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AS BASES DO ÓDIO
As base do
ódio que causa mais tragédias estão concentradas na religião: a
exclusividade da verdade, o racismo, a xenofobia, a homofobia.
Tudo se pode ver claramente na reportagem reproduzida abaixo,
confrontando seus motivos com os fundamentos bíblicos.
"O ódio mora ao lado
Os noruegueses não imaginavam que um cidadão comum pudesse provocar
um massacre. O assassino foi preso, mas suas ideias se espalham.
Estará o Brasil imune?
Rodrigo Turrer
O bairro do Estácio, no centro do
Rio de Janeiro, é palco de um exercício semanal contra o ódio. Toda
quarta-feira, religiosamente, judeus, luteranos, católicos, budistas,
muçulmanos, umbandistas e pentecostais se encontram, às 16 horas, na sede da
Congregação Umbandista do Brasil. Ali tentam encontrar juntos soluções para
um problema comum a todas as crenças: a intolerância religiosa. A
comissão, organizada pela sociedade civil, conta ainda com a participação de
representantes do Ministério Público, do Judiciário e da Polícia Civil. Mais
de 50 líderes externam preocupações que vão da destruição de templos à
agressão física. Na pauta da última quarta-feira, um novo assunto: o
massacre promovido por Anders Behring Breivik, o fundamentalista de
extrema direita que matou 77 pessoas na Noruega, no último dia 22. “O
que houve deve ser visto como um exemplo para nós”, afirmou o babalorixá
Ivanir dos Santos. “Os fatos não são isolados. O que aconteceu por lá pode
ocorrer aqui.” Exagero? Não para muitos que estudam a disseminação dos
crimes de ódio e lutam contra ela, como o delegado Henrique Pessoa, titular
da 4a Delegacia de Polícia do Rio, designado para tratar de crimes de
intolerância. “Fatos como os da Noruega nos preocupam bastante. Sabemos que
há articulações em nível mundial. Embora pareça algo distante, pode estar
muito mais perto do que imaginamos.”
Atos de terror movidos pelos mais
diversos tipos de ódio podem partir de onde menos se espera. Breivik era,
aparentemente, um cidadão-modelo antes de promover um banho de sangue. Quem
trabalhou e estudou com ele afirmava que se tratava de um “colega exemplar”,
um homem pacato e tímido. Até então sem ficha criminal, e a polícia se
pergunta como deixou um criminoso em potencial escapar. Em março deste ano,
seu nome apareceu em uma lista de 60 suspeitos que precisariam ser
investigados pela Agência de Segurança da Polícia (PST, na sigla em inglês).
Entrou na “lista de alerta” depois de comprar fertilizantes em uma empresa
polonesa de produtos químicos – a substância teria sido usada na fabricação
de bombas. A PST interrompeu sua investigação por imaginar que ele usaria o
produto em sua fazenda. “Breivik viveu uma vida incrivelmente dentro da
lei”, afirmou a diretora da agência, Janne Kristiansen. O ex-cidadão-modelo
agora está na cadeia e aguarda para 2012 o julgamento em que pode ser
acusado de terrorismo ou crimes contra a humanidade.
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Crianças rezam pelas vítimas do atirador
Wellington Menezes, no Rio de Janeiro. A tragédia de Realengo
mostrou que o Brasil não está livre dos crimes de ódio |
Essa vida dentro da lei camuflou
por nove anos o planejamento do massacre. Em um documento de 1.516 páginas
que distribuiu a seus 7 mil contatos no Facebook, Breivik detalhou suas
intenções e o método para executar seu plano. Em 2083: a European
declaration of independence (2083: uma declaração europeia de
independência), conta que há três anos criou a falsa empresa agrícola
Breivik Geofarm para poder comprar fertilizantes e fazer bombas. Entre
empréstimos contraídos com nove cartões de crédito e economias pessoais,
gastou e 310 mil para financiar sua loucura. A polícia diz que Breivik agiu
sozinho. No documento ele se descreve como “um herói da Europa” e
classificou seus crimes de “necessários para começar uma guerra”
contra o “multiculturalismo” e a “islamização” europeia.
Como era de esperar em uma
democracia civilizada e avançada, os atos bárbaros de Breivik despertaram
nos noruegueses uma reação contrária à que ele desejava. Na segunda-feira 25
de julho, 150 mil pessoas tomaram as ruas de Oslo em uma passeata que ficou
conhecida como A Marcha das Rosas. A multidão carregou milhares de flores e
velas e as depositou em locais perto dos ataques, em memória das vítimas.
“Esta noite, as ruas estão repletas de amor”, disse o príncipe Haakon, da
Noruega. Ele se pronunciou pouco antes de o primeiro-ministro norueguês,
Jens Stoltenberg, declarar que “o mal pode matar uma pessoa, mas não pode
matar um povo”.
O apoio aos noruegueses veio de
todas as partes, de personalidades, anônimos e governos. Perdidos entre as
vozes solidárias, porém, surgiram políticos de extrema direita que
defenderam as teses radicais de Breivik. “Algumas das ideias são boas. Fora
a violência, algumas das ideias são ótimas”, afirmou Mario Borghezio,
deputado do Parlamento europeu filiado à Liga do Norte, partido de extrema
direita italiano aliado do primeiro-ministro Silvio Berlusconi.
Francesco Speroni, outro líder da Liga do Norte, defendeu tanto seu colega
de partido como Breivik. “São ideias em defesa da civilização ocidental”,
afirmou. Na França, Jacques Coutela, membro da conservadora Frente Nacional,
chamou Breivik de “um ícone” e “o maior defensor da
Europa”.
A escala dos intolerantes
Ameaças xenófobas e homofóbicas pela internet são as que
mais crescem no Brasil
Apesar de absurdas para um mundo
globalizado em pleno século XXI, as ideias que motivaram um assassinato em
massa não apenas cruzaram as fronteiras da Noruega. Já chegaram ao Brasil.
Em sites e blogs, há todo tipo de comentários intolerantes louvando os
assassinatos. No site de relacionamento Orkut, duas comunidades foram
criadas dois dias depois dos atentados na Noruega. Ambas chamam Breivik de
“herói”, “mestre” e até “sancto” (sic). Em um grupo criado para glorificar
Wellington Menezes, que matou 12 crianças depois de invadir a escola Tasso
da Silveira, em Realengo, na Zona Oeste do Rio, seus 271 membros lançaram um
novo fórum de discussão. O título diz tudo: “Anders Behring Breivik muito
melhor q o Wellington”. Interessada em entender seus defensores, ÉPOCA criou
um perfil fictício no Orkut, tornou-se parte da comunidade e negociou
entrevistas com vários deles. Alguns aceitaram responder a perguntas por
e-mail, e cada um enviou os dados pessoais que achou conveniente. Os
depoimentos são impressionantes. “ métodos de Anders são justificáveis. Eu
faria o mesmo se tivesse a coragem e meios necessários”, diz Imenon Bezerra,
de 20 anos, de Belém, Pará. Em sua opinião, Anders é “um homem de coragem,
que não quer ver seu país se tornar um Brasil da vida. Cheio de
raças,
credos e cores, um grande atraso para uma sociedade”. O paulistano
Christian, de 18 anos, pensa de forma parecida. “Não admiro Anders por ser
de extrema direita e neonazista, mas se ele fez isso foi por uma causa que
ele luta e, por esse lado, eu o admiro.”
Homicidas admirados
Comunidades brasileiras em sites de relacionamento
homenageiam tanto Wellington como Breivik
O
“mestre” Anders Breivik
Comunidade criada dois dias depois de o
norueguês matar 76 pessoas. O criador do grupo chama
Breivik de “Herói” e “Mestre”
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O
“sancto” Wellington
Com 271 membros, faz elogios ao assassino
de Realengo, que é tratado como “nobre guerreiro”
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O engenheiro Emerson,
criador de uma comunidade de adoração a Anders, vai além: prevê um atentado
similar a de seu ídolo no Brasil, em breve. “É possível que aconteça, porque
é uma bomba-relógio prestes a explodir. Conheço muitos
extremistas revoltados com a discriminação que sofremos por não podermos
expressar opiniões contra a mistura de raças,
contra o feminismo, contra o homossexualismo”, afirma. O engenheiro
diz que seus avôs eram “alemães e espanhóis” e que o
biotipo “loiro de olhos claros” deveria governar o mundo. “Eu viajo
muito na minha profissão, fui várias vezes à África e vejo como o
subdesenvolvimento lá é absurdo, por causa da miscigenação.” Emerson
diz ter lido as 1.500 páginas do manifesto de Anders – e defende com
veemência as colocações do norueguês sobre o Brasil. No documento, ele faz
12 menções ao Brasil, que descreve como um país de “baixa coesão social” e
“condenado ao subdesenvolvimento” por causa da miscigenação.
Até que ponto corremos o risco de
a admiração virtual de extremistas se tornar uma adesão real e violenta?
“Acho exagero, porque a situação na Europa é mais grave, graças ao grande
fluxo de imigração nos últimos anos. No Brasil, somos mais cordiais e
convivemos há mais tempo com a miscigenação”, afirma Livio Sansone,
coordenador de pós-graduação em estudos étnicos da Universidade Federal da
Bahia (UFBA). “Mas loucos existem e aparecem em todo lugar.” O problema, na
verdade, pode estar aí. Até invadir a escola em Realengo, Wellington era
apenas um rapaz tímido e retraído, segundo alguns meio “maluco”, onipresente
em comunidades radicais do Orkut. Anders Breivik, ex-cidadão “exemplar”, nem
chegava a isso. “É preocupante o crescimento dessas comunidades nos sites,
porque a incitação à violência e a apologia da intolerância potencializam a
violência de algumas pessoas, que podem, sim, passar às vias de fato”,
afirma Rodrigo Nejm, psicólogo e diretor de prevenção da ONG Safernet. A
entidade, que coordena a Central Nacional de Denúncias de Crimes
Cibernéticos em parceria com a Polícia Federal e o Ministério Público
Federal, criou um mecanismo que permite a qualquer pessoa denunciar crimes
de intolerância na internet. O acompanhamento dessas denúncias, feito desde
2006, mostra que os casos de xenofobia e homofobia se multiplicaram (leia o
quadro na página 100). “Esses casos se agravam quando há manifestações
púbicas de intolerância”, afirma.
Aos poucos o ódio deixa de ser
restrito às palavras e passa a pautar ações de violência. Em São Paulo, nos
últimos 12 meses, a polícia registrou pelo menos seis ataques a
homossexuais, com oito vítimas. Em 2009, uma bomba de fabricação caseira
explodiu no Largo do Arouche, no centro de São Paulo, e feriu pelo menos 21
pessoas que haviam participado da Parada Gay paulistana. Só no Estado de São
Paulo, a Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi)
investiga 200 integrantes de 25 grupos considerados perigosos. Em maio deste
ano, a polícia desmantelou uma das principais quadrilhas neonazistas do
país, o Neuland. O paulista Ricardo Barollo, de 34 anos, mentor do grupo,
foi preso acusado de mandar matar um casal em uma disputa de poder. O
Neuland tinha ramificações no território nacional e pretendia eleger
vereadores e deputados para “fragmentar a República e fundar um país, de
nome ‘Neuland’ (Terra Nova, na tradução do alemão)”, na Região Sul e parte
do Sudeste.
No Rio de Janeiro, desde que o
Departamento para Crimes de Intolerância foi criado, em 2008, o número de
denúncias saltou de 30 para 120. Para o delegado Henrique Pessoa, uma
manifestação extrema como a de Anders pode incentivar outros atos de
violência. “O país tem de ter cuidado, pois quando se pensa em Brasil não se
pensa em terrorismo. Mas não somos mais aquela aldeiazinha que ninguém
observava”, afirma Pessoa. Para lidar com os futuros eventos internacionais,
o governo federal decidiu criar a Secretaria Extraordinária de Segurança
para Grandes Eventos. Ela ficará encarregada de coordenar os trabalhos de
segurança em três acontecimentos específicos: a Rio +20, Conferência das
Nações Unidas em Desenvolvimento Sustentável (2012), a Copa das
Confederações (2013) e a Copa do Mundo (2014). A previsão é que a secretaria
tenha um orçamento de R$ 1,6 bilhão para a compra de equipamentos e
capacitação de equipes.
Será preciso mais do que isso. A
fiscalização deficiente das fronteiras com países vizinhos cria buracos sem
policiamento que permitem a entrada de armas e drogas. A facilidade de
conseguir armamento é uma das principais preocupações nos Estados Unidos,
onde a tragédia norueguesa trouxe a lembrança do atentado de Oklahoma, em
1995, quando Timothy J. McVeigh usou explosivos para matar 168 pessoas.
Analistas que rastreiam atividades de grupos extremistas de direita afirmam
que o número de milícias pulou de 149 em 2008 para 824 em 2010. “Aqui os
extremistas são muito mais capazes de cometer atos violentos, porque têm
acesso a armas e munição”, afirma Daryl Johnson, ex-analista de terrorismo
do Departamento de Segurança Nacional. No Brasil, onde 6 milhões de armas
ilegais circulam livremente, instrumentos para o exercício violento do ódio
não faltam.
Revista época, 1º de agosto de
2011, págs. 96-100).
Muitos devem
estar com vontade de me matar também, porque estou relacionando essas
bases de ódio à religião, enquanto eles pregam que a religião promove o
amor. Mas vou explicar por quê.
A
exclusividade da verdade - Para os judeus, bem como para os cristãos
da Idade Média, quem não adorasse seu deus deveria morrer. É o que
ainda fazem os radicais religiosos de hoje.
O racismo
- Para a maioria dos religiosos, após o dilúvio universal, a população
ficou dividida entre as raças descendentes de Sem, Cão e Jafé. Os
descendentes de cão, povo da África, foram amaldiçoados, devendo ser
servos de seus irmãos, o que justificou religiosamente a outra maldição
do mundo: a escravidão. Isso ficou bem claro no Manual Bíblico de
Henry H. Halley: “Os descendentes de Cão seriam raças de servos;
os semitas preservariam o conhecimento do verdadeiro Deus; as raças jaféticas haveriam de dominar
vastíssima porção do mundo e suplantar as raças semíticas como doutrinadores de
Deus. Foi cumprido isso quando os israelitas tomaram Canaã, os gregos
conquistaram Sidom, e Roma capturou Cartago. Desde então as raças jaféticas têm
dominado o mundo e se têm convertido ao Deus de Sem enquanto as raças semíticas
têm ocupado posição de relativa insignificância, e as raças camíticas, uma
condição servil. Foi uma admirável previsão da história.” (Obra citada, pág.
74).
A xenofobia
- Os judeus teriam recebido ordem de Yavé para destruir todas as nações
da região que teria prometido a Abraão.
A homofobia
- “Com homem não te deitarás como se fosse mulher; é abominação” e “Se
também um homem se deitar com outro homem, como se fosse mulher, ambos
praticaram coisa abominável; serão mortos; o seu sangue cairá sobre
eles”. (Levítico, 18: 22; 20: 13). Era segundo o pensamento dos hebreus,
a vontade de Yavé, o deus criador de todas as coisas.
E, assim, com o
apoio bíblico, as
principais religiões (judaísmo, cristianismo e islamismo) trouxeram a
semente do ódio até os nossos dias.
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