Confusão entre membros da
Igreja Geração Jesus Cristo e Guarda Municipal deixa feridos na Zona Sul
do Rio
Briga entre guardas municipais e membros da
igreja pentecostal deixou pelo menos 12 feridos em Copacabana. Um está em
estado grave.
Por Bruno Albernaz e Edivaldo Dondossola, G1 Rio e TV Globo
Inscrição atribuída à Igreja
Pentecostal Geração Jesus Cristo. Eles negam ter pichado algo ontem
— Foto: Bruno Albernaz / G1
Discussão entre guardas municipais e um grupo de 40 seguidores da Igreja
Pentecostal Geração Jesus Cristo terminou com 12 pessoas da congregação
feridas, uma delas em estado grave.
A confusão, envolvendo acusação de crime ambiental, aconteceu em
frente à 13ª DP (Copacabana) no fim da noite de quarta-feira (25). A
Guarda Municipal afirmou que vai apurar o incidente com rigor, mas
ressalta que houve tentativa de agressão aos agentes. A Polícia
Civil confirma o flagrante de pichação.
O grupo conta que, depois de culto na igreja, no Morro do Pinto, na
Zona Portuária do Rio, estava passeando pelo Calçadão da Avenida
Atlântica quando, por volta das 23h, agentes da Guarda chegaram
acusando-o de pichar muros e monumentos do Parque Garota de Ipanema,
no Arpoador. Um deles, Diego Luiz Ribeiro de Figueiredo, acabou
preso por crime ambiental.
Na manhã desta quinta (26), o
G1 registrou imagens
de uma pichação no asfalto em frente à estátua do poeta Carlos
Drummond de Andrade, na altura do posto 6, em Copacabana (foto
acima). De acordo com a assessoria da Guarda Municipal, essas
inscrições foram feitas na noite desta quarta.
Confusão
entre grupo de evangélicos e guardas municipais deixa feridos na Zona
Sul do Rio
Grupo é suspeito de outras pichações
Grupo ligado à Igreja Geração Jesus Cristo é suspeito por espalhar
inscrições pela cidade avisando de suposta volta do Redentor em 2070. O
grupo ainda promove manifestações contra outras religiões e com frequência
associa o Islã a estupradores.
Pichação no Parque Garota de
Ipanema: pastor admite que grupo faz 'inscrições' — Foto: Bruno Albernaz/G1
Em entrevista ao 'Bom Dia Rio', o líder da congregação, pastor Tupirani da
Hora Lores, admitiu que membros da igreja fizeram inscrições no fim de
semana, mas negou ter deixado mensagens religiosas na noite de quarta-feira,
como reitera a Guarda Municipal.
"Existem inscrições antigas lá. De hoje não. O motivo todo se deu em
torno de hoje. Essas coisas são bem antigas, e realmente houve uma
equipe que passou por lá há uns 15 dias. Essa equipe é da nossa igreja.
Mas as inscrições, segundo eu sei, foram inscrições feitas no chão."
Na porta da delegacia, os membros da Geração Jesus Cristo questionaram a
prisão do colega, o que levou ao bate-boca com empurra-empurra. Ainda de
acordo com um integrante do grupo, um guarda puxou um spray de pimenta, que
usou sem discernimento contra as pessoas, inclusive contra menores de idade.
Já na porta da delegacia, enquanto o grupo esperava do lado de fora, a GM
chegou com reforços, e um guarda, conhecido como Bispo, incitou, segundo o
grupo, a violência dos outros guardas.
Vídeos gravados pela igreja mostram a confusão. Pelo menos 12 pessoas foram
feridas mais gravemente e tiveram que ser levadas para o Hospital Miguel
Couto. "Temos 12 pessoas internadas aqui. Quantos guardas municipais deram
entrada? Nós é que fomos espancados", acusou o pastor Tupirani.
Jorge Alves de Souza, de 60 anos, é a vítima que está em estado mais grave:
levou uma pancada na cabeça e segue internado, com traumatismo craniano, em
acompanhamento pela neurocirurgia. Os demais já tiveram alta.
Guarda Municipal diz que vai apurar com rigor
A Guarda Municipal do Rio explica que agentes revidaram desacato e divulgou
nota em que reafirma o flagrante de pichação. "A GM já está apurando a ação
em Copacabana envolvendo o Grupamento Especial de Praia e um grupo de
evangélicos, que foi flagrado pichando o Parque Garota de Ipanema. Diego
Luiz Ribeiro de Figueiredo foi autuado em crime ambiental na 12ª DP. Na
delegacia, um grupo de cerca de 40 pessoas questionou a prisão e a ação da
Guarda Municipal, e houve confusão", narra a GM.
O comando da Guarda Municipal já determinou abertura de sindicância e o
afastamento imediato dos agentes envolvidos. "Vamos apurar com rigor a
postura e as agressões flagradas no vídeo, que não condiz de forma alguma
com os preceitos, orientação e os procedimentos operacionais da
instituição", diz a entidade.
Material apreendido pela Guarda
Municipal no fim de semana — Foto: Divulgação/Guarda Municipal
A corporação citou caso semelhante ocorrido no fim de semana passado. "Na
madrugada do dia 21, o mesmo grupo já havia sido flagrado pichando o parque,
e dez sprays foram apreendidos pelos guardas. Na abordagem, quatro homens
desacataram os agentes e foram conduzidos para a 13ª DP, onde a ocorrência
foi registrada", diz nota.
Protesto da igreja contra
muçulmanos — Foto: Reprodução/Twitter
Em nota, a Polícia Civil confirma que houve lesão corporal. "Um grupo de
evangélicos foi flagrado pichando o interior do Parque Garota de Ipanema,
momento em que foi abordado pela Guarda Municipal. Para auxiliar na condução
da ocorrência, os guardas solicitaram apoio da Polícia Militar, que conduziu
todos os envolvidos até a delegacia. Ao chegar na unidade policial, os
religiosos entraram em conflito com os guardas municipais presentes, sendo
lavrado Termo Circunstanciado de Dano e Lesão Corporal." O caso será
investigado pela 14ªDP (Leblon).
Polêmica no meio evangélico
O Conselho Brasileiro de Ministros e Pastores repudia o incidente, mas faz
críticas à "Geração" de Tupirani. "A igreja em questão, pelo fato de pregar
a volta de Jesus em 2070, não se pode considerar evangélica; trata-se de uma
seita religiosa. Pedimos à imprensa que saiba separar as verdadeiras igrejas
evangélicas de seitas com fundamentos obscuros que não são os Evangelhos".