ALEXANDRE, O GRANDE BISSEXUAL
"Alexandre, o Grande: será que ele era?
Filme que sugere a bissexualidade do herói provoca a ira dos gregos. Mas é fiel
ao que se sabe sobre os costumes da época
por Jones Rossi
O diretor americano Oliver Stone voltou a misturar história e polêmica, como fez
em Platoon e JFK, a Pergunta Que Não Quer Calar. Desta vez, sua vítima é um dos
maiores generais de todos os tempos: Alexandre, o Grande (356-323 a.C.), o homem
que expulsou os persas da Grécia e dominou terras em três continentes a partir
dos 16 anos. Em novembro, mal o filme estreou nos Estados Unidos, advogados e
instituições gregas manifestaram seu repúdio à obra, a ponto de o Ministério da
Cultura da Grécia retirar dos créditos o seu apoio. O motivo da revolta é que em
Alexandre, que estréia nos cinemas brasileiros em janeiro, o homem que espalhou
a essência da cultura ocidental pelo mundo manifesta preferências sexuais
controversas: ele gosta de meninas e meninos
No filme, entre uma batalha e outra, Alexandre faz sexo com sua esposa, Roxane,
beija dois homens na boca e deixa explícita sua paixão por um terceiro, o amigo
de infância Hephaistion. Também não faltam cenas de ciúme e olhares 43 entre os
dois. “A bissexualidade dos personagens pode ofender algumas pessoas, mas
sexualidade naquela época era uma coisa diferente, anterior à moral cristã”,
disse Oliver Stone à revista Playboy americana.
Um grupo de 25 advogados gregos implorou ao diretor que pelo menos avisasse nos
créditos que o filme não tem fundamentação histórica. O problema é que, em se
falando de costumes sexuais helênicos, a história vai mais longe do que Oliver
Stone poderia mostrar.
Alexandre casou pela primeira vez aos 27 anos com Roxane, para firmar seu poder
nas terras da moça, o atual Afeganistão. A essa altura, ele já havia conquistado
terras da Ásia, o Egito e eliminado seu maior inimigo, Dario, o líder persa.
Também por motivos políticos, ele se casou mais duas vezes com parentes de
Dario. Até aí, tudo bem para os padrões de hoje e até da época.
A diferença é que, no berço da civilização ocidental, que rodeava Alexandre, o
Grande, prazer e carinho eram comuns mesmo entre homens e homens, principalmente
entre garotos e seus tutores. Os homens passavam a maior parte do tempo entre
si: em casa, dormiam em quartos separados das esposas, transando com elas, na
maioria das vezes, para procriação. Além de as práticas sexuais serem
diferentes, tinham outro significado. “Os gregos enxergavam a homossexualidade
como amor entre iguais”, diz Andréa Dorini Carvalho, professora de história
antiga da Unesp. “A mesma visão tolerante existia no Império Romano,
principalmente entre o fim da república e o começo do império.”
Não que a época fosse desprovida de moral e repressão sexual, mas outras
atitudes tinham o estigma de sem-vergonhice, como o prazer feminino. “A rígida
moralidade da época não permitia descrições ou representações de mulheres
honradas em seus relacionamentos sexuais”, afirma o historiador grego Nikos
Vrissimtzis, autor de Amor, Sexo e Casamento na Grécia Antiga. Doa a quem doer,
é o que conta a história.
Estréia: 14 de janeiro
Direção: Oliver Stone
http://www.alexanderthemovie.com
Alcoólatra arrependido
Bebedeiras faziam Alexandre queimar cidades
Jones Rossi
Como todo macedônio ou grego de sua época, Alexandre bebia muito. E não foram
poucas as vezes em que, sob o efeito do vinho, cometeu atos dos quais se
arrependeu depois. Certa vez, embriagado, lutou com o amigo Cleitus e acabou
matando-o. Depois, percebeu a besteira que havia feito e tentou o suicídio. Seus
guardas o contiveram, mas a admiração que tinham pelo soberano começou a cair
desde então. Também atribuído ao bêbado Alexandre, o incêndio de Persépolis,
antiga capital persa, foi ainda pior. Suas tropas, acampadas nos arredores da
cidade, ainda tentaram apagar as chamas, achando que o incêndio era acidental.
Quando souberam que aquilo era obra de seu próprio rei, houve uma indignação
geral. Os macedônios, como os gregos, cultuavam Baco, deus do vinho. Para
homenageá-lo, bebiam. “Era comum tomar vinho em todas as refeições”, diz Pedro
Paulo Funari, da Unicamp. Eis uma semelhança entre o general e o ator Colin
Farrell, que o interpreta no filme. Bêbado conhecido em Hollywood, Farrell se
defende dizendo que beber sempre, mesmo na hora do almoço, é normal.
Guia do sexo à grega
Os helênicos também tinham seus tabus
Homossexualidade
A prática sexual mais comum era a pederastia (o relacionamento entre um adulto e
um jovem). Era incentivada pelos pais dos garotos, para que os filhos pudessem
obter os conhecimentos – e as experiências – dos tutores adultos. Já lésbicas,
devido à repulsão pelo prazer feminino, eram consideradas depravadas.
Casamento
Os casamentos seguiam cerimônias e regras mais rígidas que as de hoje em dia.
Como a maioria deles consistia de uniões sem amor que visavam vantagens sociais,
os casais eram escolhidos pelos pais e raramente recusavam essa decisão. Não
havia problema em ter filhos antes do casamento (ser virgem significava ser
solteira), mas a fidelidade da mulher era importante para assegurar a
paternidade dos filhos. Já os homens podiam ter diversas – e diversos – amantes.
Prostituição
Prostíbulos regulamentados pelo governo ajudavam os meninos a chegar à
maturidade sem precisar de mulheres casadas, e as prostitutas tinham que pagar
impostos. A maioria delas vinha de famílias miseráveis ou escravas, e, como
hoje, era proibido incentivar jovens à profissão mais antiga do mundo. As
“hetairas” eram prostitutas de alta classe, como as gueixas: mais bonitas que a
média, dançavam e tocavam flauta.
(http://historia.abril.com.br/gente/alexandre-grande-sera-ele-era-433910.shtml)
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