos de navios importantes. Com o
lançamento do HMS Dreadnought em 1906, o Império Britânico expandiu a sua
vantagem sobre seu rival alemão.14 A corrida armamentista entre Reino Unido e
Alemanha, eventualmente ampliada ao resto da Europa, com todas as grandes
potências dedicando a sua base industrial para produzir o equipamento e as armas
necessárias para um conflito pan-europeu.15 Entre 1908 e 1913, os gastos
militares das potências europeias aumentou em 50%.16
A Áustria-Hungria precipitou a crise bósnia de 1908-1909 por anexar oficialmente
o antigo território otomano da Bósnia e Herzegovina, que ocupava desde 1878.
Isto irritou o Reino da Sérvia e seu patrono, o pan-eslavo e ortodoxo Império
Russo.17 A manobra política russa na região desestabilizou os acordos de paz,
que já estavam enfraquecidos, no que ficou conhecido como "o barril de pólvora
da Europa".17
Em 1912 e 1913, a Primeira Guerra Balcânica foi travada entre a Liga Balcânica e
o fragmentado Império Otomano. O Tratado de Londres resultante ainda encolheu o
Império Otomano, com a criação de um Estado independente albanês, enquanto
ampliou as explorações territoriais da Bulgária, Sérvia, Montenegro e Grécia.
Quando a Bulgária atacou a Sérvia e a Grécia em 16 de junho de 1913, ela perdeu
a maior parte da Macedônia à Sérvia e Grécia e Dobruja do Sul para a Romênia
durante a Segunda Guerra Balcânica, desestabilizando ainda mais a região.18
Crise de julho
Ver artigo principal: Ultimato de julho
Gavrilo Princip, um estudante sérvio da Bósnia, foi preso logo depois de
assassinar o arquiduque Francisco Fernando da Áustria-Hungria.
Em 28 de junho de 1914, Gavrilo Princip, um estudante sérvio-bósnio e membro da
Jovem Bósnia, assassinou o herdeiro do trono austro-húngaro, o arquiduque
Francisco Fernando da Áustria, em Sarajevo, na Bósnia.19 Isto iniciou um mês de
manobras diplomáticas entre Áustria-Hungria, Alemanha, Rússia, França e Reino
Unido, no que ficou conhecido como a Crise de Julho. Querendo finalmente acabar
com a interferência sérvia na Bósnia — a Mão Negra tinha fornecido bombas e
pistolas, treinamento e ajuda a Princip e seu grupo para atravessar a fronteira
e os austríacos estavam corretos para acreditar que os oficiais e funcionários
sérvios estavam envolvidos20 — a Áustria-Hungria entregou o Ultimato de Julho
para a Sérvia, uma série de dez reivindicações criadas, intencionalmente, para
serem inaceitáveis, com a intenção de provocar uma guerra com a Sérvia.21 Quando
a Sérvia concordou com apenas oito das dez reivindicações, a Áustria-Hungria
declarou guerra ao país em 28 julho de 1914. Hew Strachan argumenta que "se uma
resposta equivocada e precipitada da Sérvia teria feito alguma diferença para o
comportamento da Áustria-Hungria é algo duvidoso. Francisco Fernando não era o
tipo de personalidade que comandava a popularidade e sua morte não lançou o
império em profundo luto".22
O Império Russo, disposto a permitir que a Áustria-Hungria eliminasse a sua
influência nos Balcãs e em apoio aos seus sérvios protegidos de longa data,
ordenou uma mobilização parcial um dia depois.13 O Império Alemão mobilizou-se
em 30 de julho de 1914, pronto para aplicar o "Plano Schlieffen", que planejava
uma invasão rápida e massiva à França para eliminar o exército francês e, em
seguida, virar a leste contra a Rússia. O gabinete francês resistiu à pressão
militar para iniciar a mobilização imediata e ordenou que suas tropas recuassem
10 km da fronteira, para evitar qualquer incidente. A França só se mobilizou na
noite de 2 de agosto, quando a Alemanha invadiu a Bélgica e atacou tropas
francesas. O Império Alemão declarou guerra à Rússia no mesmo dia.23 O Reino
Unido declarou guerra à Alemanha em 4 de agosto de 1914, após uma "resposta
insatisfatória" para o ultimato britânico de que a Bélgica deveria ser mantida
neutra.24
A guerra
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Ver artigos principais: Frente Ocidental (Primeira Guerra Mundial), Frente
Oriental (Primeira Guerra Mundial), Teatro de operações da Ásia e Pacífico na
Primeira Guerra Mundial e Teatro de operações do Oriente Médio na Primeira
Guerra Mundial
Ver página anexa: Cronologia da Primeira Guerra Mundial
A crise de julho e as declarações de guerra
Participantes da Primeira Guerra Mundial:
Tríplice Entente e os Aliados (alguns entraram na guerra e a abandonaram mais
tarde)
Colônias, domínios ou territórios ocupados pelos Aliados
Impérios Centrais (Tríplice Aliança)
Colônias ou territórios ocupados pelos Impérios Centrais
Países neutros
Após o assassinato do arquiduque Francisco Fernando em 28 de junho, o Império
Austro-Húngaro esperou três semanas antes de decidir tomar um curso de ação.
Essa espera foi devida ao fato de que grande parte do efetivo militar estava a
ajudar a colheita, o que impossibilitava a ação militar naquele período. Em 23
de julho, graças ao apoio incondicional alemão (carta branca) ao Império
Austro-Húngaro se a guerra eclodisse, o Ultimato de julho foi mandado à Sérvia,
e que continha várias requisições, entre elas a que agentes austríacos fariam
parte das investigações, e que a Sérvia seria a culpada pelo atentado. O governo
sérvio aceitou todos os termos do ultimato, com exceção da participação de
agentes austríacos, o que na opinião sérvia constituía uma violação de sua
soberania.
Por causa desse termo, rejeitado em resposta sérvia em 26 de julho, o Império
Austro-Húngaro cortou todas as relações diplomáticas com o país e declarou
guerra ao mesmo em 28 de Julho, começando o bombardeio a Belgrado (capital
sérvia) em 29 de julho. No dia seguinte, o Império Russo, que sempre tinha sido
aliado da Sérvia, deu a ordem de locomoção a suas tropas.
O Império Alemão, que tinha garantido apoio ao Império Austro-Húngaro no caso de
uma eventual guerra mandaram um ultimato ao governo do Império Russo para parar
a mobilização de tropas dentro de 12 horas, no dia 31. No primeiro dia de agosto
o ultimato tinha expirado sem qualquer reação russa. A Alemanha então
declarou-lhe guerra. Em 2 de agosto, a Alemanha ocupou Luxemburgo, como o passo
inicial da invasão à Bélgica e do Plano Schlieffen (estratégia de defesa alemã
que previa a invasão da França, Inglaterra e Rússia). A Alemanha tinha enviado
outro ultimato, desta vez à Bélgica, requisitando a livre passagem do exército
alemão rumo à França. Como tal pedido foi recusado, foi declarada guerra à
Bélgica.
Em 3 de agosto, a Alemanha declarou guerra à França, e no dia seguinte invadiu a
Bélgica. Tal ato, violando a soberania belga - que Grã-Bretanha, França e a
própria Alemanha estavam comprometidos a garantir fez com que o Império
Britânico saísse da sua posição neutra e declarasse guerra à Alemanha em 4 de
Agosto.
O início dos confrontos
Ver página anexa: Lista de batalhas da Primeira Guerra Mundial
Algumas das primeiras hostilidades de guerra ocorreram no continente africano e
no oceano Pacífico, nas colônias e territórios das nações europeias. Em Agosto
de 1914, um combinado da França e do Império Britânico invadiu o protetorado
alemão da Togoland, no Togo. Pouco depois, em 10 de agosto, as forças alemãs
baseadas na Namíbia atacaram a África do Sul, que pertencia ao Império
Britânico. Em 30 de agosto, a Nova Zelândia invadiu a Samoa, colônia alemã. Em
11 de setembro, a Força Naval e Expedicionária Australiana desembarcou na ilha
de Neu Pommern (mais tarde renomeada Nova Bretanha), que fazia parte da chamada
Nova Guiné Alemã. O Japão invadiu as colônias micronésias e o porto alemão de
abastecimento de carvão de Qingdao na península chinesa de Shandong. Com isso,
em poucos meses, a Tríplice Entente tinha dominado todos os territórios alemães
no Pacífico. Batalhas esporádicas, porém, ainda ocorriam na África.
Na Europa, o Império Alemão e o Império Austro-Húngaro sofriam de uma mútua
falta de comunicação e desconhecimento dos planos de cada exército. A Alemanha
tinha garantido o apoio à invasão austro-húngara à Sérvia, mas a interpretação
prática para cada um dos lados tinha sido diferente. Os líderes austro-húngaros
acreditavam que a Alemanha daria cobertura ao flanco setentrional contra a
Rússia. A Alemanha, porém, tinha planejado que o Império Austro-Húngaro focasse
a maioria de suas tropas na luta contra a Rússia enquanto combatia a França na
Frente Ocidental. Tal confusão forçou o exército Austro-Húngaro a dividir suas
tropas. Mais da metade das tropas foi combater os russos na fronteira, enquanto
um pequeno grupo foi deslocado para invadir e conquistar a Sérvia.
A batalha da Sérvia
Tropas austríacas executando prisioneiros sérvios.
O exército sérvio submeteu-se a uma estratégia defensiva para conter os
invasores austro-húngaros, o que culminou na Batalha de Cer. Os sérvios ocuparam
posições defensivas no lado sul do rio Drina. Nas duas primeiras semanas os
ataques austro-húngaros foram repelidos causando grandes perdas ao exército das
Potências Centrais. Essa foi a primeira grande vitória da Tríplice Entente na
guerra. As expectativas austro-húngaras de uma vitória fácil e rápida não foram
realizadas e como resultado o Império Austro-Húngaro foi obrigado a manter uma
grande força na fronteira sérvia, enfraquecendo as tropas que batalhavam contra
a Rússia na Frente Oriental.
Exército alemão na Bélgica e França
Assalto francês às posições alemãs em Champagne, França, 1917.
Após invadir o território belga, o exército alemão logo encontrou resistência na
fortificada cidade de Liège. Apesar do exército ter continuado a rápida marcha
rumo à França, a invasão germânica tinha provocado a decisão britânica de
intervir em ajuda a Tríplice Entente. Como signatário do Tratado de Londres, o
Império Britânico estava comprometido a preservar a soberania belga. Para a
Grã-Bretanha os portos de Antuérpia e Oostende eram importantes demais para cair
nas mãos de uma potência continental hostil ao país.25 Para tanto, enviou um
exército para a Bélgica, atrasando o avanço alemão.
Inicialmente os mesmos tiveram uma grande vitória na Batalha das Fronteiras (14
de agosto a 24 de agosto de 1914). A Rússia, porém, atacou a Prússia Oriental, o
que obrigou o deslocamento das tropas alemãs que estavam planejadas para ir a
Frente Ocidental. A Alemanha derrotou a Rússia em uma série de confrontos
chamados da Segunda Batalha de Tannenberg (17 de agosto a 2 de setembro de
1914). O deslocamento imprevisto para combater os russos, porém, acabou
permitindo uma contra-ofensiva em conjunto das forças francesas e inglesas, que
conseguiram parar os alemães em seu caminho para Paris, na Primeira Batalha do
Marne (Setembro de 1914), forçando o exército alemão a lutar em duas frentes. O
mesmo se postou numa posição defensiva dentro da França e conseguiu incapacitar
permanentemente 230.000 franceses e britânicos.
A guerra das trincheiras
Ver artigo principal: Guerra de trincheiras
Nas trincheiras: Infantaria com mascáras de gás, Ypres, 1917.
Os avanços na tecnologia militar significaram na prática um poder de fogo
defensivo mais poderoso que as capacidades ofensivas, tornando a guerra
extremamente mortífera. O arame farpado era um constante obstáculo para os
avanços da infantaria; a artilharia, muito mais letal que no século XIX, armada
com poderosas metralhadoras. Os alemães começaram a usar gás cloro em 1915, no
que foi a primeira utilização de armas químicas26 , e logo depois ambos os lados
usavam da mesma estratégia. Nenhum dos lados ganhou a guerra pelo uso de tal
artifício, mas eles tornaram a vida nas trincheiras ainda mais miserável
tornando-se um dos mais temidos e lembrados horrores de guerra.
Numa nota curiosa, temos que no início da guerra, chegando a primeira época
natalícia, se encontram relatos de os soldados de ambos os lados cessarem as
hostilidades e mesmo saírem das trincheiras e cumprimentarem-se (trégua de
Natal). Isto ocorreu sem o consentimento do comando, no entanto, foi um evento
único. Não se repetiu posteriormente por diversas razões: o número demasiado
elevado de baixas aumentou os sentimentos de ódio dos soldados e o comando,
dados os acontecimentos do primeiro ano, tentou usar esta altura para fazer
propaganda, o que levou os soldados a desconfiar ainda mais uns dos outros.
A alimentação era sobretudo à base de carne, vegetais enlatados e biscoitos,
sendo os alimentos frescos uma raridade.
Fim da guerra
A partir de 1917, a situação começou a alterar-se, quer com a entrada em cena de
novos meios, como o carro de combate e a aviação militar, quer com a chegada ao
teatro de operações europeu das forças estadunidenses ou a substituição de
comandantes por outros com nova visão da guerra e das tácticas e estratégias
mais adequadas; lançam-se, de um lado e de outro, grandes ofensivas, que causam
profundas alterações no desenho da frente, acabando por colocar as tropas alemãs
na defensiva e levando por fim à sua derrota. É verdade que a Alemanha adquire
ainda algum fôlego quando a revolução estala no Império Russo e o governo
bolchevista, chefiado por Lênin, prontamente assina a paz sem condições,
(Tratado de Brest-Litovski) assim anulando a frente leste, mas essa
circunstância não será suficiente para evitar a derrota. O armistício que pôs
fim à guerra foi assinado a 11 de novembro de 1918.
Participação de países lusófonos
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Brasil
Ver artigo principal: Brasil na Primeira Guerra Mundial
O nono presidente do Brasil, Venceslau Brás, declara guerra aos Poderes
Centrais. Ao seu lado, o ministro interino das Relações Exteriores Nilo Peçanha
(em pé) e o presidente de Minas Gerais, Delfim Moreira (sentado).
No Brasil, o confronto foi conhecido popularmente, até a Segunda Guerra Mundial,
como a "Guerra de 14", em alusão a 1914. No dia 5 de abril de 1917, o vapor
brasileiro "Paraná", que navegava de acordo com as exigências feitas a países
neutros, foi torpedeado, supostamente por um submarino alemão. No dia 11 de
abril o Brasil rompeu relações diplomáticas com os países do bloco liderado pela
Alemanha. Em 20 de maio, o navio "Tijuca" foi torpedeado perto da costa
francesa. Nos meses seguintes, o governo brasileiro confiscou 42 navios alemães,
austro-húngaros e turco-otomanos que estavam em portos brasileiros, como uma
indenização de guerra.
No dia 23 de outubro de 1917, o cargueiro nacional "Macau", um dos navios
arrestados, foi torpedeado por um submarino alemão, perto da costa da Espanha, e
seu comandante feito prisioneiro. Com a pressão popular contra a Alemanha, no
dia 26 de outubro de 1917, o país declarou guerra aos Poderes Centrais.
A partir deste momento, por um lado, sob a liderança de políticos como Ruy
Barbosa, recrudesceram agitações de caráter nacionalista, com comícios exigindo
a "imperiosa necessidade de se apoiar os Aliados com ações" para por fim ao
conflito. Por outro lado, sindicalistas, anarquistas e intelectuais como
Monteiro Lobato criticavam essa postura e a possibilidade de grande convocação
militar, pois segundo estes, entre outros efeitos negativos isto desviava a
atenção do país em relação a seus problemas internos.
Assim, devido a várias razões, de conflitos internos à falta de uma estrutura
militar adequada, a participação militar do Brasil no conflito foi muito
pequena; resumindo-se no envio ao front ocidental em 1918 de um grupo de
aviadores (do Exército e da Marinha) que foram integrados à Força Aérea Real
Britânica, e de um corpo médico-militar composto por oficiais e sargentos do
exército, que foram integrados ao exército francês, tendo seus membros tanto
prestado serviços na retaguarda, como participado de combates no front. À
Marinha coube a maior participação militar brasileira no conflito, com o envio
de uma esquadra naval com a incumbência de patrulhar a costa noroeste da África
a partir de Dakar, e o Mediterrâneo desde o estreito de Gibraltar, evitando a
ação de submarinos inimigos.27
Portugal
Ver artigo principal: Portugal na Primeira Guerra Mundial
Monumento aos mortos da Primeira Guerra Mundial no Porto, Portugal.
Portugal participou no primeiro conflito mundial ao lado dos Aliados, o que
estava de acordo com as orientações da república ainda recentemente instaurada.
Na primeira etapa do conflito, Portugal participou, militarmente, na guerra com
o envio de tropas para a defesa das colónias africanas ameaçadas pela Alemanha.
Face a este perigo e sem declaração de guerra, o governo português enviou
contingentes militares para Angola e Moçambique.
Em março de 1916, apesar das tentativas da Inglaterra para que Portugal não se
envolvesse no conflito, o antigo aliado decidiu pedir ao estado português o
apresamento de todos os navios germânicos na costa lusitana. Esta atitude
justificou a declaração oficial de guerra a Portugal pela Alemanha, a 9 de março
de 1916 (apesar dos combates em África desde 1914).
Em 1917, as primeiras tropas portuguesas, do Corpo Expedicionário Português,
seguiam para a guerra na Europa, em direcção a Flandres. Portugal envolveu-se,
depois, em combates em França.
Neste esforço de guerra, chegaram a estar mobilizados quase 200 mil homens. As
perdas atingiram quase 10 mil mortos e milhares de feridos, além de custos
económicos e sociais gravemente superiores à capacidade nacional. Os objectivos
que levaram os responsáveis políticos portugueses a entrar na guerra saíram
gorados na sua totalidade. A unidade nacional não seria conseguida por este meio
e a instabilidade política acentuar-se-ia até à queda do regime democrático em
1926.
Consequências
Mais informações: Causas da Segunda Guerra Mundial, Dolchstoßlegende e Período
entre-guerras
Efeitos sócio-econômicos
Cemitério e ossário de Douaumont, na França, onde estão os restos mortais de
mais de 130 mil soldados desconhecidos.
Nenhuma outra guerra mudou o mapa da Europa de forma tão dramática. Quatro
impérios desapareceram após o fim do conflito: o Alemão, o Austro-Húngaro, o
Otomano e o Russo.
Quatro dinastias, juntamente com as aristocracias que as apoiavam, caíram após a
guerra: os Hohenzollern, os Habsburgos, os Romanov e os Otomanos. Países como a
Bélgica e a Sérvia passaram por destruições severas, assim como a França, que
perdeu 1,4 milhão de soldados,28 sem contar as vítimas civis. A Alemanha e
Rússia foram igualmente afetadas.29
A guerra teve consequências econômicas profundas. Dos 60 milhões de soldados
europeus que foram mobilizados entre os anos de 1914 e 1918, 8 milhões foram
mortos, 7 milhões foram incapacitados de maneira permanente e 15 milhões ficaram
gravemente feridos. A Alemanha perdeu 15,1% de sua população masculina ativa, a
Áustria-Hungria perdeu 17,1% e a França perdeu 10,5%.30
Na Alemanha, as mortes de civis foram 474 mil superiores do que em tempo de paz,
em grande parte devido à escassez de alimentos e desnutrição que enfraqueceu a
resistência à doenças.31 Até o final da guerra, a fome matou cerca de 100 mil
pessoas no Líbano.32 As estimativas mais confiáveis sobre o número de vítimas da
fome russa de 1921, apontam a morte de entre 5 e 10 milhões de pessoas.33 Por
volta de 1922, havia entre 4,5 milhões e 7 milhões de crianças de rua na Rússia,
como resultado de quase uma década de devastações causadas pela Primeira Guerra
Mundial, pela Guerra Civil Russa e pela crise de fome subsequente, entre 1920 e
1922.34 Muitos russos anti-soviéticos fugiram do país após a Revolução Russa de
1917; na década 1930, a cidade chinesa de Harbin, no norte do país, recebeu 100
mil russos.35 Outros milhares emigraram para a França, Reino Unido e Estados
Unidos.
Hospital militar de emergência durante a pandemia de gripe espanhola, que matou
cerca de 675 mil pessoas apenas nos Estados Unidos. (Acampamento Funston,
Kansas, 1918)
Na Austrália, os efeitos da guerra sobre a economia não foram menos graves. O
então primeiro-ministro australiano, Billy Hughes, escreveu ao primeiro-ministro
britânico da época, Lloyd George, dizendo: "Você tem nos assegurar que não pode
obter melhores condições. Eu muito me arrependo e espero, mesmo agora, que de
alguma forma possa ser encontrada para garantir um acordo para exigir uma
reparação compatível com os tremendos sacrifícios feitos pelo Império Britânico
e por seus aliados."36 A Austrália recebeu 5.571.720 de libras esterlinas como
forma de reparar os danos causados pela guerra, mas o custo direto da guerra
para os australianos tinha sido de 376.993.052 libras esterlinas e, em meados da
década de 1930, as pensões de repatriação, gratificações de guerra, juros e
encargos de naufrágio eram de 831.280.947 libras.36 Dos cerca de 416 mil
australianos que lutaram na guerra, cerca de 60 mil foram mortos e outros 152
mil ficaram feridos.37
Doenças floresceram nas condições caóticas da guerra. Apenas em 1914, piolhos
infectados pelo tifo epidêmico matou 200 mil pessoas na Sérvia.38 Entre 1918 e
1922, a Rússia tinha cerca de 25 milhões de infecções e 3 milhões de mortes por
tifo.39 Considerando que antes da Primeira Guerra Mundial a Rússia registrava
cerca 3,5 milhão de casos da malária, após o conflito seu povo sofreu com mais
de 13 milhões de casos em 1923.40 Além disso, a grande epidemia de gripe em 1918
se espalhou pelo mundo. No geral, a pandemia de gripe espanhola matou ao menos
50 milhões de pessoas.41 42
O lobby feito por Chaim Weizmann e o medo de que os judeus estadunidenses
incentivassem os Estados Unidos a apoiar a Alemanha culminaram na Declaração
Balfour de 1917, feita pelo governo britânico e que endossava a criação de uma
pátria judaica na Palestina.43 Um total de mais de 1.172.000 soldados judeus
serviram nas forças Aliadas e nas forças dos Impérios Centrais na Primeira
Guerra Mundial, incluindo 275 mil na Áustria-Hungria e 450 mil na Rússia
czarista.44
A desorganização social e a violência generalizada da Revolução Russa de 1917 e
da Guerra Civil Russa que se seguiu provocou mais de 2.000 pogroms no antigo
Império Russo, principalmente na Ucrânia.45 Estima-se que entre 60 mil e 200 mil
judeus civis foram mortos nas atrocidades.46
No rescaldo da Primeira Guerra Mundial, a Grécia lutou contra nacionalistas
turcos liderados por Mustafa Kemal, uma guerra que resultou em uma enorme troca
populacional entre os dois países no âmbito do Tratado de Lausanne.47 De acordo
com várias fontes,48 várias centenas de milhares de gregos pônticos morreram
durante este período (ver genocídio grego).49
Tratados de paz e fronteiras nacionais
Ver artigos principais: Dissolução da Áustria-Hungria, Partilha do Império
Otomano, Tratado de Versailles e Revolução Russa de 1917
Após a guerra, a Conferência de Paz de Paris, em 1919, impôs uma série de
tratados de paz às Potências Centrais, terminando oficialmente com a guerra. O
Tratado de Versalhes de 1919 lidou com a Alemanha e, com base nos Quatorze
Pontos do então presidente estadunidense, Woodrow Wilson, trouxe à existência a
Liga das Nações em 28 de junho de 1919.50 51
Ao assinar o tratado, a Alemanha reconheceu "toda a perda e danos a que os
Aliados, os governos associados e seus nacionais foram submetidos como
consequência da guerra imposta sobre eles pelas agressões da Alemanha e de seus
aliados". Esta cláusula também foi inserido mutatis mutandis para os tratados
assinados pelos outros membros das Potências Centrais. Esta cláusula mais tarde
se tornou conhecido, para os alemães, como a cláusula de culpa da guerra. Os
tratados da Conferência de Paz de Paris também impôs às nações derrotadas que
pagassem reparações aos vencedores. O Tratado de Versalhes causou um enorme
sentimento de amargura no povo alemão, que os movimentos nacionalistas,
especialmente os nazistas, exploraram com uma teoria de conspiração que chamaram
de Dolchstoßlegende (a "Lenda da Punhalada pelas Costas"). A inflaçãogalopante
na década de 1920 contribuiu para o colapso econômico da República de Weimar e o
pagamento de indenizações foi suspenso em 1931, após a Quebra do Mercado de
Ações de 1929 e o início do período que posteriormente conhecido como Grande
Depressão em todo o mundo.
Refugiados gregos de Esmirna, Turquia, em 1922.
A Áustria-Hungria foi dividida em vários Estados sucessores (como a Áustria, a
Hungria, a Tchecoslováquia e a Iugoslávia), que foram em grande parte, mas não
totalmente, definidos por grupos étnicos. A Transilvânia foi transferida da
Hungria para a Romênia Maior. Os detalhes foram contidos no Tratado de
Saint-Germain-en-Laye e no Tratado de Trianon. Como resultado do Tratado de
Trianon, 3,3 milhões de húngaros ficaram sob domínio estrangeiro. Apesar de 54%
da população do Reino da Hungria ter sido composta por húngaros no período
pré-guerra, apenas 32% de seu território foi deixado para a Hungria. Entre 1920
e 1924, 354 mil húngaros fugiram de antigos territórios húngaros ligados à
Romênia, Tchecoslováquia e Iugoslávia.
O Império Russo, que havia se retirado da guerra em 1917, após a Revolução de
Outubro, perdeu grande parte de sua fronteira ocidental e as nações
recém-independentes da Estônia, Finlândia, Letônia, Lituânia e Polônia foram
esculpidos a partir dela. A Bessarábia foi re-anexada à Romênia Maior, uma vez
que tinha sido um território romeno por mais de mil anos.52
O Império Otomano se desintegrou e muito do seu território fora da Anatólia foi
tomado por várias potências aliadas como protetorados. O núcleo turco foi
reorganizada como a República da Turquia. O Império Otomano deveria ter sido
dividido pelo Tratado de Sèvres, em 1920, mas este tratado nunca foi ratificado
pelo sultão e foi rejeitado pelo Movimento Nacional Turco, levando à guerra de
independência turca e, finalmente, ao Tratado de Lausanne, em 1923.