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BRASIL, O PAÍS QUE MAIS CAI EM COMPETITIVIDADE
21/01/2019
Brasil é país que mais cai em
relatório sobre competitividade divulgado em Davos
Publicado em 21-01-2019 Modificado em 21-01-2019 em 16:07
Professor Felipe Monteiro, do Insead Fotomontagem RFI/ arquivo pessoal
Uma das principais escolas de administração do mundo, a Insead divulgou
nesta segunda-feira (21) no Fórum Econômico Mundial de Davos um índice de
competitividade global de talentos que deixa o Brasil com a 72ª posição entre
129 países.
Na comparação histórica foi a nação que mais caiu desde
a primeira divulgação do indicador, em 2013. O professor associado da
Insead, Felipe Monteiro, que é um dos responsáveis pela elaboração do índice,
explica os principais motivos dessa queda na avaliação. A seguir, trechos da
entrevista.
O que mede exatamente o índice global de competitividade de talentos 2019?
Várias dimensões de um país, ou de uma cidade, de atrair, de reter, e aumentar
talentos. O que a gente vê mais e mais é o grau de dependência dos países dos
talentos que atraem. Quando mais competitivo for o cenário econômico, quanto
mais o trabalho for de alto valor agregado, mais importante será você contar com
as melhores pessoas, mais capacitadas, e, ao mesmo tempo, conseguir mantê-las no
seu país. Há uma grande variação ao redor do mundo, com países que são mais, ou
menos, competitivos para a atração de talentos.
Essa exigência de talentos será cada vez maior na medida em que se atravessa era
revolução digital que estamos assistindo. Os empregos no mercado e trabalho vão
mudar e vão exigir um nível de capacitação maior dos trabalhadores…
Com certeza. A nossa previsão é a de que, quanto percebermos os efeitos da
transformação digital, de novas tecnologias, e de economias integradas, novos
ecossistemas, novas plataformas, mais você exigir dos talentos que você tem. E,
por outro lado, mais competitiva será essa dinâmica global, porque, todos os
países que têm economias mais avançadas, vão estar competindo pelos mesmos
talentos.
E possivelmente deixando para trás, aqueles países que não
tiverem se preparado, que não investiram nos seus próprios talentos.
Certamente. E é interessante pensar que não é só apenas investir, mas ter a
capacidade de retê-los. Você pode imaginar o caso de um país que investiu muito
nos seus talentos, mas não consegue mantê-los. É o chamado "brain drain”, quando
as pessoas (os cérebros) acabam saindo do seu país.
No ranking de 2019, quais os países que se saíram melhor? Têm sido mais ou menos
os mesmos ao longo dos anos, não?
Existe, como você falou, uma estabilidade grande dos países que estão no topo.
Esse ano, mais uma vez, a Suíça lidera o nosso ranking, sendo seguida por
Singapura, Estados Unidos, Noruega, Dinamarca,
Finlândia, Suécia, Holanda, Reino Unido e Luxemburgo.
É um grande número de países europeus entre os 10 com as maiores notas.
O Brasil ficou com a 72ª posição...
O Brasil não está bem posicionado no ranking. Historicamente, nunca esteve.
E por que esses outros países se saem melhor do que o Brasil? E o que eles
fazem, que o Brasil não faz?
O interessante de se olhar um índice como o nosso é que temos muitas variáveis.
Seria muito difícil você isolar apenas uma razão. É um conjunto de medidas que
esses países conseguem colocar entre prática. E aí vai desde o ambiente de
negócios à facilidade que eles têm, em termos de contratar, demitir
funcionários, qual é a relação entre trabalhadores e as empresas, qual é a
qualidade do sistema educacional, qual é a própria atração de talentos e a
capacidade de mantê-los, qual é o nível de segurança pessoal que esses
talentos têm, qual o nível de atratividade que essas cidades ou países têm.
A maneira importante de ver isso é, para estar bem posicionado num índice como
esse, você precisa ter esse conjunto que a gente de fato acredita que faz o país
competitivo. Não é apenas um elemento.
Quais são as principais deficiências do Brasil no ranking?
Esse ano, pela primeira vez, a gente está fazendo uma análise histórica,
comparando os três primeiros anos do índice com os três últimos. Por que isso é
importante? Porque se você olha de ano a ano, um único elemento pode distorcer o
resultado, com flutuações muito específicas. Nesse ponto,
o Brasil está mal. Cai da 50ª para 62ª posição (entre 129 países).
É maior queda entre todos os países do mundo nessa comparação histórica que nós
estamos fazendo. Variáveis como o quão difícil é contratar, falsidade de fazer
negócios, produtividade, o Brasil está mal nesses pontos. E também, em termos de
diversidade, em termos de oportunidades de liderança para as mulheres. Um dos
pilares do nosso índice é capacidade de reter os talentos. E um dos pontos que
vemos é a variável segurança pessoal, e, neste
quesito, o Brasil está em 115° lugar.
Entre quantos países?
Entre 129. Então, você olha um tema que pode parecer não diretamente relacionado
à competitividade em termos de talento, como segurança. E isso é um fato que não
permite ao Brasil reter mais talentos.
O tema do encontro do Fórum Econômico Mundial em Davos esta semana, a
“Globalização 4.0”, um momento novo que vivemos em que o mundo está cada vez
mais conectado, novas tecnologias avançando, e isso deve mudar as relações entre
os países, as sociedades, e as próprias relações de trabalho, etc. Como é que os
países podem se preparar para essa Globalização 4.0, que, pelo que os
especialistas dizem, é inevitável?
Concordo plenamente com essa avaliação. Ela já está em marcha e vai se acentuar.
Vai mudar muito a maneira de gente trabalhar. Você fala na "Revolução Industrial
4.0”, e o tema do nosso relatório esse ano é talento empreendedor. Como é que
essas duas coisas estão relacionadas? Quando a gente pensa em transformação
digital, são duas palavras: transformação e digital. Então tem essa renovação
tecnológica, novas tecnologias digitais em que o talento tem que estar preparado
para trabalhar nisso, nova maneira de pensar, de educação. Mas a outra palavra é
a transformação. E para ser capaz de transformar as empresas, a gente precisa de
um tipo de pessoas que chamamos de talento empreendedor: pessoas que sejam
extremamente ágeis, flexíveis, capazes de ter uma mentalidade de aceitar essa
mudança e trabalhar com o novo. Isso é uma característica muito forte no nosso
relatório e está completamente conectado com essa Revolução Industrial 4.0.
E isso quer dizer, então, que, quanto mais você se
preparar para esse momento, maior a sua competitividade no mundo novo. E quem
não fizer, vai ficar para trás. Os países que não investirem nisso vão ficar
para trás.
Concordo com a sua avaliação. É super importante você se preparar. E a gente
perceber que, em termos de talento, dá para ver no relatório também um aumento
das desigualdades: de países cada vez mais competitivos em termos de talento e
outros que acabam perdendo essa competitividade. Tem que se preparar agora para
não perder o bonde.
A gente tem como comparar o desempenho do Brasil no ranking com outros países da
América Latina?
A América Latina em geral, talvez com a exceção do Chile, não tem o desempenho
forte. Quando compara os países no topo com os que estão no final do ranking. Os
latino-americanos estão, em sua maioria, concentrados no final do ranking.
<http://br.rfi.fr/brasil/20190121-brasil-e-pais-que-mais-cai-em-relatorio-sobre-competitividade-divulgado-em-davos>
E o mais desanimador é que a política
neoliberal atual tende a agravar mais e mais essa queda. Os mandantes
atuais pensam muito no lucro, mas não acham nada interessante investir na
preparação de seus trabalhadores.
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POLÍTICA BRASILEIRA
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