O ANIMAL QUE ALTERA TUDO E DESEQUILIBRA A
NATUREZA
- 06/10/2006 -
Os animais,
de um modo geral, vivem conforme a natureza e sua capacidade de adaptação lhes
permitem. Mas há um que consegue, até certo ponto, fugir do controle da
natureza. E a natureza reage furiosa ao desequilíbrio causado. Depois, esse
animal pensa que há um ser sobrenatural fazendo tudo isso. E esse sobrenatural
que vive na mente humana muitas vezes serve de obstáculo às soluções de muitos
dos nossos problemas. Mas ainda acredito que a racionalidade irá vencer.
Há poucos dias, minha esposa estava muito triste, diante da suspeita de que sua
cadelinha estivesse com câncer. Disse-me: "Não consigo conformar em ver esse
animalzinho sofrer. Ela não comete pecados como nós". Isso é a prevalência do
pensamento primitivo, que atribui os sofrimentos à desobediência aos deuses.
Não gosto de mostrar para ela nessas horas que essa é uma das razões por que não
creio na existência de um ser sobrenatural onipotente perfeito e justo em que a
maioria da humanidade crê. Mas lhe dei alguns exemplos de que o sofrimento não
está condicionado a nenhum pecado:
No ambiente selvagem, quando o animal fica velho e naturalmente vai perdendo a
força, o destino mais certo é ser comido por outros animais. Sua população está
também condicionada ao quanto de alimento ele encontra. Já o ser humano é um
animal diferente: consegue alterar a quantidade de alimentos através da
plantação, cria meios para se proteger do frio e do calor, criou a medicina para
sofrer menos e viver um pouco mais. Entretanto, nós e os nossos animais, até em
conseqüência de tudo que criamos podemos ter um período muito mais longo de
sofrimento do que os animais selvagens. Como eles, nós também vivemos disputando
os meios de vida e, igualmente a eles, ficamos velhos, fracos e, por mais que
sejamos cuidados, um dia chegamos ao fim, independentemente de sermos teístas ou
ateus. Uma agravante que enfrentamos é que, enquanto no resto do reino animal
sobrevivem os mais hábeis, no nosso meio tem ocorrido o contrário: aqueles que
têm menos condições de vida são os que mais se multiplicam, elevando o
superpovoamento do planeta. Predominante entre as classes mais miseráveis, ainda
existe o pensamento de que o controle de natalidade é um pecado, devendo a
mulher ter "quantos filhos deus quiser". E assim, como quase todas as mulheres
têm capacidade para ter vários filhos, o pensamento primitivo contribui ainda
mais para o aumento da pobreza.
Com todo o conhecimento que nos cerca, podemos até escolher um modo de viver que
prolongue a nossa vida, evitando o que nos é prejudicial. Mas inevitavelmente
chegamos a um ponto em que a alimentação correta e a medicina não nos livra mais
do sofrimento e da morte. Por outro lado, a crença em que devemos obediência a
um ser sobrenatural nos tira o direito de decidir sobre nosso fim. Assim, muitas
vezes, pessoas que gostariam de dar o término a todos os sofrimentos que as
acometem são mantida vivas e seus sofrimentos são prolongados por aqueles que
acham que o direito de dar cabo à vida só pertence a um ser invisível,
indetectável, que vive na imaginação humana.
Apesar de tudo de ruim com que convivemos, não podemos negar que o mundo atual
está muito melhor do que o dos séculos anteriores. Temos meio de tirar a
sensação de dor, temos medicamentos que nos ajudam a vencer a maioria dos
micróbios que antes nos matavam fatalmente; criamos tanto conforto, que até
ficamos mais fracos, uma vez que não precisamos nos esforçar muito. Por outro
lado, vemos aí o superaquecimento do planeta, com o agravamento das catástrofes
naturais, provocado pelo bens que inventamos. Enquanto vamos poluindo o ar, o
nosso planeta vai se desequilibrando, e nós vamos sofrendo as conseqüências do
que fazemos. Aí, muitas pessoas pensam que são seus seres imaginários que estão
punindo o homem. Enquanto uns tentam minimizar os efeitos das máquinas
poluidoras, outros atribuem tudo a seres sobrenaturais e nada fazem a não ser
prejudicar o desenvolvimento científico com suas idéias retrógradas. Como
exemplo, podemos citar o caso das pesquisas com células tronco. Em nome de deus,
preferem deixar morrer milhares de pessoas a usar embriões que poderiam lhes
trazer cura. Outro exemplo: um feto com problema grave seria mais beneficiado
com a morte do que vir a ter anos ou décadas de puro sofrimento. Todavia, o
pensamento primevo exige que essas vida deficitária venha à existência.
Não obstante todos os entraves criados pelos defensores dos deuses, o avanço
científicos deverá ainda nos proporcionar muitos benefícios. É certo que estamos
pagando um alto custo por alguns dos inventos que nos beneficiam; mas ainda
acredito que conseguiremos reverter os efeitos negativos que estamos sofrendo.
No dia em que o mundo entender que os furacões, os tsunamis, os vulcões e
terremotos, etc. não são obras de nenhum deus, mas fenômenos naturais, cujo
agravamento não se condiciona a pecado, mas são conseqüências da poluição,
provavelmente teremos melhor controle sobre eles, poderemos amenizar os
problemas que criamos, e o mundo será melhor.
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