Aécio Neves é entrevistado no
Jornal Nacional
O candidato do PSDB à Presidência da República foi entrevistado ao vivo,
na bancada do JN, por William Bonner e Patrícia Poeta.
Edição do dia 11/08/2014
O Jornal Nacional abre hoje a série de entrevistas, ao vivo, com os
principais candidatos à Presidência da República. Nós vamos abordar os
temas polêmicos das candidaturas e também confrontar os candidatos com o
seu desempenho em cargos públicos. Nas próximas semanas, os candidatos
estarão também no Bom Dia Brasil e no Jornal da Globo.
O sorteio realizado com a supervisão de representantes dos partidos
determinou que o candidato do PSDB,
Aécio Neves, seja o entrevistado de hoje.
William Bonner: Boa noite, candidato.
Aécio Neves: Boa noite, Bonner. Boa noite, Patrícia. Boa noite, brasileiros de todas as partes do país, que nos ouvem aqui hoje. Prazer enorme estar aqui.
William Bonner:
Obrigado. O tempo total da entrevista é de 15 minutos, dos quais nós
reservamos o último minuto e meio para que o candidato fale
resumidamente, claro, sobre os projetos que ele considera prioritários
caso seja eleito. E o tempo começa a ser contado a partir de agora.
Candidato, quando o senhor critica a situação da economia brasileira, o
senhor tem dito que, seja quem for o presidente eleito para o ano que
vem, vai ter que fazer uma arrumação da casa. O senhor já mencionou
choque de gestão, redução de número de ministérios, redução de cargos
comissionados. O senhor já falou em combate a desperdícios. Mas
economistas que concordam com o seu diagnóstico para a economia
brasileira dizem que essas medidas que o senhor tem anunciado não
bastam, elas não seriam suficientes para resolver. Que seria necessário
que o governo fizesse um corte profundo de gastos. Que seria necessário
que o governo também eliminasse a defasagem de tarifas públicas como
preço da gasolina e energia elétrica. A questão é a seguinte:
o senhor
não vai fazer essas medidas que os economistas defendem? Ou o senhor
está procurando não mencionar essas medidas, porque elas são
impopulares?
Aécio Neves: Bonner, eu tenho dito em todos os fóruns e
aqui, a vocês, de forma muito clara. Vou tomar as medidas necessárias a
que o Brasil retome o ritmo de crescimento minimamente aceitável. Não é
adequado, não é compreensível que um país com as potencialidades do
Brasil seja o lanterna do crescimento na América do Sul. E estejamos aí
de novo com aquela agenda que achávamos já derrotada há tempos atrás,
como a da inflação, de novo a atormentar a vida do cidadão, da cidadã
brasileira. Eu tenho tido a oportunidade de me reunir, Bonner, com
alguns dos mais talentosos economistas do Brasil. Mas, na outra ponta
também, eu tenho conversado com as pessoas. O que o brasileiro quer?
Transparência. Um governo que tenha coragem de fazer aquilo que seja
necessário. Nós vamos, sim, enxugar o estado. Não é admissível, não é
razoável que nós tenhamos hoje 39 ministérios. Não apenas pelo custo dos
ministérios, mas pela incapacidade deles de apresentarem resultados,
entregarem serviços de qualidade às pessoas. E estejamos hoje vivendo
uma política externa, cujo o alinhamento ideológico é prioridade sobre o
pragmatismo, sobre o interesse real do Brasil e da nossa economia. E
tudo isso levou a uma crise de confiança muito grande no Brasil.
William Bonner: Mas o senhor não respondeu a minha
pergunta. A minha pergunta é se entre essas necessidades se inclui a
redução dos gastos públicos e o fim dessa defasagem das tarifas de
energia e gasolina.
Aécio Neves: Não, eu respondo com absoluta clareza.
Começando do final. No meu governo vai haver previsibilidade em relação
a essas tarifas e em todas as medidas do governo. Ninguém espere no
governo Aécio Neves o pacote A, o PAC disso, o PAC daquilo. Ou algum
plano mirabolante.
William Bonner: Mas o senhor vai aumentar as tarifas?
Aécio Neves: Nós vamos tomar as medidas necessárias. É
óbvio que nós vamos ter que viver um processo de realinhamento desses
preços. Quando e como? Obviamente, quando você tiver os dados sobre a
realidade do governo é que você vai estabelecer isso. Eu não vou temer
tomar aquilo que seja necessário. As medidas necessárias para controlar
a inflação, retomar o crescimento e, principalmente, Patrícia e Bonner,
a confiança perdida no Brasil. Porque essa desconfiança em relação ao
nosso país afugenta os investimentos. E os investimentos indo embora, os
empregos vão embora. Olha, o saldo da balança comercial de
manufaturados, dos produtos que mais agregam valor, produzidos no
Brasil, no ano passado, foi negativo em R$ 107 bilhões. Sabe o que isso
significa? Que os empregos que deveriam estar sendo gerados no Nordeste
brasileiro, no Centro-Oeste, no Norte, estão sendo gerados na Ásia e em
outras partes do mundo. Isso tem que acabar.
Patrícia Poeta: Candidato, o seu partido é crítico
ferrenho de casos de corrupção que envolvem o PT. Mas o seu partido
também é acusado de envolvimento em escândalos graves de corrupção. Como
é o caso do mensalão mineiro e também do pagamento de propina a
funcionários públicos pelo cartel de trens e metrôs de São Paulo. Isso
para citar dois exemplos. Toda vez que escândalos como esses vêm a
público, tanto o PT quanto o PSDB usam o mesmo discurso. Um discurso
óbvio e correto. Que tudo tem que ser investigado, que se houver culpado
tem que ser punido. Por que o eleitor iria acreditar que exista
diferença entre os dois partidos quando o assunto é esse: corrupção?
Aécio Neves: Patrícia, eu acho que a diferença é
enorme. Porque no caso do PT houve uma condenação pela mais alta corte
brasileira. Estão presos líderes do partido, tesoureiros do partido,
pessoas que tinham postos de destaque na administração federal, por
denúncia de corrupção. Eu nunca torci para ninguém ser preso. Sendo
aliado ou adversário. Apenas torcia sempre e esperava que a Justiça se
manifestasse. Em relação ao PSDB ou aqueles sem partido, se tiverem
denúncias que sejam consistentes, têm que ser investigadas e têm que
responder por elas. O que eu posso garantir é que, no caso do PSDB, se
eventualmente alguém for condenado, não será, como foi no PT, tratado
como herói nacional. Porque isso deseduca. Portanto, todos os partidos
estão aí e têm a possibilidade de ter nomes que sejam envolvidos em
quaisquer denúncias. Apuração e punição: é isso que esperam os
brasileiros, independente da filiação partidária.
Patrícia Poeta:
Mas candidato, vamos pegar um exemplo aqui: Eduardo Azeredo, que foi um
dos principais acusados de ser beneficiado no escândalo do mensalão
mineiro, renunciou e por isso não foi julgado ainda. Ele está ao seu
lado, no seu palanque, apoiando essa campanha eleitoral. Isso de uma
certa forma lhe causa algum desconforto, não é passar a mão na cabeça
das pessoas, de alguém do partido, um réu, nesse caso?
Aécio Neves: Ele está me apoiando, você colocou bem,
Patrícia, não é o inverso. Ele é um membro do partido e que tem a
oportunidade de se defender na Justiça, vamos aguardar que a Justiça
possa julgá-lo, se condenado, ele vai ser punido, mas eu não prejulgo,
não prejulguei os petistas, não vou prejulgar os tucanos. O que eu posso
te dizer e reitero aqui: independente do partido político, eu acho que
qualquer cidadão tem que responder pelos seus atos. E o Eduardo vai
responder pelos dele. Vamos deixar que ele possa se defender.
William Bonner: Candidato, quando o senhor era
governador do estado de Minas Gerais, o senhor construiu
um aeroporto no
município de Cláudio, a sua família tem uma fazenda a seis quilômetros
desse aeroporto e a pista foi construída ao lado de terras do seu
tio-avô. O senhor já disse diversas vezes que não houve nenhuma
irregularidade nisso, que as terras eram públicas, porque já tinham sido
desapropriadas, inclusive a sua família discorda do valor arbitrado para
essa desapropriação, contesta esse valor, considera injusto, está na
Justiça. O senhor disse também que o aeroporto foi criado pelo senhor
para beneficiar a economia da região. E desde que esse assunto surgiu, o
único erro que o senhor admite ter cometido, eu vou ler as suas
palavras, o senhor disse que ‘viu aquela obra com os olhos da comunidade
local e não da forma como a sociedade a veria à distância’. Eu pergunto:
mesmo aos olhos da comunidade local, candidato, o senhor considera
republicano construir um aeroporto que poderia ser visto como um
benefício para a sua família, no mínimo, por valorizar as terras dela?
Aécio Neves: Bonner, eu tenho que agradecer muito a
oportunidade que você me dá de tocar nesse tema. Esperava ter essa
oportunidade para fazê-lo. O meu governo foi um governo republicano, foi
um governo absolutamente transparente. Eu transformei Minas Gerais num
estado, Bonner, que tem a melhor educação do Brasil no ensino
fundamental, a melhor saúde de toda a Região Sudeste. Nós ligamos num
planejamento, aliás, algo em falta hoje no plano federal, todas as
cidades mineiras que não tinham asfalto, 225 cidades foram ligadas por
asfalto no meu governo. Quatrocentos e cinquenta cidades não tinham
telefonia celular, eu fiz a primeira PPP do Brasil e liguei essas
cidades ao desenvolvimento através da telefonia celular e fiz um
programa chamado ProAero que ligou 29 cidades de um total de 92
aeroportos que existem espalhados por Minas, você sabe que Minas é o
estado que tem o maior número de municípios, somos 853, como instrumento
do desenvolvimento regional, e, veja bem, nesse caso, especificamente,
se houve algum prejudicado foi esse meu tio-avô, porque o estado avaliou
aquela área em R$ 1 milhão, ele reivindica na Justiça R$ 9 milhões, não
recebeu R$ 1 até hoje. Foi feito assim de forma transparente,
absolutamente republicana, e a população daquela localidade sabe a
importância desse aeródromo, uma pista asfaltada.
William Bonner: Mas candidato, essa questão produziu muita polêmica porque, imediatamente, levantou-se uma suspeita sobre o benefício a sua família, que o senhor diz não ter havido. E o senhor tem algum tipo de constrangimento ético pelo fato de ter utilizado essa pista quando visitou a fazenda da sua família?
Aécio Neves:
Não, não tenho, até porque não sabia que essa pista não estava
homologada, aliás essa é uma questão.
William Bonner: Perdão, mas não se trata da questão da
homologação. A homologação é uma questão burocrática. A minha pergunta é
sobre usar um aeroporto que foi construído pelo estado de Minas Gerais
para visitar uma fazenda sua. Isso não lhe constrange?
Aécio Neves: Bonner, eu visitei praticamente todos os
aeroportos de Minas Gerais, trabalhando como governador do estado e o
fato central é esse, que a Anac, porque é muito aparelhada hoje, nós
sabemos a origem das indicações da Anac, durante três anos não conseguiu
fazer o processo avançar e homologar o aeroporto. Bonner, o meu governo
é reconhecido em Minas Gerais como o governo transformador. Eu deixei
Minas com 92% de aprovação e é exatamente essa experiência republicana,
correta, transparente do meu governo que eu quero implementar no Brasil.
Não há nenhum constrangimento, Bonner.
William Bonner: Para fechar essa questão: o que vale
mais, uma fazenda com um aeroporto ao lado ou uma fazenda sem um
aeroporto ao lado?
Aécio Neves: Olha essa fazenda que você se refere, é
uma fazenda que está na minha família há 150 anos, tem lá 14 cabeças de
gado. Essa é a grande fazenda. É um sitio que valorizado ou não, Bonner,
é um sítio onde a minha família vai, eventualmente, nas férias, ali
ninguém está fazendo um negócio. Essa cidade precisava desse aeroporto
como todas as outras que tiveram investimentos em Minas Gerais, eu nunca
na minha vida inteira fiz nada aquilo que eu não pudesse defender de
cabeça erguida. Criou-se em torno desse caso uma celeuma, que você
próprio deve estar surpreso agora, é um sítio da nossa parte talvez de
30 alqueires, algo absolutamente familiar, pequeno. Nada a ver com esse
aeroporto, até porque nesse local já havia uma pista que eu poderia ter
descido numa pista que estava lá há mais de 20 anos.
Patrícia Poeta: Candidato, vamos falar de programas
sociais. O senhor tem dito que vai manter alguns dos principais
programas sociais do governo atual, como é o caso do Bolsa Família, o
ProUni, o Pronatec, o Mais Médicos e também a política de reajuste do
salário mínimo. A sensação que dá para muitos eleitores, é que o senhor,
sim, aprova o desempenho do PT nessa área, na área social. Por que então
esses eleitores iriam querer mudar de presidente?
Aécio Neves:
Porque a verdade é essa, Patrícia. Todos percebemos de forma muito clara
que o Brasil parou de crescer. Os empregos de boa qualidade deixaram de
ser gerados aqui. E até os de baixa qualidade também, segundo os últimos
dados oficiais, estão deixando de acontecer. A grande realidade é que
administrar, e olha que eu fui um governador razoavelmente exitoso, é
transformar, e transformar para melhor as boas experiências. O que é o
Bolsa Família, Patrícia? O Bolsa Família é a junção do Bolsa Escola, do
Bolsa Alimentação, do Vale Gás, que vieram do governo do presidente
Fernando Henrique, e corretamente o presidente Lula os unificou e
adensou. Não só vou continuar com o Bolsa Família, como eu quero que,
além da privação da renda, as pessoas que o recebem possam ter uma ação
do estado, para que outras carências de saneamento, de educação, de
segurança, possam também ser sanadas. O Prouni é uma inspiração de uma
experiência do governo de Goiás. Todo mundo, de alguma forma, copia e
aprimora e ninguém tem que ter vergonha disso. O meu governo, ele vai
ser renovador no padrão ético, no padrão moral, em relação a esse
governo, e vai ampliar as boas políticas. Mas certamente vai ser um
governo que vai resgatar a capacidade de o Brasil crescer.
Patrícia Poeta: O senhor quer manter e aprimorar esses
programas sociais.
Aécio Neves: É isso que deve fazer o bom gestor.
Patrícia Poeta:
Candidato, como é que o senhor explica o desempenho no campo social de
um estado rico como Minas Gerais que, hoje, sustenta o menor Índice de
Desenvolvimento Humano de toda a Região Sudeste e ocupa a nona posição
no ranking nacional, entre todos os estados brasileiros. Estava em
oitava posição anos atrás e agora está em nona posição.
Aécio Neves: Patrícia, estes números têm que ser vistos
no seu conjunto. Minas Gerais avançou e avançou muito. Agora Minas tem
no nosso território, incrustado no nosso território, o Vale do
Jequitinhonha, o norte mineiro, o Mucuri, que é uma região, que,
historicamente, tem um IDH menor do que a média do Nordeste.
O grande
esforço do nosso governo foi reduzir essas diferenças. E fizemos isso.
Minas tem hoje a melhor educação fundamental do Brasil, mesmo sendo um
estado heterogêneo, e não sendo o mais rico dos estados brasileiros. A
melhor saúde de toda Região Sudeste. E é um estado que se desenvolve
muito. Qual que é a questão específica? Nós tivemos um momento ruim, de
determinadas atividades econômicas nossas, que perderam valor, como
minério e o café. Essa sazonalidade existe. Mas Minas é hoje referência,
não apenas no Brasil, mas fora do Brasil, pelos organismos
internacionais, como Banco Mundial, de um modelo a ser seguido, de um
estado com sensibilidade social e com gestão profissional.
William Bonner: O senhor mencionou já duas vezes a
saúde em Minas Gerais, o senhor tem dito que é a melhor do Sudeste, a
quarta melhor do Brasil. No entanto, os analistas que se debruçaram
sobre investimentos públicos na saúde de Minas afirmam que isso foi
muito mais resultado de investimentos da União e de municípios do que do
estado. O senhor não considera a saúde uma prioridade também de governos
estaduais, candidato?
Aécio Neves: Absoluta. O que nós fizemos em Minas,
Bonner, é transformador. Qualquer especialista nessa matéria reconhece
isso. Eu estive há poucos dias atrás reunido na USP. Com a diretora da
USP e outros renomados especialistas em saúde pública. No meio da
reunião, vou aqui confidenciar isso, a diretora da USP disse pra mim o
seguinte: ‘Aécio, você não tem nada o que aprender conosco aqui sobre
saúde pública, não. O que vocês fizeram em Minas foi transformador’.
Seja em relação à saúde preventiva, onde nós dobramos os números de
equipe do programa Saúde da Família, quanto na qualificação dos
hospitais através do Pro-Hosp, na preparação das pessoas. Saúde é
prioridade para qualquer governo responsável e será no nosso.
Patrícia Poeta:
Candidato, nosso tempo está acabando. Última pergunta. Dos projetos que
o senhor tem para o país, quais seriam os prioritários?
Aécio Neves: Na verdade, Patrícia, eu quero governar o
Brasil para iniciar um novo ciclo de desenvolvimento no país, um ciclo
que concilie ética com eficiência. Sem dúvida alguma os quadros que nós
temos à nossa disposição e a coragem que teremos para fazer o que
precisa ser feito é que permitirá que, no nosso governo, o Brasil volte
a crescer. Mas eu quero melhorar o Brasil é para a dona Brenda, que eu
conheci essa semana, lá nas margens do Rio Negro, no Amazonas, que quer
um posto de saúde melhor na sua comunidade. Ou para o seu Severino, lá
de Mauriti no Ceará, que espera que as obras do São Francisco possam
chegar perto da sua casa, ele já acha que só os seus netos é que verão.
Eu quero que a Suelen, lá de Campina Grande, que eu conheci no ano
passado, continue vendendo na feira como vendia, não vende mais porque a
inflação está aí a perturbar a vida de todos. Eu quero fazer um governo
para as pessoas, um governo responsável, corajoso, mas que pense naquele
que mais precisa da ação do estado. Por isso, eu, neste instante, peço a
você que está nos ouvindo, o voto, o seu apoio para transformarmos de
verdade o Brasil. Vocês vão se orgulhar muito disso.
Patrícia Poeta: Obrigada pela sua participação aqui na
bancada do Jornal Nacional. Lembrando que amanhã o entrevistado ao vivo
aqui no Jornal Nacional será o candidato do PSB, Eduardo Campos.
http://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2014/08/aecio-neves-e-entrevistado-no-jornal-nacional.html