O MUNDO SOB A AMEAÇA DOS DEUSES
- 23/09/2006 -
Os deuses
destruíram a paz e, o pior, ameaçam destruir seus criadores. As mitologias
apresentavam freqüentemente os deuses em constantes guerras; e a realidade,
sempre guerras entre seus autores. Tais quais os politeísmos do passado, os
monoteísmos sobreviventes de hoje mantêm a humanidade em choque; e, embora
pareça altamente civilizado, o mundo atual vive à mercê da mentalidade
primitiva. Cada lado procura uma paz que só pode ser construída com a destruição
dos grupos divergentes. Longe da promoção dos direitos humanos, na chamada luta
"entre o bem e o mal", cada um procura a prevalência da vontade do seu deus. É a
guerra divina que cega o ser humano e parece não ter fim. Pior do que um dilúvio
de água, o mundo vive atualmente sob o risco da destruição por bombas em nome
dos deuses. E, como ninguém percebe a inutilidade de sua divindade, a paz parece
muito longe de ser alcançada.
Se na Idade Antiga, cada império dominador impunha a vontade do deus ou deuses
em que acreditava, e, na Idade Média, o cristianismo era imposto pela igreja
dona do mundo, em nossos dias absurdamente ainda não nos livramos dos fantasmas
criados pelos homens primitivos: os deuses ainda comandam as guerras:
"A maior parte dos conflitos armados já não ocorre entre países, mas dentro
deles. O front de batalha está migrando das fronteiras internacionais para
dentro das cidades, em disputas geralmente acirradas por extremismo religioso.
O conflito entre Israel e Hezbollah serve de exemplo, mas talvez seja só a parte
mais visível de um fenômeno mais amplo: o crescimento do fanatismo em lugares
onde antes as disputas eram apenas étnicas ou nacionalistas. E hoje o extremismo
alimenta confrontos nas Filipinas, Indonésia, Chechênia, Bósnia, Sri Lanka,
Argélia e China, para citar alguns exemplos" (Superinteressante, set/2006,
pág. 54, 55).
"O presidente iraniano fala abertamente em varrer Israel do mapa". Do outro
lado, "Pesquisas recentes, mostram que 2 em cada 5 americanos acreditam que Deus
entregou Israel aos judeus." (Idem, pág. 56). O lado islâmico é o mais perigoso
contra a liberdade humana: "Em vez do nacionalismo puro e simples, ele vem
mais do que nunca insuflado pela ideologia islamita – que pretende
derrubar governos ocidentalizados e instaurar regimes que sigam uma
interpretação extrema da sharia, a lei islâmica" (Ibidem).
Talvez um dia o mundo venha a entender que Yavé não está lá defendendo as
vítimas israelenses, assim como Alá não cerca os mísseis de Israel que abatem
tanto os mais fiéis extremistas do Hezbolla quanto crianças inocentes que se
colocam no alvo, nem tampouco o Deus do Cristianismo salva algum americano de um
ataque suicida dos muçulmanos. A observação racional é conclusiva: tal qual uma
bombinha detonada na boca de um formigueiro, a explosão de um homem-bomba deixa
mortos, feridos e pessoas que não sofrem mais do que um susto. Mas aquele que
sobrevive próximo de um ataque mortífero pensa ilogicamente: "Deus me livrou".
Semelhantemente, quando uma catástrofe natural em meio povoado resulta, como não
poderia deixar de ser, em mortes de muitas pessoas, pensam os religiosos que foi
um castigo divino, ignorando que morte de criança jamais poderia ser
racionalmente atribuída a castigo de um deus, que dizem ser justo. Até as
doenças são na maioria das vezes atribuída a conseqüências dos pecados, sem o
mínimo de observação crítica e percepção de que os vírus e bactérias não fazem
distinção entre bons e maus.
Nem a tão bondosa Madre Teresa foi capaz de raciocinar e ficar calada, mas, em
sua santa ignorância, disse friamente que a AIDS "é apenas uma retribuição justa
para a conduta sexual imprópria". E os pobres hemofílicos e outros que pegam a
doença em transfusão de sangue? Estariam eles também recebendo um justo castigo
de um deus perfeito justo e bom? Quando é que essas pessoas pensarão mais
racionalmente e entenderão que vírus e bactérias buscam a perpetuação da espécie
como nós e outros animais, sem escolher sangue bom ou ruim? Que lógica segue uma
pessoa para pensar que há mais gente ruim na região do Círculo do Fogo para tal
lugar ser tão castigado por vulcões e terremotos? Por que Deus nunca direcionou
um raio sobre a residência de um Fernandinho Beiramar ou um Marcola, e os
romeiros tão devotos da Senhora de Aparecida tem sofrido tantos desastres de
trânsito? Ou são eles as piores pessoas? Porque os bolcheviques ateus da União
Soviética nunca sofreram um castigo divino contra sua incredulidade nem contra
suas maldades?
Embora na infância eu cresse ser filho de um deus que estivesse lá no céu nos
observando constantemente, sempre encontrei dificuldade ao pensar sobre os fatos
e as ações da natureza, ainda que ouvisse sempre dizerem que "não entendemos a
sabedoria divina" e que "Deus escreve certo por linhas tortas".
Gostaria que as pessoas que tanto matam, roubam, ou praticam terrorismo em nome
de um deus dito justo, pensassem nessas palavras: “Se um Deus bondoso e
infinitamente poderoso governa este mundo, como podemos justificar os ciclones,
os terremotos, a pestilência e a fome? Como podemos justificar o câncer, os
micróbios, a difteria e milhares de outras doenças que atacam durante a
infância? Como podemos justificar as bestas selvagens que devoram seres
humanos e as serpentes cujas mordidas são letais? Como podemos justificar um
mundo onde a vida alimenta-se da vida? Será que os bicos, garras, dentes e
presas foram inventados e produzidos pela infinita misericórdia? A bondade
infinita deu asas às águias para que suas presas fugazes pudessem ser
arrebatadas? A bondade infinita criou os animais de rapina com a intenção de
que eles devorassem os fracos e os desamparados? A bondade infinita criou as
inumeráveis criaturas inúteis que se reproduzem dentro de outros seres e se
alimentam de sua carne? A sabedoria infinita produziu intencionalmente os seres
microscópicos que se alimentam do nervo óptico? Pense na idéia de cegar um homem
para satisfazer o apetite de um micróbio! Pense na vida alimentando-se da
própria vida! Pense nas vítimas! Pense no Niagara de sangue derramando-se no
precipício da crueldade!" (Robert Green Ingersoll, 11 de agosto de 1833 – 21
de julho de 1899, líder político estadunidense).
Em que a religião tem contribuído para o bem da humanidade? Dizem que Jesus
ensinou a tolerância e a prática do bem. E o que fez o Cristianismo quando
adquiriu o poder? Em que se diferencia um pequeno grupo religioso que prega e
age humildemente de candidatos políticos em campanha? Não agem todos como um
exemplar trabalhador que tanto defende os pobres e, ao chegar à cúpula do poder,
se coloca ao lado dos grandes donos do dinheiro? Não são todos mais traiçoeiros
do que as serpentes e as águias?
O mundo não será melhor, senão quando o homem entender que é bem mais eficiente
pesar as conseqüências terrenas dos seus atos e ter um bom comportamento do que
achar que estão de acordo com uma vontade divina, vontade essa que
invariavelmente justifica crueldades extremas. Não obstante acreditarem que
estão incessantemente espreitados por um deus onipresente, as pessoas temem na
realidade as leis humanas, que cominam penas para os que praticam atos
tipificados a critério dos legisladores. Ou não vemos os representantes divinos
participando das falcatruas tão comuns no nosso meio político? Ou não achamos
tantos bons ministros cristãos aproveitando sexualmente de meninos e meninas por
todos os cantos do nosso planeta? Não foram os representantes da "verdade" e do
justo "Todo-Poderoso" que tanto acenderam fogueiras para assassinar da forma
mais cruel as pessoas cujo pecado era simplesmente não ver razão para crer nessa
"verdade"? E, por absurdo que pareça em um século de tanto conhecimento, nos
vemos constantemente ameaçados pelos representantes divinos. Onde está a justiça
divina? Quem senão os homens do mundo jurídico se coloca em defesa das vítimas
dos representantes de Cristo e de Alá? Nunca me preocupei com demônios, mas os deuses me
assustam. Não tenho nenhuma razão para acreditar que exista um ser sobrenatural
todo-poderoso para destruir o nosso mundo, mas não duvido muito de que seres
imaginários sejam capazes de fazê-lo mediante seus criadores. Creio que só a
vitória do pensamento racional poderá um dia impedir a ameaça que paira sobre
nós.
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