A NUDEZ NÃO É MANIA DE HOJE

27/12/2009

 

"Uma reflexão sobre o corpo nu, da Antiguidade aos dias de hoje. Por Ignácio de Loyola Brandão

O corpo humano está por todo lado, generosamente despido em filmes, televisão, revistas. Somos bombardeados pro imagens corporais que nos ditam como ser, que modelo copiar, o que pensar de nós mesmos, como nos enxergar. Isto é novo, é moderno? Não, tudo já estava na Grécia clássica, que impôs a escultura grega como ideal do corpo.  A nudez é mania dos dias atuais? Não! Ela era essencial na cultura antiga.  O corpo nu, todavia, não significa exatamente um apelo ao erotismo e sim uma condição natural, um estado em que era impossível definir o status, a condição social, intelectual e moral da pessoa. A nudez esconde jóias, roupas, e símbolo que informam quem é aquele homem ou mulher.  O culto do corpo não é novo, ele existia na Grécia e em Roma, assim como existiam - pasmem - manuais de saúde, dietas e exercícios. Ensinava-se, inclusive, como praticar o sexo para se ter uma boa forma.  O mundo de hoje está erotizado à saturação? Mas e a estatuaria clássica, os afrescos, e vasos repletos de cenas que faziam parte do cotidiano e hoje os filmes exibem como hardcore, pornografia? Por que a moral moderna permite a simulação do ato sexual, a violência sádica e mulheres nuas, mas ainda rejeita um falo ereto?

A história poética, excitante, pitoresca do corpo humano e da sexualidade é a aventura proposta pelo professor da Universidade de Cambrige Simon Goldhill em Amor, Sexo & Tragédia (Zahar Editora, 296 páginas ilustradas, R$44).  Nada existe de novo.  O livro fala do que é o corpo perfeito, como seu conceito foi mudando, os preconceitos contra os pelos, a nudez frontal, como o ato sexual teve/tem várias interpretações, o que é masculinidade, feminilidade, quando as duas coisas se mesclam, a hetero e a homossexualidade, a religião, as abstinências dos santos para subir aos céus... Subiam?

Goldhill vai fundo nessa amostra de como o antigo influenciou o comportamento atual.  Os gladiadores, pergunta ele, não nos pedem para refletir sobre nossa própria relação coma violência, com o corpo humano, com o espetáculo do poder? Não havia no Coliseu lutas em que se empenhavam 10.000 gladiadores, com mortes atrás de mortes? Eram jogos que celebravam a arte de matar e morrer. O gladiador, antes de Russell Crowe ou Kirk Douglas, era um símbolo sexual. A mistura de violência e erotismo atrai e repele. E por que as pessoas cultuam tanto a tourada, luta-livre, boxe, videogames violentos, imagens de desastres reais, a visão de corpos mutilados em acidentes? No fundo, tudo serve para ver como a Antiguidade povoou a imaginação e moldou o mundo que está aqui, onde nada foi inventado, apenas reciclado.  A Vênus Calipigia ou Juliana Paes? Ambas são iguais, modernas atuais, sensuais."

(Voge Brasil, maio/2007, pág. 268).

 

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