Atualizada às 23h13.
O presidente Jair Bolsonaro (PL) participou de sabatina
na Record neste domingo, 23. O evento estava marcado para ser um debate
com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), mas
o candidato não compareceu. Veja abaixo a checagem das falas de
Bolsonaro.
Bolsonaro em sabatina na Record. Foto: Reprodução/YouTube
Crise
O que Bolsonaro disse:
que
o Brasil não entrou em crise durante a pandemia e
que não houve alta do dólar ou queda da bolsa.
O Estadão Verifica
investigou e concluiu que: é falso.
O primeiro ano de pandemia, 2020, registrou quedas históricas do Produto
Interno Bruto (PIB) e da bolsa e aumento do dólar.
Em decorrência dos eventos adversos da pandemia, o
PIB caiu, na média de 2020, 4,1%
ante 2019, o terceiro pior resultado da história. O tombo só foi menor
do que a retração de 4,35% registrada em 1990, ano do confisco das
poupanças pelo governo Collor, que segue marcado com a maior retração
econômica anual de que se tem registro, numa série histórica desde 1901
compilada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), e a
registrada em 1981, em meio à crise da dívida externa, quando o tombo
foi de 4,25%.
O dólar, por sua vez, encerrou aquele ano com
ganho acumulado de mais de 29%,
deixando o real com o segundo pior desempenho global no ano em meio à
pandemia de covid-19.
Já o Ibovespa fechou março de 2020, no início da pandemia, acumulando
queda de 29,90%, aos 73,019
pontos. Foi a maior queda num só mês desde 1998, em meio à crise russa.
Fundo de pensão dos Correios
O que Jair Bolsonaro disse:
que
carteiros têm desconto de R$ 510 reais por mês do
salário para cobrir desvios do fundo de pensão Postalis.
Estadão Verifica investigou
e concluiu que:
é falso.
Para cobrir um déficit de R$ 5,6 bilhões do Instituto de Seguridade
Social dos Correios e Telégrafos (Postalis), fundo de pensão da estatal,
71.154 trabalhadores ativos dos Correios terão, em média,
um percentual de desconto nos salários de 3,88%,
de acordo com a empresa. Considerando que o salário de um carteiro é de
R$ 2.008,68,
o valor do desconto é de R$ 76,32 por mês.
Ataques a Lula
O que Jair Bolsonaro disse:
que não há nenhum ataque seu ao outro candidato
[Lula].
O Estadão Verifica
investigou e concluiu que:
é falso. Bolsonaro usou
parte de seu tempo de TV para atacar Lula, tanto que o
Tribunal Superior Eleitoral (TSE) concedeu ao petista direito de
resposta em 116 inserções. O
motivo foi a veiculação de peças que associavam Lula à criminalidade ao
usar dados da votação em presídios. “No mais, desprovejo o recurso
inominado e mantenho o exercício do direito de resposta, que será
divulgado por 116 vezes, no mesmíssimo bloco-horário e na mesma emissora
de televisão indicada na petição inicial para cada uma das reproduções
do conteúdo tido como ilícito, o que corresponde à perda de 24 inserções
(cada inserção alcança 5 veiculações)”, escreveu a ministra Maria
Claudia Bucchianeri na decisão.
Roberto Jefferson
O que Bolsonaro disse:
que
não tem amizade ou relacionamento com Roberto
Jefferson.
O Estadão Verifica
investigou e concluiu que: é
impreciso. Em
entrevista de 2020 ao UOL, ao
explicar a proximidade com Jair Bolsonaro, Roberto Jefferson afirmou ser
amigo do presidente. Após o ataque do ex-deputado a policiais
federais neste domingo, 23, a campanha de Bolsonaro passou a trabalhar
para
desvincular a imagem do
apoiador à do candidato. Ao longo do dia, o presidente
chegou a afirmar que nem sequer tem foto com
Roberto Jefferson,
o que é mentira.
Bolsonaro e Roberto Jefferson. Foto: Divulgação/Planalto
Endividamento da Petrobras
O que Bolsonaro disse:
que
a Petrobras teve “R$
900 bilhões”
em endividamento.
O Estadão Verifica
investigou e concluiu que:
é enganoso.
Bolsonaro repete essa alegação frequentemente
para criticar desvios por corrupção na Petrobras durante os governos do
PT. Na realidade, o endividamento decorre de uma série de motivos, como
a capitalização da empresa para explorar as áreas do pré-sal. De acordo
com informes financeiros da empresa a acionistas,
a dívida bruta era
de R$ 397 milhões no segundo trimestre de 2016,
quando a presidente Dilma Rousseff (PT) foi afastada do cargo.
O montante equivale hoje a R$ 542 milhões, em valores corrigidos pela
inflação, longe dos R$ 900 bilhões alegados pelo presidente.
Em relação a perdas por corrupção, a Polícia Federal estimou perdas de
R$ 42,8 bilhões em esquemas investigados pela Lava Jato, em 2015, e a
empresa afirma ter recebido R$ 6,2 bilhões em devoluções até o final do
ano passado.
Corrupção
O que Bolsonaro disse:
que
seu governo se apresenta “sem corrupção”.
O Estadão Verifica
investigou e concluiu que: é falso. O
governo de Bolsonaro foi marcado por, pelo menos, dois escândalos de
corrupção. Em março, o então ministro da Educação, Milton Ribeiro,
deixou o cargo após uma série de acusações de corrupção.
O Estadão revelou um
suposto esquema de pastores que cobravam propinas de prefeitos para
intermediar encontros com Ribeiro. Ele
chegou a ser preso pela Polícia Federal,
mas
foi solto logo depois por decisão
judicial. O segundo escândalo envolveu o ex-ministro do Meio Ambiente
Ricardo Salles, alvo de investigação
da Polícia Federal por suspeita de corrupção. Para a PF, ele
estaria envolvido em venda ilegal de madeira.
A afirmação de Bolsonaro é recorrente. Já foi checada pelo
Estadão Verifica.
Joaquim Barbosa
O que Bolsonaro disse:
que o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Joaquim Barbosa
disse que o “único que não pegou dinheiro da
Petrobras” foi Jair Bolsonaro.
O Estadão Verifica
investigou e concluiu que:
é falso. Barbosa não
disse que Bolsonaro foi o único que não pegou dinheiro da Petrobras. O
magistrado apenas citou, em um julgamento relacionado ao Projeto de Lei
de Falências, que Bolsonaro, na época do PTB, tinha
votado contra a aprovação da proposta.
O projeto teve a interferência de atos de corrupção protagonizados por
lideranças de partidos que apoiavam o governo petista na época.
Invasões de terra
O que Bolsonaro disse:
que há 3 anos e 4 meses não se ouve falar em invasões de terras.
O Estadão Verifica
investigou e concluiu que: é falso.
Embora o número de ocupações de terra tenha diminuído no governo de
Bolsonaro, elas não deixaram de ocorrer. Segundo relatório da
Comissão Pastoral da Terra (CPT),
em 2021 foram registradas 50 ocupações/retomadas; em 2020 foram 29; e em
2019, ano em que o presidente assumiu o mandato, 46. Em 2018, por
exemplo, foram 157 ocupações e há uma década, em 2012, eram 255. Os
números são referentes à soma de ocupações realizadas por diferentes
movimentos sociais envolvidos na questão da reforma agrária.
O Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) afirma ter paralisado as
ações por dois anos devido à pandemia de covid-19, mas que as retomou em
2022 e ocupou, no primeiro semestre,
28 áreas que considera
improdutivas. Ocupações deste ano foram noticiadas pela mídia (1,
2 e
3).
Essa alegação já havia sido checada em 7 de setembro.
PIX
O que Jair Bolsonaro disse:
O Pix deixou R$ 13 bilhões na mão do povo porque não paga nenhuma taxa.
O Estadão Verifica
investigou e concluiu que: Reportagem
do
Estadão mostra, com base em
dados da Economatica, que o Pix causou “perda” de R$ 1,5 bilhão em
receita dos quatro maiores bancos do País com a cobrança de tarifas em
2021. O Pix permite transações bancárias sem taxas. Apesar de o número
de usuários ter aumentado ao longo de 2022, não há indicações de que o
total de tarifas que deixaram de ser cobradas tenha alcançado R$ 13
bilhões.
Controle da mídia
O que Jair Bolsonaro disse:
que nunca falou em controlar a mídia.
O Estadão Verifica
investigou e concluiu que: falta
contexto. Bolsonaro alega não falar em controlar a mídia, mas faz
ataques constantes à imprensa. Em agosto de 2019, no primeiro ano de
mandato,
disse que o jornal Valor Econômico iria fechar.
Em junho deste ano, no Dia da Liberdade de Imprensa,
o presidente falou em “fechar a imprensa brasileira”,
à qual chamou de “fábrica de fake news”, citando a TV Globo e o jornal
Folha de S. Paulo. Ao longo do mandato, o presidente fez diversas
declarações que sugeriam dúvidas em relação à renovação da concessão
pública da TV Globo.
Em fevereiro deste ano, Bolsonaro disse que a emissora poderia ter
“dificuldades” para renovar a concessão.
A decisão sobre as concessões de TV pública cabe ao Congresso Nacional.
Auxílio emergencial
O que Bolsonaro disse:
que o governo federal atendeu 68 milhões de pessoas com o auxílio
emergencial na pandemia.
O Estadão Verifica
investigou e concluiu que: é verdade,
mas falta contexto. O número se refere a um
balanço divulgado pelo Ministério da Cidadania relativo a 2020.
As parcelas foram pagas entre os meses de abril e dezembro, primeiro no
valor de R$ 600, depois com o valor base reduzido pela metade; as mães
solteiras receberam o dobro.
Após três meses de interrupção no início de 2021,
o governo retomou o pagamento do auxílio, mas com regras mais rígidas
para manter o benefício. Nesse caso, foram 39 milhões de pessoas
beneficiadas no segundo ano do programa, com parcelas pagas a partir de
abril. O Tribunal de Contas da União (TCU) estimou que cerca de
7,3 milhões de pessoas receberam o benefício indevidamente,
ou seja, não tinham direito ao auxílio segundo os requisitos legais.
Combustíveis
O que Jair Bolsonaro disse:
que todos os senadores do PT foram contra a redução do preço dos
combustíveis
O Estadão Verifica
investigou e concluiu que: é verdade,
mas falta contexto. Os
sete senadores da bancada do PT votaram contra
o Projeto de Lei Complementar 18/2022, que estabeleceu um teto de 17% de
incidência do Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS)
sobre combustíveis, energia elétrica, transportes e comunicações.
O projeto foi aprovado em 13 de junho de 2022
por 65 votos favoráveis e 12 contra. Os parlamentares do PT votaram
contra o projeto sob o argumento de que
a redução retira recursos essenciais de Estados e municípios
e ameaça a manutenção de serviços como saúde e educação.
Mortes por armas de fogo
O que Jair Bolsonaro disse:
O número de mortes por armas de fogo caiu a mais de 40%.
O Estadão Verifica
investigou e concluiu que: é falso.
Os dados do
Atlas da Violência mostram
que em 2017 – o último ano antes da eleição do presidente Jair Bolsonaro
(PL) – o número de pessoas assassinadas por arma de fogo no Brasil foi
47.510. No ano de 2021, o número de notificações de mortes violentas
intencionais foi de 47.503, de acordo com o
Anuário Brasileiro de Segurança Pública,
sendo que
76% foram provocadas por armas de fogo.
Ou seja, uma redução de cerca de 23,6% em 4 anos.
Orçamento secreto
O que Bolsonaro disse:
que vetou o orçamento secreto, mas que o Congresso derrubou o veto.
O Estadão Verifica
investigou e concluiu que:
é enganoso. Como mostrou
esta checagem,
a primeira tentativa de aprovar o orçamento secreto, de fato, partiu do
Congresso e foi vetada por Jair Bolsonaro.
Em dezembro de 2019, no entanto, o chefe
do Executivo recuou do próprio veto e encaminhou novo projeto de lei que
criou a emenda RP9.
O esquema foi revelado pelo Estadão, que mostrou, em
uma série de reportagens,
que a equipe do ministro da Economia, Paulo Guedes, havia convencido o
presidente de que o orçamento secreto engessaria a economia. O atual
ministro da Casa Civil, general Luiz Eduardo Ramos, ressuscitou a
proposta e, dessa maneira, Bolsonaro voltou atrás na decisão de barrar a
medida.
Títulos de terra
O que Bolsonaro disse:
que o seu governo concedeu 420 mil títulos de terra que “o pessoal
outrora do MST não tinha”.
O Estadão Verifica
investigou e concluiu que: é
controverso. Em setembro, o Ministério da Agricultura
declarou que 404.993 documentos de titulação foram expedidos
desde janeiro de 2019, quando Bolsonaro assumiu a presidência. No
entanto,
dados solicitados pelo Estadão por meio da Lei de Acesso a Informação (LAI)
mostram que foram expedidos 27.734 documentos em 2019, 95.675 em 2020 e
108.024 em 2021. Somando com os 124.954 relatados pelo ministério, o
número chega a 356.387 títulos, abaixo do mencionado pelo candidato.
Além disso,
como mostrou o Estadão,
a titulação de terras é apenas uma etapa do programa de reforma agrária
do Incra e houve um recuo
significativo no número de novas famílias assentadas e de áreas
incorporadoras à reforma agrária em comparação com governos anteriores.
Média de invasões
O que disse Bolsonaro:
que o seu governo teve 5 invasões de terra por ano, contra 1 por dia no
governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e 20 por mês no governo Lula
(PT).
O Estadão Verifica
investigou e concluiu que: de acordo
com reportagem da Veja com base em estatísticas do Incra, o governo
Bolsonaro registrou o menor patamar de invasões de terra desde 1995, mas
os números são imprecisos. Foram 11 em 2021, 7 em 2019 e 6 em 2020, o
que resulta em uma média de 8 por ano, e não 5. Nos oito anos de governo
de FHC, foram 2.442 casos, o que resulta em menos de um por dia (0,83).
Nos oito anos de governo Lula (PT), foram 1.968 invasões, o equivalente
a 20,5 por mês.
Piso salarial de professores
O que disse Bolsonaro:
Que o maior reajuste do piso salarial dos professores se deu no governo
dele: 33%.
O Estadão Verifica
investigou e concluiu que: está
descontextualizado. Bolsonaro oficializou em 2022 reajuste de
33,23% para professores da
rede pública de educação básica, elevando de R$ 2.886 para R$ 3.845 o
piso salarial nacional da categoria. Esse foi o maior reajuste dado
desde 2009, quando entrou em vigor a Lei n° 11.738, que estabelece piso.
Bolsonaro
omite,
contudo, que não concedeu o reajuste no ano passado. O anterior, de
2020, havia sido de 12,84%
Lula e drogas
O que Bolsonaro disse:
que Lula já falou que quer liberação das drogas.
O Estadão Verifica
investigou e concluiu que: não há no
plano de governo de Lula essa proposta. No documento enviado ao TSE, o
candidato defende uma nova política sobre drogas “focada na redução de
riscos, na prevenção, tratamento e assistência ao usuário” e
“enfrentamento e desarticulação das organizações criminosas”, no item 34
do documento.
Ideologia de gênero
O que Bolsonaro disse:
que o partido dele [Lula] apoia
ideologia de gênero.
O Estadão Verifica
investigou e concluiu que: é falso.
Bolsonaro repete de forma recorrente a teoria conspiracionista de que
Lula apoia a “ideologia de gênero”. O termo é usado para distorcer o
Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3),
assinado por Lula, que lista medidas de combate à desigualdade de
gênero, raça e homofobia.
Ladrões de celular
O que Jair Bolsonaro disse:
que Lula sempre defendeu ladrões de celular, dizendo que estavam
roubando para ganhar um dinheirinho.
O Estadão Verifica
investigou e concluiu que: é falso.
Bolsonaro faz referência. Posts publicados foram analisados por vários
meios de comunicação e agências de checagem, como
AFP Checamos,
Reuters,
Migalhas e
Estadão Verifica.
Todos concluíram ter havido
montagem em vídeo de entrevista de Lula à imprensa
em agosto de 2017 em Pernambuco. Foram
pinçadas palavras do petista em momentos
diferentes para a montagem de uma frase que ele não disse.