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BATERAM PANELAS POR QUÊ?
Safatle: “A era das panelas em fúria terminou. A verdadeira era da indignação
pode começar”
Publicado em 20 maio, 2016 12:14 pm
Da coluna de Vladimir Safatle na Folha:
“Sete CITados na Operação Lava Jato
viram ministro e ganham foro privilegiado”, “Novo
ministro dos Transportes é suspeito de desvio de verba de merenda escolar”,
“Itamaraty fornece passaporte diplomático a pastor citado
na Lava Jato”, “Brasil tem pela primeira vez
presidente acusado de ser ficha suja”, “Gilmar Mendes [quem mais?]
reenvia processo contra Aécio Neves à Procuradoria-Geral da República em menos
de 24 horas”, “Novo líder do governo na Câmara é
acusado de homicídio”.
Digamos que todo o processo de “impeachment” de Dilma Rousseff
tivesse sido, de fato, impulsionado pela indignação popular contra a corrupção
sistêmica no governo.
Se este fosse realmente o caso, teríamos, neste exato momento, um barulho
ensurdecedor de panelas, milhares de pessoas iradas vestindo verde e amarelo nas
ruas e a imprensa em coro pedindo a destituição do presidente interino e seu
governo postiço de corruptos. Uma semana bastou para mostrar ao mundo o grau
zero de comprometimento contra a corrupção da oligarquia que tomou de assalto o
poder.
Mas não, meus amigos, vocês não estão ouvindo panelas, nem vendo seu vizinho
urrar impropérios contra o governo, nem o senhor Sérgio Moro continua no
noticiário com sua pretensa caça implacável e destemida contra usurpadores do
bem comum.
(…)
Era claro que o Brasil entrara, desde 2013, em um compasso insuportável de
frustração. Haviam prometido ao povo brasileiro que nosso país seria a quinta
economia do mundo, que a Copa do Mundo e as Olimpíadas seriam momentos mágicos
de aquecimento da economia e reconstituição da infraestrutura de nossas cidades,
que estaríamos nadando em dinheiro do pré-sal com 75% destes rendimentos
aplicados em educação.
No entanto, o que se viu foram cidades cada vez mais excludentes com preços
exorbitantes de imóveis, serviços públicos sucateados, desenvolvimento
concentrado e aumento exponencial do endividamento das famílias. Contra isso, o
governo Dilma só ofereceu imobilismo e o discurso de que “o Brasil tinha
avançado muito, mas precisa avançar mais”.
Ninguém precisa ser PhD em psicologia social para perceber a situação explosiva
em que nos encontrávamos. Duas saídas eram possíveis.
A primeira era a consolidação de uma dinâmica de transformações sociais radicais
por meio da abertura de espaço à emergência de novos sujeitos políticos com
clara força de atualização de visões alternativas de desenvolvimento social. Mas
isto não ocorreu, a classe política brasileira estava completamente envelhecida
para abrir tal espaço, até mesmo as forças oposicionistas eram incapazes de
mobilizar alguém em prol de um projeto. Elas só conseguiam mobilizar as pessoas
contra algo.
(…)
Expiada a frustração, sacrificados os inimigos, todos
podiam então voltar para casa e se submeter aos mesmos políticos corruptos de
sempre, enquanto eles espoliam ainda mais nossos direitos. Assim, a era das
panelas em fúria terminou. Agora, a verdadeira era da indignação pode começar.
<http://www.diariodocentrodomundo.com.br/essencial/safatle-a-era-das-panelas-em-furia-terminou-a-verdadeira-era-da-indignacao-pode-comecar/>
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