BOLSONARO NÃO ESTÁ À ALTURA DO CARGO QUE EXERCE

 

Bolsonaro revela ‘triste figura de político medíocre’, diz Celso de Mello
Para o ex-decano do STF, o presidente da República ‘não está à altura do cargo que exerce’, pois lhe faltam 'estatura presidencial e senso de estadista'
Por Rafael Moraes Moura 7 set 2021, 18h20
O ministro aposentado do STF Celso de Mello: repúdio ao discurso beligerante do presidente Jair Bolsonaro Nelson Jr./SCO/STF

O ministro aposentado do Supremo Tribunal Federal (STF) Celso de Mello disse a VEJA nesta terça-feira, 7, que os discursos do presidente Jair Bolsonaro em Brasília e São Paulo “revelam a triste figura e a distorcida mente autocrática de um político medíocre e sem noção dos limites éticos e constitucionais que devem pautar a conduta de um verdadeiro chefe de Estado que seja capaz de respeitar o dogma fundamental da separação de poderes”. Bolsonaro disse nesta tarde na Avenida Paulista que não vai mais admitir interferências do STF e a realização de eleições sem a adoção do voto impresso, ainda que a medida tenha sido barrada pela Câmara dos Deputados. O presidente ainda ameaçou desrespeitar decisões do ministro Alexandre de Moraes, que se tornou a principal pedra no sapato do presidente na Corte.
 

“Na realidade, Bolsonaro é um político que não está, como jamais esteve, à altura do cargo que exerce, pois lhe faltam estatura presidencial e senso de estadista! Com esses discursos ofensivos e transgressores da autonomia institucional do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal, incompatíveis com os padrões mais elevados da Constituição democrática que nos rege, Bolsonaro degradou-se, ainda mais, em sua condição política de Presidente da República e despojou-se de toda respeitabilidade que imaginava possuir”, acrescentou o ex-decano do STF.


Procurado por VEJA para comentar as manifestações beligerantes do presidente neste Sete de Setembro, Celso de Mello afirmou que a conduta de Bolsonaro “revela a figura sombria de um governante que não se envergonha de desrespeitar e vilipendiar o sentido essencial das instituições da República”.


“É preciso repelir, por isso mesmo, os ensaios autocráticos e os gestos e impulsos de subversão da institucionalidade praticados por aqueles que exercem o poder! Há que se ter sempre presente a grave advertência do saudoso e eminente Ministro Aliomar Baleeiro, do Supremo Tribunal Federal, em manifestação que recordava ao nosso País que, enquanto houver cidadãos dispostos a submeter-se e a curvar-se ao arbítrio e à prepotência do poder, sempre haverá vocação de ditadores”, frisou Celso de Mello.


“Daí a significativa e vital importância do Poder Judiciário cujos magistrados saberão agir com independência e liberdade decisória, dispensando tutela efetiva aos direitos básicos da cidadania! A resposta do povo brasileiro aos discursos deste Sete de Setembro de 2021, indignos da importância da data nacional que celebramos, só pode ser uma: as tentações autoritárias e as práticas governamentais abusivas que degradam e deslegitimam o sentido democrático das instituições e a sacralidade da Constituição traduzem justa razão para a cidadania, valendo-se dos meios legítimos proporcionados pela Constituição da República, insurgir-se, por intermédio dos Poderes Legislativo e Judiciário, contra os excessos governamentais e o arbítrio dos governantes indignos”, completou.


No dia 29 deste mês, o plenário do Supremo vai decidir se mantém ou não a decisão de Celso de Mello que obrigou que o presidente prestasse depoimento presencial no âmbito do inquérito que investiga a interferência indevida do mandatário na Polícia Federal. Com a aposentadoria de Celso, o caso foi redistribuído para Alexandre de Moraes. O processo é um dos casos que mais atormentam o chefe do Executivo, ao lado do inquérito das fake news e da investigação que se debruça sobre as ameaças ao regime democrático feitas pela estridente militância digital bolsonarista.
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