BIODIVERSIDADE
Biodiversidade ou diversidade biológica é a diversidade da natureza viva. Desde
1986, o conceito tem adquirido largo uso entre biólogos, ambientalistas, líderes
políticos e cidadãos informados no mundo todo. Este uso coincidiu com o aumento
da preocupação com a extinção, observado nas últimas décadas do século XX.
Pode ser definida como a variedade e a variabilidade existente entre os
organismos vivos e as complexidades ecológicas nas quais elas ocorrem. Ela pode
ser entendida como uma associação de vários componentes hierárquicos:
ecossistema, comunidade, espécies, populações e genes em uma área definida. A
biodiversidade varia com as diferentes regiões ecológicas, sendo maior nas
regiões tropicais do que nos climas temperados.
Refere-se, portanto, à variedade de vida no planeta Terra, incluindo a variedade
genética dentro das populações e espécies, a variedade de espécies da flora, da
fauna, de fungos macroscópicos e de microrganismos, a variedade de funções
ecológicas desempenhadas pelos organismos nos ecossistemas; e a variedade de
comunidades, hábitats e ecossistemas formados pelos organismos.
A biodiversidade refere-se tanto ao número (riqueza) de diferentes categorias
biológicas quanto à abundância relativa (equitatividade) dessas categorias. E
inclui variabilidade ao nível local (alfa diversidade), complementaridade
biológica entre habitats (beta diversidade) e variabilidade entre paisagens
(gama diversidade). Ela inclui, assim, a totalidade dos recursos vivos, ou
biológicos, e dos recursos genéticos, e seus componentes.
A espécie humana depende da biodiversidade para a sua sobrevivência.
Não há uma definição consensual de biodiversidade. Uma definição é: "medida da
diversidade relativa entre organismos presentes em diferentes ecossistemas".
Esta definição inclui diversidade dentro da espécie, entre espécies e
diversidade comparativa entre ecossistemas.
Outra definição, mais desafiante, é "totalidade dos genes, espécies e
ecossistemas de uma região". Esta definição unifica os três níveis tradicionais
de diversidade entre seres vivos:
* diversidade genética - diversidade dos genes em uma espécie.
* diversidade de espécies - diversidade entre espécies.
* diversidade de ecossistemas - diversidade em um nível mais alto de
organização, incluindo todos os níveis de variação desde o genético.
A diversidade de espécies é a mais fácil de estudar, mas há uma tendência da
ciência oficial em reduzir toda a diversidade ao estudo dos genes. Isto leva ao
próximo tópico.
Índice
Abordagens da biodiversidade
* Para os biólogos geneticistas, a biodiversidade é a diversidade de genes e
organismos. Eles estudam processos como mutação, troca de genes e a dinâmica do
genoma, que ocorrem ao nível do DNA e constituem, talvez, a evolução.
* Para os biólogos zoólogos ou botânicos, a biodiversidade não é só apenas a
diversidade de populações de organismos e espécies, mas também a forma como
estes organismos funcionam. Organismos surgem e desaparecem. Locais são
colonizados por organismos da mesma espécie ou de outra. Algumas espécies
desenvolvem organização social ou outras adaptações com vantagem evolutiva. As
estratégias de reprodução dos organismos dependem do ambiente.
* Para os ecólogos, a biodiversidade é
também a diversidade de interações duradouras entre espécies. Isto se aplica
também ao biótipo, seu ambiente imediato, e à ecorregião em que os organismos
vivem. Em cada ecossistema os organismos são parte de um todo, interagem uns com
os outros mas também com o ar, a água e o solo que a cultura humana tem sido
determinada pela biodiversidade, e ao mesmo tempo as comunidades humanas têm
dado forma à diversidade da natureza nos níveis genético, das espécies e
ecológico.
A biodiversidade é fonte primária de recursos, fornecendo comida (colheitas,
animais domésticos, recursos florestais e peixes), fibras para roupas, madeira
para construções, remédios e energia. Esta "diversidade de colheitas" é também
chamada agrobiodiversidade.
Os ecossistemas também nos fornecem "suportes de produção" (fertilidade do solo,
polinizadores, decompositores de resíduos, etc.) e "serviços" como purificação
do ar e da água, moderação do clima, controle de inundações, secas e outros
desastres ambientais.
Se os recursos naturais são de interesse econômico para o Homem, a importância
econômica da biodiversidade é também crescentemente percebida. Novos produtos
são desenvolvidos graças a biotecnologias, criando novos mercados. Para a
sociedade, a biodiversidade é também um campo de trabalho e lucro. É necessário
estabelecer um manejo sustentável destes recursos.
Finalmente, o papel da biodiversidade é "ser um espelho das nossas relações com
as outras espécies de seres vivos", uma visão ética dos direitos, deveres.
Pontos críticos da biodiversidade
Diversas espécies epífitas numa floresta úmida da América Central. Os
ecossistemas da zona intertropical albergam a maior parte da biodiversidade
mundial actual.
Um "ponto crítico" (hot spot) de biodiversidade é um local com muitas espécies
endêmicas. Ocorrem geralmente em áreas de impacto humano crescente. A maioria
deles está localizada nos trópicos
Alguns deles:
* O Brasil tem 1/5 da Biodiversidade mundial, com 50 000 espécies de plantas,
5000 de vertebrados, 10-15 milhões de insectos, milhões de microorganismos.
* A Índia apresenta 8% das espécies descritas, com 47 000 espécies de plantas e
81 000 de animais.
Biodiversidade: tempo e espaço
A biodiversidade não é estática. É um sistema em constante evolução tanto do
ponto de vista das espécies como também de um só organismo. A meia-vida média de
uma espécie é de um milhão de anos e 99% das espécies que já viveram na Terra
estão hoje extintas.
A biodiversidade não é distribuída igualmente na Terra. Ela é, sem dúvida, maior
nos trópicos. Quanto maior a latitude, menor é o número de espécies, contudo, as
populações tendem a ter maiores áreas de ocorrência. Este efeito que envolve
disponibilidade energética, mudanças climáticas em regiões de alta latitude é
conhecido como efeito Rapoport.
Existem regiões do globo onde há mais espécies que outras. A riqueza de espécies
tendem a variar de acordo com a disponibilidade energética, hídrica (clima,
altitude) e também pelas suas histórias evolutivas.
O valor econômico da biodiversidade
Ecólogos e ambientalistas são os
primeiros a insistir no aspecto econômico da protecção da diversidade biológica.
Deste modo, Edward O. Wilson escreveu em 1992 que a biodiversidade é uma das
maiores riquezas do planeta, e, entretanto, é a menos reconhecida como tal (la
biodiversité est l'une des plus grandes richesses de la planète, et pourtant la
moins reconnue comme telle).
A maioria das pessoas vê a biodiversidade como um reservatório de recursos que
devem ser utilizados para a produção de produtos alimentícios, farmacêuticos e
cosméticos. Este conceito do gerenciamento de recursos biológicos provavelmente
explica a maior parte do medo de se perderem estes recursos devido à redução da
Biodiversidade. Entretanto, isso é também a origem de novos conflitos envolvendo
a negociação da divisão e apropriação dos recursos naturais.
Uma estimativa do valor da biodiversidade é uma pré-condição necessária para
qualquer discussão sobre a distribuição da riqueza da Biodiversidade. Estes
valores podem ser divididos entre:
* valor intrínseco – todas as espécies são importantes intrinsecamente, por uma
questão de ética.
* valor funcional – cada espécie tem um papel funcional no ecossistema. Por
exemplo, predadores regulam a população de presas, plantas fotossintetizantes
participam do balanço de gás carbônico na atmosfera, etc.
* valor de uso directo – muitas espécies são utilizadas directamente pela
sociedade humana, como alimentos ou como matérias primas para produção de bens.
* valor de uso indirecto – outras espécies são indirectamente utilizadas pela
sociedade. Por exemplo criar abelhas em laranjais favorece a polinização das
flores de laranja, resultando numa melhor produção de frutos.
* valor potencial – muitas espécies podem futuramente ter um uso directo, como
por exemplo espécies de plantas que possuem princípios activos a partir dos
quais podem ser desenvolvidos medicamentos.
Em um trabalho publicado na Nature em 1997, Constanza e colaboradores estimaram
o valor dos serviços ecológicos prestados pela natureza. A idéia geral do
trabalho era contabilizar quanto custaria por ano para uma pessoa ou mais, por
exemplo, polinizar as plantas ou quanto custaria para construir um aparato que
serviria como mata ciliar no antiaçoriamento dos rios. O trabalho envolveu
vários "serviços" ecológicos e chegou a uma cifra média de US$
33.000.000.000.000,00 (trinta e três trilhões de dólares) por ano, duas vezes o
produto interno bruto mundial.
Como medir a biodiversidade?
Do ponto de vista previamente definido, nenhuma medida objectiva isolada de
biodiversidade é possível, apenas medidas relacionadas com propósitos
particulares ou aplicações.
Para os conservacionistas práticos, essa medida deveria quantificar um valor que
é, ao mesmo tempo, altamente compartilhado entre as pessoas localmente afectadas.
Para outros, uma definição mais abrangente e mais defensável economicamente, é
aquela cujas medidas deveriam permitir a assegurar possibilidades continuadas
tanto para a adaptação quanto para o uso futuro pelas pessoas, assegurando uma
sustentabilidade ambiental. Como conseqüência, os biólogos argumentaram que essa
medida é possivelmente associada à variedade de genes. Uma vez que não se pode
dizer sempre quais genes são mais prováveis de serem mais benéficos, a melhor
escolha para a conservação é assegurar a persistência do maior número possível
de genes.
Para os ecólogos, essa abordagem às vezes é considerada inadequada e muito
restrita.
Inventário de espécies
A Sistemática mede a biodiversidade simplesmente pela distinção entre espécies.
Pelo menos 1,75 milhões de espécies foram descritas; entretanto, a estimativa do
verdadeiro número de espécies existentes varia de 3,6 para mais de 100 milhões.
Diz-se que o conhecimento das espécies e das famílias tornou-se insuficiente e
deve ser suplementado por uma maior compreensão das funções, interações e
comunidades. Além disso, as trocas de genes que ocorrem entre as espécies tendem
a adicionar complexidade ao inventário.
A biodiversidade está ameaçada?
Durante as últimas décadas, uma erosão da biodiversidade foi observada. A
maioria dos biólogos acredita que uma extinção em massa está a caminho. Apesar
de divididos a respeito dos números, muitos cientistas acreditam que a taxa de
perda de espécies é maior agora do que em qualquer outra época da história da
Terra.
Alguns estudos mostram que cerca de 12,5% das espécies de plantas conhecidas
estão sob ameaça de extinção. Alguns dizem que cerca de 20% de todas as espécies
viventes podem desaparecer em 30 anos. Quase todos dizem que as perdas são
decorrentes das actividades humanas, em particular a destruição dos hábitats de
plantas e animais.
Alguns justificam a situação não tanto pelo sobreuso das espécies ou pela
degradação do ecossistema quanto pela conversão deles em ecossistemas muito
padronizados (ex.: monocultura seguida de desmatamento). Antes de 1992, outros
mostraram que nenhum direito de propriedade ou nenhuma regulamentação de acesso
aos recursos necessariamente leva à diminuição dos processos de degradação, a
menos que haja apoio da comunidade.
Entre os dissidentes, alguns argumentam que não há dados suficientes para apoiar
a visão de extinção em massa, e dizem que extrapolações abusivas são
responsáveis pela destruição global de florestas tropicais, recifes de corais,
mangues e outros hábitats ricos.
A domesticação de animais e plantas em larga escala é um factor histórico de
degradação da biodiversidade, gerando a selecção artificial de espécies, onde
alguns seres vivos são seleccionados e protegidos pelo homem em detrimento de
outros.
Manuseio da biodiversidade: conservação, preservação e protecção
A conservação da diversidade biológica tornou-se uma preocupação global. Apesar
de não haver consenso quanto ao tamanho e ao significado da extinção actual,
muitos consideram a biodiversidade essencial.
Há basicamente dois tipos principais de opções de conservação, conservação
in-situ e conservação ex-situ. A in-situ é geralmente vista como uma estratégia
de conservação elementar. Entretanto, sua implementação é às vezes impossível.
Por exemplo, a destruição de hábitats de espécies raras ou ameaçadas de extinção
às vezes requer um esforço de conservação ex-situ. Além disso, a conservação
ex-situ pode dar uma solução reserva para projectos de conservação in-situ.
Alguns acham que ambos os tipos de conservação são necessários para assegurar
uma preservação apropriada.
Um exemplo de um esforço de conservação in-situ é a construção de áreas de
protecção. Um exemplo de um esforço de conservação ex-situ, ao contrário, seria
a plantação de germoplasma em bancos de sementes. Tais esforços permitem a
preservação de grandes populações de plantas com o mínimo de erosão genética.
A ameaça da diversidade biológica estava entre os tópicos mais importantes
discutidos na Conferência Mundial da ONU para o desenvolvimento sustentável, na
esperança de ver a fundação da Global Conservation Trust para ajudar a manter as
colecções de plantas.
Estatuto jurídico da biodiversidade
A biodiversidade deve ser avaliada e sua evolução, analisada (através de
observações, inventários, conservação…) que devem ser levadas em consideração
nas decisões políticas. Está começando a receber uma direcção jurídica.
* A relação "Leis e ecossistema" é muito antiga e tem conseqüências na
biodiversidade. Está relacionada aos direitos de propriedade pública e privada.
Pode definir a protecção de ecossistemas ameaçados, mas também alguns direitos e
deveres (por exemplo, direitos de pesca, direitos de caça).
* "Leis e espécies" é um tópico mais recente. Define espécies que devem ser
protegidas por causa da ameaça de extinção. Algumas pessoas questionam a
aplicação dessas leis.
* "Lei e genes" tem apenas um século. Enquanto a abordagem genética não é nova
(domesticação, métodos tradicionais de selecção de plantas), o progresso
realizado no campo da genética nos últimos 20 anos leva à obrigação de leis mais
rígidas. Com as novas tecnologias da genética e da engenharia genética, as
pessoas estão pensando sobre o patenteamento de genes, processos de
patenteamento, e um conceito totalmente novo sobre o recurso genético. Um debate
muito caloroso, hoje em dia, procura definir se o recurso é o gene, o organismo,
o DNA ou os processos.
A convenção de 1972 da UNESCO estabeleceu que os recursos biológicos, tais como
plantas, eram uma herança comum da humanidade. Essas regras provavelmente
inspiraram a criação de grandes bancos públicos de recursos genéticos,
localizados fora dos países-recursos.
Novos acordos globais (Convenção sobre Diversidade Biológica), dá agora direito
nacional soberano sobre os recursos biológicos (não propriedade). A idéia de
conservação estática da biodiversidade está desaparecendo e sendo substituída
pela idéia de uma conservação dinâmica, através da noção de recurso e inovação.
Os novos acordos estabelecem que os países devem conservar a biodiversidade,
desenvolver recursos para sustentabilidade e partilhar os benefícios resultante
de seu uso. Sob essas novas regras, é esperado que o Bioprospecto ou colecção de
produtos naturais tem que ser permitido pelo país rico em biodiversidade, em
troca da divisão dos benefícios.
Princípios soberanos podem depender do que é melhor conhecido como Access and
Benefit Sharing Agreements (ABAs). O espírito da Convenção sobre Biodiversidade
implica num consenso informado prévio entre o país fonte e o colector, a fim de
estabelecer qual recurso será usado e para quê, e para decidir um acordo
amigável sobre a divisão de benefícios. O bioprospecto pode vir a se tornar um
tipo de Biopirataria quando esses princípios não são respeitados. (Wikipédia,
29/12/2010)
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