APESAR DA
RELIGIÃO
Religião tem
causado muito atraso no mundo. Mas, apesar dela, o conhecimento tem melhorado
muito a nossa vida.
O homem
primitivo, ao se ver enfermo, imaginava que estivesse sendo penalizado pelos
seres sobrenaturais (deuses) por causa de alguma desobediência.
Não tinha a
mínima noção de que os seres invisíveis que o atacavam fossem bactérias ou
vírus. Uma pessoa com transtornos mentais devia estar possuída por um deus do
mal, que posteriormente se tornou um demônio.
Para aplacar a
ira dos deuses devia sacrificar a vida de alguém. Algum indivíduo devia pagar
pelos pecados dos outros. Dos animais ditos irracionais aos humanos, vidas
eram eliminadas em nome dos deuses.
Quando, por
acaso, alguém percebeu o efeito benéfico de uma planta, deduziu que esse vegetal
era sagrado, era algo preferido dos deuses, os quais ficavam satisfeitos ao ver
os homens usando essa sua dádiva. Já era um avanço.
A curiosidade
levava o homem a experimentar muitas plantas e, ocasionalmente, adoecia, ou até
morria sob o efeito da substância que ingeria, e, assim, os sobreviventes iam
selecionando e fazendo separação entre as plantas do bem e as plantas do mal.
Foi dessa forma que foram descobertas algumas plantas alucinógenas, aquelas que
colocavam as pessoas em contato direto com os deuses. Quem ingerisse folhas,
flores, ou raízes de dessas plantas sagradas começava a viajar pelo mundo
imaginário dos deuses, colocando-se cara a cara com eles, o que não conseguia em
estado normal de consciência. E, por incrível que pareça, até hoje existem
pessoas acreditando nisso.
Tudo estava
submetido ao humor dos deuses, que, quando irritados, falavam por meio de
trovões, enviavam raios, faziam a terra tremer e cuspir fogo. Era um
ambiente realmente assustador. Só o sacrifício de vidas acalmava os
deuses. Os deuses nunca se compraziam com ofertas diversas, só com sangue.
Até o deus judaico, já bem mais humanizado, só se comprazia com o cheiro de
carne queimada. Vejam que os dois filhos do primeiro casal humano
apresentaram suas ofertas, e Yavé só deu atenção a Abel, que oferecera sangue de
seu rebanho, não dando a mínima para Caim, que ofertara vegetais.
Não obstante
essa impotência frente aos seres imaginários, um ou outro mais inteligente ia
descobrindo um meio ou outro de melhorar a vida. Mas a influência dos deuses
era o ponto alto da vida do homem.
Passados alguns
milênios, alguns começaram a perceber que os castigos divinos eram um tanto
aleatórios, atingindo pessoas boas e ruins igualmente. Alguns homens sábios
começaram a questionar os deuses. Começaram a perceber que a existência
desses seres tão misteriosos poderia ser um equívoco da imaginação humana. Era o
embrião do ateísmo.
Em algum lugar,
lá pelas bandas do Egito, alguém chegou à conclusão de que não havia tantos
deuses como se imaginava, mas um único deus, criador de tudo. Os outros
deuses eram simples criações das mentes humanas. Estava quase cem por
cento certo. Como exceção do deus escolhido, era verdade o que pensava dos
outros.
Os hebreus, que
primitivamente adoravam uma porção de deuses, e a eles sacrificavam muitas
vidas, um dia adotaram esse pensamento de que deus só existia um. Mas esse
deus único não era muito diferente dos outros, só se acalmava com o sacrifício
de vidas. A palavra divina dos hebreus e cristãos diz que ele achava suave o
cheiro dos sacrifícios oferecidos.
O deus dos
hebreus recebeu o nome de Yavé. Adorar outros deuses era uma abominação
digna da maldição de Yavé. Aos verdadeiros adoradores do dito deus
verdadeiro cabia a missão de matar os idólatras (os que veneravam outros
deuses), para a maldição de Yavé não cair sobre toda a comunidade. Essa
imaginação monoteísta é que levou Josias rei de Judá a matar os sacerdotes dos
outros deuses adorados pelos israelitas. Achava que os israelitas estavam
dominados pelos assírios por Yavé tê-los entregue nas mãos do inimigo para
castigo de sua idolatria. Matando e queimando os sacerdotes dos outros
deuses sobre seus próprios altares, ele iria conseguir o beneplácito de Yavé e
salvar os povo de Israel de seu opressor. Foi então que o profeta Miquéias
escreveu a promessa de Yavé de que um judeu iria salvar Israel e iria
estabelecer aquele reino eterno onde não haveria mais humilhação ao seu povo.
Mas, como tudo
não passava de equívoco religioso como hoje também, em vez de libertar Israel,
Josias morreu na batalha, e seu povo também foi dominado.
Veio Babilônia,
que também tinha seus próprios deuses, destruiu o poderio assírio e se tornou a
nova dona do mundo.
Outros profetas
judeus continuaram as promessas divinas. Babilônia caria e o povo
escolhido de Yavé estabeleceria aquele reino eterno de paz, que não teria fim.
Todas as nações iriam servir a Yavé.
Babilônia caiu.
Mas os judeus não receberam o domínio do mundo. O poder agora estava nas
mãos dos medos e persas. O reino eterno foi adiado mais uma vez.
Vieram os
gregos, sob o comando de Alexandre o Grande, e os deuses gregos prevaleceram.
Mas o povo judeu não perdeu a esperança. Seu reino eterno e o fim da
idolatria estavam próximos.
No império grego surgiram os primeiros
questionadores dos deuses.
Epicuro (341 a.C.), arrazoou: “Ou Deus quer impedir o mal e não pode, ou pode e não
quer, ou não pode nem quer, ou quer e pode. Se quer e não pode, é impotente; se
pode e não quer, é perverso; se não pode e nem quer, é impotente e perverso; se
quer e pode, por que não o faz?”.
Após a morte de Alexandre, o império foi
dividido entre seus quatro generais: Cassandro, Lisímaco, Ptolomeu e Seleuco.
Os judeus ficaram sob o domínio selêucida.
Um dos sucessores de Seleuco, Antíoco IV,
quase eliminou a religião judaica. Morto Antíoco, Judas Macabeu, vitorioso na
guerra, restabeleceu o santuário de Yavé profanado por Antíoco.
Nesse tempo surgiram as profecias de
Daniel (capítulos 8 a 12), prometendo novamente o reino eterno. Seria o
fim da grande tribulação e o início de uma paz eterna.
No entanto, assim como das outras vezes,
o reino eterno não foi estabelecido, e o povo seleto de Yavé continuou sendo
humilhado pelos gentios. Vieram os romanos, também com seus próprios
deuses, e submeteram toda a Europa, parte da Ásia e da África.
E os judeus não perderam a esperança.
Continuaram pensando em se libertar de Roma e estabelecer o reino prometido.
Mas todos os heróis judeus que tentaram a libertação foram executados. Ao
que parece, um deles deu origem ao Cristianismo, que também passou a pregar o
reino eterno, desta vez sem pecado, sem dor e até sem morte. As pessoas
iriam viver eternamente, novo benefício que não existia nas promessas dos
antigos profetas.
O Império Romano, herdando muito da
cultura grega, prosperou por vários séculos. Para esses novos dominadores, não
importavam muito os deuses que seus súditos adorassem; o que contava eram os
tributos que pagavam. Roma impôs sua paz ao mundo por longo tempo.
Como os judeus tinham a promessa divina
de domínio do mundo - nem desconfiavam mesmo depois de tantas promessas
proféticas que caíram no vazio (Miquéias, Jeremias, Isaías, Daniel, etc.) -,
tentaram várias vezes se libertar, tendo os seus heróis crucificados ou mortos
de outras formas, que um dia os romanos perderam a paciência, destruíram a
cidade santa dos judeus, expulsaram-nos da terra da promessa, vindo os judeus a
viver por quase vinte séculos sem pátria. Incrivelmente, com todos esses
reveses, não perderam a esperança de dominar o mundo. Até hoje, mais da metade
deles ainda acredita que esse messias ainda virá; embora, se esse messias fosse
existir, teria libertado Israel do domínio assírio há mais de dois mil e
quinhentos anos.
Dentro do poderoso império romano, um
novo movimento religioso, com sua nova mitologia, pregando que seu líder
executado, sendo um deus, teria ressuscitado no terceiro dia de sua execução,
foi se expandindo, conquistando a maioria da população, e, no século IV, até o
imperador romano se cristianizou e adotou o Cristianismo como a religião oficial
do Império.
O domínio cristão foi pior do que os
anteriores, trouxe o maior atraso
no desenvolvimento científico, impondo o maior terror da história. Com sua
mentalidade impositiva, o novo poder político-religioso foi destruindo tudo e
todos que tivessem ligação com qualquer pensamento não cristão. Qualquer
cientista que descobrisse alguma coisa que colocasse em dúvida as crenças da
igreja era eliminado. Por quase quinze séculos, a Igreja cristã dominou e
atrasou o progresso do mundo.
Apesar da igreja com seus horrores,
conseguimos descobrir que transtornos mentais não são possessão de demônio; que
as enfermidades, na maioria das vezes têm como causadores seres invisíveis, mas
não são deuses nem demônios, e sim vírus, bactérias, fungos, seres tão naturais
como nós; sabemos que o universo atual tem bilhões de anos, não tendo sido
criado há pouco mais de seis milênios como diz a palavra sagrada dos judeus e
cristãos; descobrimos que os trovões não são vozes de nenhum deus; que os
vulcões e terremotos não são obras divinas, mas acomodação geológica derivada da
pressão interna do planeta; que o homem não foi criado do barro há seis mil
anos, mas descende de uma longa cadeia evolutiva, conforme mostram os fósseis;
que a Terra não é o centro do universo como teria dito o deus dos judeus; que
o
mundo nunca foi completamente inundado como diz a tal palavra divina; que
as
estrelas não são aquelas bolinhas capazes de cair sobre a Terra como pensavam os
escritores do Novo Testamento, mas são todas muito maiores do que o Planeta;
a
Ciência já conseguiu encontrar cura para muitos dos males incuráveis que antes
estavam sob o domínio dos deuses e demônios; muitas coisas atribuídas a entes
sobrenaturais já são explicadas fisicamente.
Não obstante todo o conhecimento que
conseguimos desenvolver contra a vontade da religião, mesmo tendo o mundo se
libertado do jugo do Catolicismo, a religião ainda permanece aí tentando
boicotar o conhecimento científico e lutando para dominar a humanidade à força
novamente.
Apesar da religião, conseguimos criar um
mundo bem melhor do que aquele dos tempos em que tudo era comandado pelas
crenças primitivas. Não podemos deixar que os religioso tomem novamente o poder
para nos impor os absurdos arcaicos que teimam em conservar.
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