Apolônio de Tiana (português
brasileiro) ou Apolónio de Tiana (português europeu) (em grego: Απολλώνιος ο
Τυανέας; Tiana, 15 d.C. – Éfeso, c. 100 d.C.)[1] foi um filósofo neo-pitagórico
e professor de origem grega. Seus ensinamentos influenciaram o pensamento
científico por séculos após a sua morte.
Biografia
A principal fonte sobre a sua biografia é a "Vida de Apolônio", de Flávio
Filóstrato, na qual alguns estudiosos identificam uma tentativa de construir uma
figura rival à de Jesus. Apolônio também é citado nas obras "A Vida de
Pitágoras", de Porfírio, e "A Vida Pitagórica", de Jâmblico.
Apolônio foi vegetariano e discípulo de Pitágoras, com base no seu escrito,
abaixo:
Por mim discerni uma certa sublimidade na disciplina de Pitágoras, e como uma
certa sabedoria secreta capacitou-o a saber, não apenas quem ele era a si mesmo,
mas também o que ele tinha sido; e eu vi que ele se aproximou dos altares em
estado de pureza, e não permitia que a sua barriga fosse profanada pelo
partilhar da carne de animais; e que ele manteve o seu corpo puro de todas as
peças de roupa tecidas de refugo de animais mortos; e que ele foi o primeiro da
humanidade a conter a sua própria língua, inventando uma disciplina de silêncio
descrito na frase proverbial, 'Um boi senta-se sobre ela.' Eu também vi que o
seu sistema filosófico era em outros aspectos oracular e verdadeiro. Então corri
a abraçar os seus sábios ensinamentos…
Nascido na cidade de Tiana, na província da Capadócia, na Ásia Menor, então
integrante do Império Romano, alguns anos antes da era cristã, foi educado na
cidade vizinha de Tarso, na Cilícia, e no templo de Esculápio em Aegae, onde
além da Medicina se dedicou às doutrinas de Pitágoras, vindo a adotar o
ascetismo como hábito de vida em seu sentido pleno.
Após manter um juramento de silêncio por cinco anos, ele partiu da Grécia
através da Ásia e visitou Nínive, a Babilônia e a Índia, absorvendo o misticismo
oriental de magos, brâmanes e sacerdotes. Durante esta viagem, e subsequente
retorno, ele atraiu um escriba e discípulo, Damis, que registrou os
acontecimentos da vida do filósofo. Estas notas, além de cobrirem a vida de
Apolônio, compreendem acontecimentos relacionando a uma série de imperadores, já
que viveu 100 anos. Posteriormente essas notas chegaram às mãos da imperatriz
Julia Domna, esposa de Septímio Severo, que encarregou Filóstrato de usá-las
para elaborar uma biografia do sábio.
A narrativa dessas viagens por Damis, reproduzida por Filóstrato, é tão repleta
de milagres, que muitos a têm considerado como de caráter imaginário. Em seu
retorno à Europa, Apolônio foi saudado como um mágico, e recebeu as maiores
homenagens quer de sacerdotes quer de pessoas em geral. Ele próprio se
atribuiu apenas o poder de prever o futuro; já em Roma afirma-se que
trouxe à vida o filho de um senador romano. Na auréola do seu poder
misterioso ele atravessou a Grécia, a Itália e a Espanha. Também se afirmou
que foi acusado de traição tanto por Nero quanto por Domiciano, mas escapou por
meios milagrosos. Finalmente Apolônio construiu uma escola em Éfeso, onde
veio a falecer, aparentemente com a idade de cem anos. Filóstrato mantém o
mistério da vida do seu biografado ao afirmar: Com relação à maneira de sua
morte, ‘se ele morreu’, as narrativas são diversas.
Helena Blavatsky lembra, acerca de Apolônio, que, se tudo sobre ele não passasse
de uma ficção novelesca, Tito, mal refeito das fadigas do cerco de Jerusalém,
não se apressaria a escrever ao Sábio, para marcar um encontro em Argos, e dizer
ainda que, sendo ele, Tito, e seu pai devedores de tudo a Apolônio, o seu
primeiro pensamento havia de ser dedicado ao seu benfeitor.[2]
Esta obra de Filóstrato é geralmente considerada como um trabalho de ficção
religiosa. Ela contém um número de histórias obviamente fictícias, através das
quais, no entanto, não é de todo impossível discernir o caráter geral do homem.
No século III, Hierócles esforçou-se para provar que as doutrinas e a vida de
Apolônio eram mais valiosas do que as de Jesus, e, em tempos modernos, Voltaire
e Charles Blount (1654-1693), o livre-pensador inglês, adotaram um ponto de
vista semelhante. À parte este elogio extravagante, é absurdo considerar
Apolônio meramente como um charlatão vulgar e um fazedor de milagres. Se
descartamos a massa de mera ficção que Filóstrato acumulou, ficaremos com um
reformador sincero, altamente imaginativo, que tentou promover um espírito de
moralidade prática.
Estátua de Apolônio de Tiana de autoria de Barthélémy de Mélo no Parque dos
Filósofos, Versalhes.
Escreveu muitos livros e tratados sobre uma ampla variedade de assuntos durante
a sua vida, incluindo ciência, medicina, e filosofia.
As suas teorias científicas foram finalmente aplicadas à ideia geocêntrica de
Ptolemeu que o Sol revolvia ao redor da Terra. Algumas décadas após a sua morte,
o imperador romano Adriano colecionou os seus trabalhos e assegurou a sua
publicação por todo o império.
A fama de Apolônio ainda era evidente em 272 d.C., quando o imperador Aureliano
sitiou Tiana, que tinha se rebelado contra as leis romanas. Num sonho ou numa
visão, Aureliano afirmava ter visto Apolônio falar com ele, suplicando-lhe
poupar a cidade de seu nascimento. À parte, Aureliano contou que Apolônio lhe
disse Aureliano, se você deseja governar, abstenha-se do sangue dos inocentes!
Aureliano, se você conquistar, seja misericordioso! O imperador, que admirava
Apolônio, poupou desse modo a cidade. Também no século III, Flávio Vopisco, em
seu escrito sobre Aureliano, cita Apolônio.
O Livro de Pedras, do alquimista medieval islâmico Jabir ibn Hayyan, é uma
análise prolongada de trabalhos de alquimia atribuídos a Apolônio (aqui chamado
"Balinas") (ver, por exemplo, Haq, que fornece uma tradução para o inglês de
muito do conteúdo do "Livro de Pedras").
Devido a algumas semelhanças de sua biografia com a de Jesus, Apolônio foi, nos
séculos seguintes, atacado pelos Padres da Igreja sendo considerado desde um
impostor até um personagem satânico. Mas houve também quem o exaltou
comparando-o aos grandes magos do passado, como Moisés e Zoroastro.
Apolônio faleceu em Éfeso, cerca de 100 d.C.
Referências
Dzielska, M (1986). Apollonius of Tyana in legend and history. Roma: L'Erma di
Bretschneider. pp. 19–50. ISBN 88-7062-599-0
H.P.B., BLAVATSKY, Helena Petrovna. A Doutrina Secreta, v. V. Tradução de
Raimundo Mendes Sobral. MCMLXXX. [S.l.: s.n.]
<https://pt.wikipedia.org/wiki/Apol%C3%B4nio_de_Tiana>