ARMA NÃO MATA.
O QUE MATA É O SER HUMANO
"Os únicos
beneficiados com políticas de desarmamento são o estado e quem vive à margem das
leis: políticos e bandidos
27/02/2014 - Por Francisco Razzo *
O pressuposto fundamental do pacifismo desarmarmentista é nobre na medida em que
é estúpido: busca erradicar uma parcela considerável da violência desarmando o
cidadão comum por meio da força coercitiva de estado. É nobre por pretender a
paz entre os homens e estúpido por não compreender que a arma de fogo não passa
de um agente instrumental da violência e não a causa. Arma não mata.
A consequência imediata desse excesso de nobreza e
estupidez é que, no final das contas, a violência sempre é quitada com suor e
sangue do cidadão comum (quem busca levar a vida do modo mais razoável possível
dentro do espírito das leis). O homem comum não saca uma arma com a intenção de
matar seus desafetos e muito menos faz “um corre” em vista de suas conquistas. A
arma de fogo é, por natureza, moralmente neutra. Afinal, quem mata é o homem.
Na realidade os únicos beneficiados com políticas de desarmamento são o estado e
quem vive à margem das leis: políticos e bandidos. A sociedade civil sempre foi
esmagada por essas duas forças: a força motora de crescimento do poder do
estado, inversamente proporcional ao enfraquecimento do poder dos indivíduos, e
a força desestabilizadora do poder de criminosos, inversamente proporcional à
estabilidade moral e jurídica que rege as relações entre os homens.
O poder do estado e o poder dos criminosos comungam de uma mesma natureza
parasitária e opressora: o estado detém o monopólio do uso da força e, por isso,
da arma de fogo. O criminoso está pouco se lixando para
quem detém a legitimidade do monopólio da violência – ora, pra quem já vive à
margem da lei não faz o menor sentido a determinação de uma lei de desarmamento.
A presença benevolente do estado paternalista enfraquece a
fibra moral da sociedade civil; a ação criminosa atua justamente nesse
enfraquecimento. O problema da violência não diz respeito à quantidade de
arma de fogo circulando na sociedade civil, mas à quantidade de parasitas que
mimetiza a ação do poder soberano do estado. Como já demonstrava Santo
Agostinho, a diferença entre um chefe de estado e um chefe de quadrilha está no
tamanho e não na natureza.
Contudo, a discussão de fundo sobre o desarmamento pode ser resumida nos
seguintes termos: o controle estatal de armas de fogo aumentará ou diminuirá o
número de mortes por armas de fogo e, consequentemente, os números da violência?
Pacifistas acreditam, a despeito dos fatos, na nobreza da alma humana e postulam
o seguinte princípio – uma espécie de filho bastardo do determinismo
cientificista: menos armas, menos violência; mais armas, mais violência. Por
outro lado, o homem atento aos fatos sabe que a realidade humana não funciona
bem assim: quem escolhe matar é o homem; e a violência é, em última instância,
derivada da tentação de subjugar o outro, portanto, derivada de péssimas
escolhas humanas. Arma nunca escolhe matar.
A verdade é o que princípio determinista do conto de fadas dos pacifistas –
“menos armas, menos violência; mais armas, mais violência” – não faz o menor
sentido em um mundo de homens reais.
Se de repente todas as armas de fogo desaparecessem da face da Terra,
inventariamos outros meios para atacar, roubar, matar e, na mesma proporção, nos
defender.
*Francisco Razzo - mestre em filosofia pela Pontifícia Universidade Católica de
São Paulo, graduado em filosofia pela Faculdade de São Bento (SP) e escreve para
o blog Ad Hominem – Humanidades e outras falácias.
http://www.incorporativa.com.br/mostranews.php?id=11112