BOLSONARO, O PIOR INIMIGO DOS ÍNDIOS
O jornal católico francês 'La Croix'
publicou nesta hoje duas matérias em que abordam a situação indígena no Brasil.
O presidente Jair Bolsonaro é descrito no título de uma delas como "o pior
inimigo das populações indígen.
Diante do desmatamento na Amazônia, o presidente Jair Bolsonaro contesta os
números oficiais e ataca cientistas e ONG's, relata a correspondente especial em
São Paulo, Marie Naudascher. Sua matéria traz o caso do chefe indígena Emyra
Wajipi, que foi violentamente assassinado no Amapá mês passado.
Seu corpo foi exumado após ter sido encontrado em um rio - o que não é uma
prática deste povo -, para que sua morte fosse esclarecida. Ainda assim, antes
mesmo da conclusão, Bolsonaro declarou que não havia indícios de que a invasão
de 50 garimpeiros nas terras pertencentes à tribo tinha relação com o homicídio,
de acordo com o "La Croix".
Opinião contestada pela FUNAI, que afirma que os garimpeiros se sentem
encorajados pela política favorável da agroindústria defendida pelo presidente.
"A cobiça pelo ouro, manganês e cobre impulsionou a invasão destas terras,
delimitadas pelo Estado Brasileiro desde 1996", relatou o jornal.
Segundo a antropóloga Dominique Tilkin Gallois, professora da USP, em entrevista
ao jornal, a motivação em querer explorar terras indígenas não pode ser outra
além da ideológica. A intenção é ignorar totalmente a realidade dos povos
tradicionais e não conceber a ideia de que eles vivam de maneira diferente da
dos moradores dos centros urbanos.
Em nota publicada no fim de julho, a Coordenação das organizações indígenas da
Amazônia brasileira declarou que Bolsonaro e seus ministros "anti-indígenas" são
os seus piores inimigos. Segundo o jornal, eles relembram que durante a campanha
os seus chefes foram atacados, criminalizados, em nome do velho discurso do
desenvolvimento social e econômico do país.
A correspondente ainda relata que, desde sua chegada ao poder, Bolsonaro adotou
medidas claras de favorecimento ao agronegócio, como ter nomeado a chefe do
lobby agrícola no congresso, Tereza Cristina, para ser ministra da Agricultura.
E também quando retirou da FUNAI a responsabilidade das demarcações, decisão que
foi anulada no STF.
A reportagem também repercutiu o desmatamento, que em julho teve um aumento de
278% em comparação com o mesmo mês no ano passado. O jornal ainda destaca que,
durante a reunião do G20, Bolsonaro criticou líderes europeus e disse que a
Amazônia não os pertencia, e que, para ele, as ONG's querem que os índios
continuem "prisioneiros como em um zoológico, ou como homens pré-históricos".
Por fim, a professora da USP Tilkin Gallois disse que as maiores vítimas desta
intransigência são os povos da floresta, e constata que os indígenas também
deveriam participar dos processos de decisão que dizem respeito a eles mesmos.
A defesa dos indígenas pela igreja Católica na Amazônia
Em outra reportagem do jornal "La Croix", o Conselho Idigenista Missionário (CIMI)
é destacado como uma das instituições mais ativas por defender os territórios e
os direitos fundamentais dos povos da floresta. A enviada especial do jornal a
Atalaia do Norte (AM), Claire Lesegretain, entrevistou a missionária Marta
Barral Nieto. De acordo com ela, a Igreja Católica está na região, em primeiro
lugar, para proteger a vida dos indígenas e que "muitos índios se dizem
católicos, mesmo se não são batizados ou nunca tenham ido à igreja, porque eles
sabem que a Igreja os respeita".
A missionária ainda disse ao jornal que os indígenas sabem diferenciar os
católicos dos grupos neopentecostais que estão se implantando cada vez mais na
região, e recebendo ajuda do governo, com o intuito de "catequizá-los". Segundo
o padre italiano Alberto Panichella, os evangélicos estão proibindo os índios de
tatuar ou pintar seus corpos, e estão os aterrorizando por causa de seus
"fetiches e totens", relata o jornal.
Os dois missionários trabalham no CIMI, conselho fundado pela CNBB, afim de
apoiar as 305 etnias indígenas que existem no Brasil. "O objetivo do Cimi não é
levar o evangelho às comunidades - porque queremos respeitar sua religião
natural -, mas ajudá-las a enfrentar as muitas dificuldades que enfrentam",
afirmam.
A reportagem ainda conversou com o indígena da etnia Marubo, Cloves Marubo, que
alertou sobre os perigos cotidianos vividos pelos povos desta região. "Estamos
ameaçados dentro de nossas reservas [8 milhões de hectares para os 16 grupos
étnicos que vivem na bacia do Javari] pelos traficantes de madeira e pelos
proprietários de fazendas, pelos caçadores furtivos que pilham ovos de
tartaruga, por mineradores subterrâneos... A Funai não tem mais meios para
manter seus postos militares e proteger as demarcações de nossas terras. Só a
Igreja Católica nos ajuda, através do (Cimi) e da Rede Eclesial Pan-Amazônica (Repam)."
<https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/rfi/2019/08/09/jornal-frances-descreve-bolsonaro-como-pior-inimigo-dos-indios.htm>
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