A PRÓXIMA CRISE


"Estamos criando a próxima crise"
O economista indiano Raghuram Rajan diz que uma das maiores lições das últimas crises financeiras é a necessidade de dosar a presença do governo no setor privado
Luciene Antunes, de EXAME
09/06/2010 | 16:33

Segundo Raghuram Rajan, professor de finanças da Universidade de Chicago, assessor econômico do premiê da Índia e membro do conselho internacional do Itaú Unibanco, os países aprenderam muito com a crise, mas ainda insistem em erros crassos - como onerar os governos para financiar setores com mais força política.

1) EXAME - Em seu livro Fault Lines ("Falhas geológicas", numa tradução livre), o senhor fala de ameaças à economia mundial que não enxergamos. Por que isso ocorre?

Raghuram Rajan - Assim como as falhas geológicas que provocam grandes terremotos, a economia globalizada esconde ameaças difíceis de perceber antes que comecem a dar alguns sinais, normalmente quando é tarde demais. Isso ocorre porque, num sistema financeiro integrado, o interesse particular nem sempre corresponde ao da maioria. Quando um país decide gastar mais, utilizando recursos internacionais, para privilegiar um setor, acaba provocando distorções em todo o sistema financeiro.

2) EXAME - Essa foi a maior entre as lições da crise?

Raghuram Rajan - Deveria ter sido, pois ficou evidente que a interação entre governo e negócios pode ser danosa quando atende apenas a interesses políticos. Eu diria que os bancos aprenderam mais que os governos, que continuam se comportando perigosamente, criando mais desequilíbrio para o futuro. Ironicamente, o governo americano é o maior exemplo disso.

3) EXAME - Como os Estados Unidos geram mais desequilíbrio?

Raghuram Rajan - Vejo que a reforma no sistema de saúde, por exemplo, pode não estar na direção certa. Ela pode trazer benefícios imediatos para a sociedade, mas, se o Congresso não discutir como arcar com os custos, poderá repetir o erro do subprime.

4) EXAME - A economia mundial ainda se recupera de uma desaceleração. Estamos ameaçados por novos abalos?

Raghuram Rajan - Inevitavelmente, já estamos gestando novas crises. E uma das principais ameaças foi criada pela própria crise do subprime. Para socorrer a economia, muitos governos gastaram demais em pacotes de estímulo, gerando desequilíbrios no sistema financeiro global. Enquanto a maioria dos países estava ocupada fazendo isso, novos focos de problema se criaram por causa de gastos malfeitos. A tendência é que esses novos focos se revelem à medida que as economias se recuperam.

5) EXAME - A recente crise na União Europeia é um exemplo?

Raghuram Rajan - Sim. A Grécia é um exemplo de país que sustentou grandes déficits para financiar o setor privado nos últimos anos. Quando a conta começou a ser cobrada, descobriu-se que muito dinheiro havia sido mal gasto e que os gregos não poderiam honrar a dívida.

6) EXAME - Como o Brasil está se saindo?

Raghuram Rajan - O Brasil se abriu para o mercado internacional nos anos 90, mas não se tornou essencialmente dependente das exportações, como Coreia, Taiwan, China e outras economias asiáticas. Graças às reformas realizadas a partir dos anos 90, o país tem uma demanda interna consistente e crescente, por isso não sofreu tanto com a desaceleração internacional.

7) EXAME - O senhor identifica "falhas geológicas" no Brasil?

Raghuram Rajan - Acredito que a maior delas seja a desigualdade. Nos últimos anos, o país tem trabalhado para melhorar a distribuição de renda, mas limitar-se a políticas sociais não é suficiente, pois cria uma dependência grande de subsídios do governo. O Brasil precisa de investimentos em educação.

(http://portalexame.abril.com.br/revista/exame/edicoes/0970/secoes/sete-perguntas-568090.html)

 

QUEM PAGA O PATO?

 

"A Grécia é um exemplo de país que sustentou grandes déficits para financiar o setor privado nos últimos anos. Quando a conta começou a ser cobrada, descobriu-se que muito dinheiro havia sido mal gasto e que os gregos não poderiam honrar a dívida."  E, nessa hora, quem paga?  A divida ficou para os funcionários públicos.   E o ruim é que aqui também se pensa assim.  Fala-se contra a previdência do servidor público e seus vencimento; governos dizem que não podem recompor as perdas dos funcionários públicos porque a economia não comporta, etc., enquanto bancos em crise recebem ajuda.  Depois, quando as coisas se desequilibram, são os funcionários públicos também sofrem as consequências.   "O Brasil precisa de investimentos em educação", diz o economista, mas o que se vê é a educação se tornando a mercadoria mais lucrativa. Os lucros são privatizados, os prejuízos socializados, mas, quem paga a conta não é o povo, e sim quem trabalha para o povo, ou seja os funcionários públicos.  A eles é atribuído cada déficit, e o pior é que o povo acredita! 

 

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