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VINTE E QUATRO FALÁCIAS LÓGICAS
“Não cometerás nenhuma dessas 24 falácias lógicas”
Fábio Rodrigues
em 03/05/2012 às 11:00 | Cultura e arte, Frentes, Listas
O filósofo, matemático e cientista americano Charles Sanders Peirce fala que as
lógicas são “ferramentas para o raciocínio correto”.
Não sou nenhum grande entendido sobre o assunto, mas acho lógica um assunto
fascinante. O pouco que conheço e observo já acaba sempre sendo muito útil em
conversas, diálogos, em qualquer ocasião que peça algum tipo de análise,
construção e exposição de raciocínio ou argumentação.
Agora, quando falamos “construção e exposição de raciocínio ou argumentação“,
isso pode ficar parecendo uma coisa meio séria, sisuda, de professor de
filosofia ou discussões inflamadas entre ateus e crentes na internet. Mas a
verdade é que fazemos isso o tempo todo. As lógicas são o próprio esqueleto que
torna as linguagens (dos idiomas à matemática, passando, e muito, por tecnologia
da informação) possíveis.
Como de fato dependemos disso pra nos relacionarmos uns com os outros, para nos
fazer entender claramente, melhorar nossa forma de pensar e para resolvermos as
coisas práticas da vida, pode ser bem útil conhecer e entender estes processos,
ainda que superficialmente.
Platão, Sócrates e Aristóteles estão sempre prontos para uma boa argumentação
Já demos algumas pinceladas sobre o tema aqui no PapodeHomem, mencionando
algumas das famosas falácias de lógica argumentativa – que são um capítulo
específico dentro do tema, mas que tem aplicações bem práticas. E estamos também
preparando um novo material, bem completo, tratando não só de lógica, mas das
noções de debate, diálogo e conversação, que são temas relacionados, igualmente
ricos, complexos e comumente pouco explorados.
Agora achei o site Thou Shalt Not Commit Logical Fallacies, o mais simpático que
já vi sobre o assunto. Ele lista as 24 falácias mais comuns, em linguagem
simples, com exemplos engraçadinhos, e tem até um pôster para você baixar em PDF,
mandar imprimir na gráfica e colar na parede. Tudo de graça.
Como em português o material sobre isso é escasso, e esse é um conhecimento bem
importante quando se quer travar diálogos e debates saudáveis, resolvemos fazer
um esforço extra e traduzir todo o conteúdo do Thou Shalt Not… para
disponibilizar aqui.
Abaixo, 24 das mais comuns falácias lógicas argumentativas. A numeração não
indica nenhum tipo de hierarquia entre elas, é apenas para facilitar futuras
referencias a exemplos específicos.
Leia, entenda e não as use.
1. Espantalho
Você desvirtuou um argumento para torná-lo mais fácil de atacar.
Ao exagerar, desvirtuar ou simplesmente inventar um argumento de alguém, fica
bem mais fácil apresentar a sua posição como razoável ou válida. Este tipo de
desonestidade não apenas prejudica o discurso racional, como também prejudica a
própria posição de alguém que o usa, por colocar em questão a sua credibilidade
– se você está disposto a desvirtuar negativamente o argumento do seu oponente,
será que você também não desvirtuaria os seus positivamente?
Exemplo: Depois de Felipe dizer que o governo deveria investir mais em saúde e
educação, Jader respondeu dizendo estar surpreso que Felipe odeie tanto o
Brasil, a ponto de querer deixar o nosso país completamente indefeso, sem verba
militar.
***
2. Causa Falsa
Você supôs que uma relação real ou percebida entre duas coisas significa que uma
é a causa da outra.
Uma variação dessa falácia é a “cum hoc ergo propter hoc” (com isto, logo por
causa disto), na qual alguém supõe que, pelo fato de duas coisas estarem
acontecendo juntas, uma é a causa da outra. Este erro consiste em ignorar a
possibilidade de que possa haver uma causa em comum para ambas, ou, como
mostrado no exemplo abaixo, que as duas coisas em questão não tenham
absolutamente nenhuma relação de causa, e a sua aparente conexão é só uma
coincidência.
Outra variação comum é a falácia “post hoc ergo propter hoc” (depois disto, logo
por causa disto), na qual uma relação causal é presumida porque uma coisa
acontece antes de outra coisa, logo, a segunda coisa só pode ter sido causada
pela primeira.
Exemplo: Apontando para um gráfico metido a besta, Rogério mostra como as
temperaturas têm aumentado nos últimos séculos, ao mesmo tempo em que o número
de piratas têm caído; sendo assim, obviamente, os piratas é que ajudavam a
resfriar as águas, e o aquecimento global é uma farsa.
***
3. Apelo à emoção
Você tentou manipular uma resposta emocional no lugar de um argumento válido ou
convincente.
Apelos à emoção são relacionados a medo, inveja, ódio, pena, orgulho, entre
outros.
É importante dizer que às vezes um argumento logicamente coerente pode inspirar
emoção, ou ter um aspecto emocional, mas o problema e a falácia acontecem quando
a emoção é usada no lugar de um argumento lógico. Ou, para tornar menos claro o
fato de que não existe nenhuma relação racional e convincente para justificar a
posição de alguém.
Exceto os sociopatas, todos são afetados pela emoção, por isso
apelos à emoção
são uma tática de argumentação muito comum e eficiente. Mas eles são falhos e
desonestos, com tendência a deixar o oponente de alguém justificadamente
emocional.
Exemplo: Lucas não queria comer o seu prato de cérebro de ovelha com fígado
picado, mas seu pai o lembrou de todas as crianças famintas de algum país de
terceiro mundo que não tinham a sorte de ter qualquer tipo de comida.
***
4. A falácia da falácia
Supor que uma afirmação está necessariamente errada só porque ela não foi bem
construída ou porque uma falácia foi cometida.
Há poucas coisas mais frustrantes do que ver alguém argumentar de maneira fraca
alguma posição. Na maioria dos casos um debate é vencido pelo melhor debatedor,
e não necessariamente pela pessoa com a posição mais correta. Se formos ser
honestos e racionais, temos que ter em mente que só porque alguém cometeu um
erro na sua defesa do argumento, isso não necessariamente significa que o
argumento em si esteja errado.
Exemplo: Percebendo que Amanda cometeu uma falácia ao defender que devemos comer
alimentos saudáveis porque eles são populares, Alice resolveu ignorar a posição
de Amanda por completo e comer Whopper Duplo com Queijo no Burger King todos os
dias.
***
5. Ladeira Escorregadia
Você faz parecer que o fato de permitirmos que aconteça A fará com que aconteça
Z, e por isso não podemos permitir A.
O problema com essa linha de raciocínio é que ela evita que se lide com a
questão real, jogando a atenção em hipóteses extremas. Como não se apresenta
nenhuma prova de que tais hipóteses extremas realmente ocorrerão, esta falácia
toma a forma de um apelo à emoção do medo.
Exemplo: Armando afirma que, se permitirmos casamentos entre pessoas do mesmo
sexo, logo veremos pessoas se casando com seus pais, seus carros e seus macacos
Bonobo de estimação.
Exemplo 2: a explicação feita após o terceiro subtítulo – “O voto divergente do
ministro Ricardo Lewandowski e a ladeira escorregadia” - deste texto sobre
aborto. Vale a leitura.
***
6. Ad hominem
Você ataca o caráter ou traços pessoais do seu oponente em vez de refutar o
argumento dele.
Ataques ad hominem podem assumir a forma de golpes pessoais e diretos contra
alguém, ou mais sutilmente jogar dúvida no seu caráter ou atributos pessoais. O
resultado desejado de um ataque ad hominem é prejudicar o oponente de alguém sem
precisar de fato se engajar no argumento dele ou apresentar um próprio.
Exemplo: Depois de Salma apresentar de maneira eloquente e convincente uma
possível reforma do sistema de cobrança do condomínio, Samuel pergunta aos
presentes se eles deveriam mesmo acreditar em qualquer coisa dita por uma mulher
que não é casada, já foi presa e, pra ser sincero, tem um cheiro meio estranho.
***
7. Tu quoque (você também)
Você evitar ter que se engajar em críticas virando as próprias críticas contra o
acusador – você responde críticas com críticas.
Esta falácia, cuja tradução do latim é literalmente “você também”, é geralmente
empregada como um mecanismo de defesa, por tirar a atenção do acusado ter que se
defender e mudar o foco para o acusador.
A implicação é que, se o oponente de alguém também faz aquilo de que acusa o
outro, ele é um hipócrita. Independente da veracidade da contra-acusação, o fato
é que esta é efetivamente uma tática para evitar ter que reconhecer e responder
a uma acusação contida em um argumento – ao devolver ao acusador, o acusado não
precisa responder à acusação.
Exemplo: Nicole identificou que Ana cometeu uma falácia lógica, mas, em vez de
retificar o seu argumento, Ana acusou Nicole de ter cometido uma falácia
anteriormente no debate.
Exemplo 2: O político Aníbal Zé das Couves foi acusado pelo seu oponente de ter
desviado dinheiro público na construção de um hospital. Aníbal não responde a
acusação diretamente e devolve insinuando que seu oponente também já aprovou
licitações irregulares em seu mandato.
***
8. Incredulidade pessoal
Você considera algo difícil de entender, ou não sabe como funciona, por isso
você dá a entender que não seja verdade.
Assuntos complexos como evolução biológica através de seleção natural exigem
alguma medida de entendimento sobre como elas funcionam antes que alguém possa
entendê-los adequadamente; esta falácia é geralmente usada no lugar desse
entendimento.
Exemplo: Henrique desenhou um peixe e um humano em um papel e, com desdém
efusivo, perguntou a Ricardo se ele realmente pensava que nós somos babacas o
bastante para acreditar que um peixe acabou evoluindo até a forma humana através
de, sei lá, um monte de coisas aleatórias acontecendo com o passar dos tempos.
***
9. Alegação especial
Você altera as regras ou abre uma exceção quando sua afirmação é exposta como
falsa.
Humanos são criaturas engraçadas, com uma aversão boba a estarem errados.
Em vez de aproveitar os benefícios de poder mudar de ideia graças a um novo
entendimento, muitos inventarão modos de se agarrar a velhas crenças. Uma das
maneiras mais comuns que as pessoas fazem isso é pós-racionalizar um motivo
explicando o porque aquilo no qual elas acreditavam ser verdade deve continuar
sendo verdade.
É geralmente bem fácil encontrar um motivo para acreditar em algo que nos
favorece, e é necessária uma boa dose de integridade e honestidade genuína
consigo mesmo para examinar nossas próprias crenças e motivações sem cair na
armadilha da auto-justificação.
Exemplo: Eduardo afirma ser vidente, mas quando as suas “habilidades” foram
testadas em condições científicas apropriadas, elas magicamente desapareceram.
Ele explicou, então, que elas só funcionam para quem tem fé nelas.
***
10. Pergunta carregada
Você faz uma pergunta que tem uma afirmação embutida, de modo que ela não pode
ser respondida sem uma certa admissão de culpa.
Falácias desse tipo são particularmente eficientes em descarrilar discussões
racionais, graças à sua natureza inflamatória – o receptor da pergunta carregada
é compelido a se justificar e pode parecer abalado ou na defensiva. Esta falácia
não apenas é um apelo à emoção, mas também reformata a discussão de forma
enganosa.
Exemplo: Graça e Helena estavam interessadas no mesmo homem. Um dia, enquanto
ele estava sentado próximo suficiente a elas para ouvir, Graça pergunta em tom
de acusação: “como anda a sua rehabilitação das drogas, Helena?”
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11. Ônus da prova
Você espera que outra pessoa prove que você está errado, em vez de você mesmo
provar que está certo.
O ônus (obrigação) da prova está sempre com quem faz uma afirmação, nunca com
quem refuta a afirmação. A impossibilidade, ou falta de intenção, de provar
errada uma afirmação não a torna válida, nem dá a ela nenhuma credibilidade.
No entanto, é importante estabelecer que nunca podemos ter certeza de qualquer
coisa, portanto devemos valorizar cada afirmação de acordo com as provas
disponíveis. Tirar a importância de um argumento só porque ele apresenta um fato
que não foi provado sem sombra de dúvidas também é um argumento falacioso.
Exemplo: Beltrano declara que uma chaleira está, nesse exato momento, orbitando
o Sol entre a Terra e Marte e que, como ninguém pode provar que ele está errado,
a sua afirmação é verdadeira.
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12. Ambiguidade
Você usa duplo sentido ou linguagem ambígua para apresentar a sua verdade de
modo enganoso.
Políticos frequentemente são culpados de usar ambiguidade em seus discursos,
para depois, se forem questionados, poderem dizer que não estavam tecnicamente
mentindo. Isso é qualificado como uma falácia, pois é intrinsecamente enganoso.
Exemplo: Em um julgamento, o advogado concorda que o crime foi desumano. Logo,
tenta convencer o júri de que o seu cliente não é humano por ter cometido tal
crime, e não deve ser julgado como um humano normal.
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13. Falácia do apostador
Você diz que “sequências” acontecem em fenômenos estatisticamente independentes,
como rolagem de dados ou números que caem em uma roleta.
Esta falácia de aceitação comum é provavelmente o motivo da criação da grande e
luminosa cidade no meio de um deserto americano chamada Las Vegas.
Apesar da probabilidade geral de uma grande sequência do resultado desejado ser
realmente baixa, cada lance do dado é, em si mesmo, inteiramente independente do
anterior. Apesar de haver uma chance baixíssima de um cara-ou-coroa dar cara 20
vezes seguidas, a chance de dar cara em cada uma das vezes é e sempre será de
50%, independente de todos os lances anteriores ou futuros.
Exemplo: Uma roleta deu número vermelho seis vezes em sequência, então Gregório
teve quase certeza que o próximo número seria preto. Sofrendo uma forma
econômica de seleção natural, ele logo foi separado de suas economias.
***
14. Ad populum
Você apela para a popularidade de um fato, no sentido de que muitas pessoas
fazem/concordam com aquilo, como uma tentativa de validação dele.
A falha nesse argumento é que a popularidade de uma ideia não tem absolutamente
nenhuma relação com a sua validade. Se houvesse, a Terra teria se feito plana
por muitos séculos, pelo simples fato de que todos acreditavam que ela era
assim.
Exemplo: Luciano, bêbado, apontou um dedo para Jão e perguntou como é que tantas
pessoas acreditam em duendes se eles são só uma superstição antiga e boba. Jão,
por sua vez, já havia tomado mais Guinness do que deveria e afirmou que já que
tantas pessoas acreditam, a probabilidade de duendes de fato existirem é grande.
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15. Apelo à autoridade
Você usa a sua posição como figura ou instituição de autoridade no lugar de um
argumento válido. (A popular “carteirada”.)
É importante mencionar que, no que diz respeito a esta falácia, as autoridades
de cada campo podem muito bem ter argumentos válidos, e que não se deve
desconsiderar a experiência e expertise do outro.
Para formar um argumento, no entanto, deve-se defender seus próprios méritos, ou
seja, deve-se saber por que a pessoa em posição de autoridade tem aquela
posição. No entanto, é claro, é perfeitamente possível que a opinião de uma
pessoa ou instituição de autoridade esteja errada; assim sendo, a autoridade de
que tal pessoa ou instituição goza não tem nenhuma relação intrínseca com a
veracidade e validade das suas colocações.
Exemplo: Impossibilitado de defender a sua posição de que a teoria evolutiva
“não é real”, Roberto diz que ele conhece pessoalmente um cientista que também
questiona a Evolução e cita uma de suas famosas falas.
Exemplo 2: Um professor de matemática se vê questionado de maneira insistente
por um aluno especialmente chato. Lá pelas tantas, irritado após cometer um
deslize em sua fala, o professor argumenta que tem mestrado pós-doutorado e isso
é mais do que suficiente para o aluno confiar nele.
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16. Composição/Divisão
Você implica que uma parte de algo deve ser aplicada a todas, ou outras, partes
daquilo.
Muitas vezes, quando algo é verdadeiro em parte, isso também se aplica ao todo,
mas é crucial saber se existe evidência de que este é mesmo o caso.
Já que observamos consistência nas coisas, o nosso pensamento pode se tornar
enviesado de modo que presumimos consistência e padrões onde eles não existem.
Exemplo: Daniel era uma criança precoce com uma predileção por pensamento
lógico. Ele sabia que átomos são invisíveis, então logo concluiu que ele, por
ser feito de átomos, também era invisível. Nunca foi vitorioso em uma partida de
esconde-esconde.
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17. Nenhum escocês de verdade…
Você faz o que pode ser chamado de apelo à pureza como forma de rejeitar
críticas relevantes ou falhas no seu argumento.
Nesta forma de argumentação falha, a crença de alguém é tornada infalsificável
porque, independente de quão convincente seja a evidência apresentada, a pessoa
simplesmente move a situação de modo que a evidência supostamente não se aplique
a um suposto “verdadeiro” exemplo. Esse tipo de pós-racionalização é um modo de
evitar críticas válidas ao argumento de alguém.
Exemplo: Angus declara que escoceses não colocam açúcar no mingau, ao que
Lachlan aponta que ele é um escocês e põe açúcar no mingau. Furioso, como um
“escocês de verdade”, Angus berra que nenhum escocês de verdade põe açúcar no
seu mingau.
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18. Genética
Você julga algo como bom ou ruim tendo por base a sua origem.
Esta falácia evita o argumento ao levar o foco às origens de algo ou alguém. É
similar à falácia ad hominem no sentido de que ela usa percepções negativas já
existentes para fazer com que o argumento de alguém pareça ruim, sem de fato
dissecar a falta de mérito do argumento em si.
Exemplo: Acusado no Jornal Nacional de corrupção e aceitação de propina, o
senador disse que devemos ter muito cuidado com o que ouvimos na mídia, já que
todos sabemos como ela pode não ser confiável.
***
19. Preto-ou-branco
Você apresenta dois estados alternativos como sendo as únicas possibilidades,
quando de fato existem outras.
Também conhecida como falso dilema, esta tática aparenta estar formando um
argumento lógico, mas sob análise mais cuidadosa fica evidente que há mais
possibilidades além das duas apresentadas.
O pensamento binário da falácia preto-ou-branco não leva em conta as múltiplas
variáveis, condições e contextos em que existiriam mais do que as duas
possibilidades apresentadas. Ele molda o argumento de forma enganosa e obscurece
o debate racional e honesto.
Exemplo: Ao discursar sobre o seu plano para fundamentalmente prejudicar os
direitos do cidadão, o Líder Supremo falou ao povo que ou eles estão do lado dos
direitos do cidadão ou contra os direitos.
***
20. Tornando a questão supostamente óbvia
Você apresenta um argumento circular no qual a conclusão foi incluída na
premissa.
Este argumento logicamente incoerente geralmente surge em situações onde as
pessoas têm crenças bastante enraizadas, e por isso consideradas verdades
absolutas em suas mentes. Racionalizações circulares são ruins principalmente
porque não são muito boas.
Exemplo: A Palavra do Grande Zorbo é perfeita e infalível. Nós sabemos disso
porque diz aqui no Grande e Infalível Livro das Melhores e Mais Infalíveis
Coisas do Zorbo Que São Definitivamente Verdadeiras e Não Devem Nunca Serem
Questionadas.
Exemplo 2: O plano estratégico de marketing é o melhor possível, foi assinado
pelo Diretor Bam-bam-bam.
***
21. Apelo à natureza
Você argumenta que só porque algo é “natural”, aquilo é válido, justificado,
inevitável ou ideal.
Só porque algo é natural, não significa que é bom. Assassinato, por exemplo, é
bem natural, e mesmo assim a maioria de nós concorda que não é lá uma coisa
muito legal de você sair fazendo por aí. A sua “naturalidade” não constitui
nenhum tipo de justificativa.
Exemplo: O curandeiro chegou ao vilarejo com a sua carroça cheia de remédios
completamente naturais, incluindo garrafas de água pura muito especial. Ele
disse que é natural as pessoas terem cuidado e desconfiarem de remédios
“artificiais”, como antibióticos.
***
22. Anedótica
Você usa uma experiência pessoal ou um exemplo isolado em vez de um argumento
sólido ou prova convincente.
Geralmente é bem mais fácil para as pessoas simplesmente acreditarem no
testemunho de alguém do que entender dados complexos e variações dentro de um
continuum.
Medidas quantitativas científicas são quase sempre mais precisas do que
percepções e experiências pessoais, mas a nossa inclinação é acreditar naquilo
que nos é tangível, e/ou na palavra de alguém em quem confiamos, em vez de em
uma realidade estatística mais “abstrata”.
Exemplo: José disse que o seu avô fumava, tipo, 30 cigarros por dia e viveu até
os 97 anos — então não acredite nessas meta análises que você lê sobre estudos
metodicamente corretos provando relações causais entre cigarros e expectativa de
vida.
***
23. O atirador do Texas
Você escolhe muito bem um padrão ou grupo específico de dados que sirva para
provar o seu argumento sem ser representativo do todo.
Esta falácia de “falsa causa” ganha seu nome partindo do exemplo de um atirador
disparando aleatoriamente contra a parede de um galpão, e, na sequência,
pintando um alvo ao redor da área com o maior número de buracos, fazendo parecer
que ele tem ótima pontaria.
Grupos específicos de dados como esse aparecem naturalmente, e de maneira
imprevisível, mas não necessariamente indicam que há uma relação causal.
Exemplo: Os fabricantes do bebida gaseificada Cocaçúcar apontam pesquisas que
mostram que, dos cinco países onde a Cocaçúcar é mais vendida, três estão na
lista dos dez países mais saudáveis do mundo, logo, Cocaçúcar é saudável.
***
24. Meio-termo
Você declara que uma posição central entre duas extremas deve ser a verdadeira.
Em muitos casos, a verdade realmente se encontra entre dois pontos extremos, mas
isso pode enviezar nosso pensamento: às vezes uma coisa simplesmente não é
verdadeira, e um meio termo dela também não é verdadeiro. O meio do caminho
entre uma verdade e uma mentira continua sendo uma mentira.
Exemplo: Mariana disse que a vacinação causou autismo em algumas crianças, mas o
seu estudado amigo Calebe disse que essa afirmação já foi derrubada como falsa,
com provas. Uma amiga em comum, a Alice, ofereceu um meio-termo: talvez as
vacinas causem um pouco de autismo, mas não muito.
***
Espero que essa lista seja útil.
Por fim, questiono: onde já identificaram falácias lógicas em seu dia-a-dia?
Compartilhem suas dúvidas e percepções sobre o tema.
(Tradução das 24 falácias por: Fabio Bracht)
http://papodehomem.com.br/falacias-logicas/
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