A IMAGEM DE
DEUS
Atualmente há cerca de
dois bilhões de cristãos no mundo. E há países com mais de oitenta por
cento da população professando as crenças cristãs. Para os cristãos,
como para os judeus, a imagem do deus verdadeiro é a imagem humana. Mas muitos
já adoraram deuses com imagem diferente. E a imagem divina sempre foi a de
um animal existente no ambiente de seus adoradores, ou uma mistura de seres
existentes.
Alguém já ouviu dizer
que os povos primitivos das Américas adorasse um deus em forma de elefante? Sem
pesquisar o assunto, posso ter certeza de que não. Com toda certeza, posso
dizer que nunca houve deus em forma de elefante adorado pelos povos
escandinavos. No entanto, na Índia, até hoje adoram um deus em forma de
elefante. Lá, a vaca também é deificada. Mas, com toda certeza,
nunca apareceu nem em sonho um deus em forma elefante ou em forma de vaca para
alguém que tenha nascido em um ambiente onde esses animais não existem. Deus
em forma de serpente existiu entre todos os povos. Por que? Esse animal um
tanto misterioso, que se movimenta com tanta agilidade sem o auxílio de patas,
capaz de matar um ser humano ou mesmo um grande animal com uma simples
mordidinha, só poderia ser visto como algo de sobrenatural por toda parte do
mundo, já que não existe no planeta um lugar sem cobra.
Podemos ter certeza de
que um animal ao ouvir um trovão deve imaginar uma fera quadrúpede muito grande.
Pois nem o rugido de um leão, nem o urro de um elefante, nem a voz de qualquer
outro animal se compara a um trovão. Não devem imaginar uma serpente
gigante, pois serpentes não gritam. Mas aquele primata que
desenvolveu a fala passou a cogitar da existência de divindade em forma de
serpente, dada a sua habilidade incomum. Deuses em forma de aves
também existiram muitos, porque um ser capaz de se movimentar pelo ar tinha algo
de inexplicável.
Um certo dia, lá pelo
Oriente Médio ou no Egito, alguém teve a ideia de supor que essa deusada tão
diversa fosse um engano e que houvesse um deus verdadeiro com a forma humana.
E sua ideia foi bem-sucedida. Um povo bastante belicoso adotou esse deus
único, saiu matando quantos encontrasse pelo caminho adorando outros deuses e
fez com que esse deus ultrapassasse a barreira do desenvolvimento científico e
chegasse a todos os continentes.
Até o reinado de
Yoshiahu (Josias), ao que parece, os hebreus adoravam uma grande quantidade de
deuses. Mas esse Josias adotou um deus denominado Yavé e se incumbiu de
impô-lo ao mundo pela espada. Josias determinou uma reforma no templo,
onde se encontrou um livro sagrado desse deus, livro este que os estudiosos
concluíram que foi montado às pressas por um grupo de escribas do reino, razão
de haver nele tantas contradições. Apesar das numerosas contradições, o
livro teve mais sucesso do que todos os outros ditos procedentes de deuses.
Josias durou pouco, morrendo em uma batalha, mas isso não abalou a fé de seu
povo. Sem o rei que deveria repatriar os israelitas que estavam na
Assíria, seus súditos imaginaram que um próximo rei iria cumprir a missão de
estabelecer aquele reino eterno que seu livro sagrado prometera.
Viveram sob o domínio dos babilônios, onde assimilaram algumas crenças que não
faziam parte das prescrições de Yavé; tiveram a promessa do reino eterno
renovada para após a queda de Babilônia, mas, em vez de estabelecerem o tal
reino, se tornaram súditos dos medos e persas, onde aprenderam mais crenças que
foram incorporando em suas esperanças de sucesso. Do domínio medo-persa,
passaram para o grego; depois disso foram massacrados por um rei sírio herdeiro
da divisão do império grego, mas não perderam a fé. Surgiu um escrito dito
ser de um profeta que vivera nos tempos babilônicos dizendo que os reinos do
mundo lhes seriam entregues após a vitória sobre o exército de Antíoco IV.
Todavia, em vez de estabelecer esse reino, caíram sob o domínio romano.
Não perderam a fé. Continuaram acreditando que derrotariam Roma e tomariam
o poder para sempre. Entretanto, dessa vez o seu fracasso foi tão grande,
que se viram expulsos da terra que tanto acreditaram ser uma dádiva divina. Por
incrível que pareça não perceberam que seu deus não é nada mais do que os deuses
dos povos que os humilharam por tantos séculos.
Seria de se deduzir que
Yavé ficasse no esquecimento após essa derrocada de seus adoradores. Mas
não é o que aconteceu. Dentro do próprio império romano, onde se podiam
adorar tantos deuses, o deus que fracassou em todas as promessas se tornou o
todo-poderoso, e o próprio império, por meio de uma remodelagem da divindade, se
encarregou de implantar esse deus com verdadeiro, abandonando todos os outros
deuses. Com a criação do mito do deus filho, que teria se dado em
sacrifício pela humanidade, acabaram com o monte de sacrifício a Yavé,
inventaram um reino sobrenatural, sem morte e sem sofrimento, com a ressurreição
dos mortos que os judeus havia assimilado dos persas, e a nova doutrina pegou.
A liberdade religiosa acabou, e o deus dos judeus passou a ser imposto ao mundo
pelo império que os expulsara da terra da promessa.
Com a queda do Império
Romano que ficou dividido entre mais de uma dezena de nações, todos eles
cuidaram de continuar impondo esse deus sobre todos. E a colonização do
mundo pelos europeus fez com que esse deus se tornasse o deus único de mais de
um terço do mundo.
Os religiosos nunca
desconfiam da razão por que houve tantos deuses, todos com formas de seres vivos
conhecidos ou mistura de mais de um deles. Não percebem que isso é uma
prova de que deus, seja qual for, existe só na imaginação.
Os cristãos e judeus
parece nunca perceberem que algumas de suas crenças das de maior importância não
existiam quando foi encontrado o livro sagrado na reforma do tempo nos dias de
Josias. Só os saduceus, um grupo dos judeus rejeitam a ressurreição dos
mortos pelo fato de ela não existir no livro sagrado que foi encontrado contendo
as leis de Yavé. Para um grupo de judeus, não crer na ressurreição dos
mortos é possível por uma grande fidelidade ao seu deus original. Mas a
maior parte deles não está se importando com o fato de só terem aprendido a
crença na ressurreição com povo adorador de outros deuses. O cristianismo,
entretanto, não sobreviveria sem essa crença. A única esperança do cristão
é uma nova vida depois desta. Eles também não levam em conta o fato de
Yavé nunca ter prometido ressurreição para Noé, Abraão, Isaque, Jacó, Davi,
Salomão ou qualquer homem escolhido que tenha vivida antes de eles viverem
exilados entre outros povos.
Ao que parece não passa
pela cabeça do cristão esse questionamento: Se o deus dos cristãos é o mesmo que
prometeu aos judeus que eles não seriam atingidos pelas armas dos inimigos, nem
seriam acometidos por enfermidades e não cumpriu; que prometeu aos judeus um
reino eterno em substituição ao império assírio e não cumpriu; que prometeu uma
nova Jerusalém eterna onde eles nunca mais seriam molestados por gentios após a
queda de Babilônia, mas não cumpriu; que prometeu que, após o massacre praticado
por Antíoco IV, os reinos do mundo seriam entregues aos judeus, e não cumpriu; que prometeu que o trono de Davi seria eterno como o
Sol e a Lua, mas não cumpriu; que prometeu que alguns judeus companheiros de
Jesus não morreriam antes de Jesus voltar para estabelecer um reino eterno, e
não cumpriu; como poderíamos acreditar que ele iria dar agora
uma vida eterna após a morte?
Se o deus que tanta
gente acredita ser verdadeiro nunca cumpriu suas supostas promessas e nunca
aparece para ninguém, a melhor conclusão é que os homens primitivos, diante da
incompreensão dos fenômenos da natureza, imaginaram
seres sobrenaturais com aparência de seres reais que eles conheciam e, por
razões políticas, um deus em forma de homem se sobrepôs aos outros; todavia, os
fatos mostram que todos eles não passam de produto da imaginação humana.
Ver mais RAZÕES PARA O ATEÍSMO