A PEDOFILIA NA IGREJA É CONSEQUÊNCIA DO CELIBATO ( Arnaldo Jabor)
No velho colégio de padres onde estudei, a entrada dos alunos já era um desfile de velada pedofilia. O padre reitor - ahh...tempos antigos de batinas negras, rosários nas mãos, panos roxos nos ombros, tristeza infinita nas clausuras - postava-se imóvel, na porta do colégio, numa pose paternal e severa, com os braços erguidos e as mãos oferecidas para os alunos que chegavam. Passavam por ele duas filas de dezenas de meninos, beijando servilmente suas mãos abençoadas. Havia algo de veadagem naquilo, aquela negra batina imóvel, divina, como um manequim, as mãos beijadas com chilreios e devoção por mais de quinhentos meninos de calças curtas. Eu ainda me lembro do vago cheiro de sabonete e cuspe no dorso cabeludo da mão do padre. Centenas de meninos de pernas nuas eram pastoreados por tristes noviços e "irmãos leigos". Só se pensava em sexo naquele colégio. Eu via as mães dos alunos, lindas, com seus penteados e decotes imitando a Jane Russel ou Ava Gardner, fazendo charme para os padres na força de seus verdes anos, enlouquecidos pela castidade obrigatória. E eu me perguntava: "Meu Deus...por que padre não pode casar?" Lembro-me do tremor dos jovens padres, excitados pelas madames pintadíssimas, indo se trancar em negras clausuras, entregues ao "vício solitário", indo depois bater no peito e chorar sua culpa diante das imagens silenciosas.
E esses mesmos padres nos diziam: "Cada vez que você se masturba,
morrem milhões de pessoas que iam nascer. É um genocídio!". E nós,
além do pecado, sofríamos a vergonha de ser pequenos "hitlers" de
banheiro. Eu pensava: "Por que tanta onda sobre nossos pobres pintinhos,
por que essa energia que sinto em minha carne é feia, criminosa?"
Vivíamos ajoelhados em confessionários, ouvindo envergonhados a voz e o
hálito do triste sacerdote nos sentenciando a dezenas de "ave-marias" e
"padre-nossos".
Tudo era sexo no colégio; essa palavra terrível estava em toda parte,
como uma ameaça vermelha; o diabo nos espreitava até detrás das estátuas
de Santa Tereza em êxtase, nas coxas dos anjinhos nus, nos seios
fervorosos das beatas acendendo velas.
A pedofilia na igreja é consequência direta do celibato. É óbvio que se
a força máxima da vida é esmagada, a igreja vira uma máquina de
perversões.
Claro. E de homosexualismo, visível em qualquer internato religioso.
Outro dia, o Contardo Calligaris escreveu com precisão que a pedofilia
não está só na carne do jovem assediado; a pedofilia é mais geral,
abstrata, no prazer do domínio sobre os mais fracos, na pedagogia
infantilizante das jovens "ovelhas" - como nos chamam os pastores de
Deus - imoladas em sua inocência.
Eu vi o diabo naquele colégio: rostos angustiados, berros severos e
excessivos nas aulas, castigos sádicos, perseguições a uns e carinhos
protetores a outros.
Eu mesmo fui assediado por um padre famoso (que muitos colegas meus da
época se lembram) que era notório comedor de menininhos; ele fazia
mágicas e teatrinhos, para ser popular entre os meninos e, um dia,
tentou me beijar num canto da clausura. Criado na malandragem das ruas,
fugi em pânico. E falei disso em confissão com outro padre, que mudou de
assunto, como se fosse uma impressão minha, como se a pedofilia fosse
uma prática necessária à manutenção do celibato, exatamente como os
cardeais americanos estão fazendo hoje. O
problema da igreja com o sexo leva-a a uma compreensão quebrada da vida,
leva-a a aceitar a Aids, a condenar o aborto, o controle social da
natalidade e a outros erros maiores - superestruturas desta falência
originária, desse vazio fundamental.
Lembro-me da descrição da eternidade no inferno, onde queimaríamos para
sempre, sob o garfo dos diabos, condenados por uma reles punhetinha:
"Imaginem que o planeta seja um grande diamante, o metal mais duro do
universo. De cem em cem anos, um passarinho vem voando e dá uma
bicadinha na Terra. O dia em que toda a Terra for esfarinhada pelas
bicadinhas, esse é a duração da eternidade". E eu sofria, me esvaindo
nos banheiros, pensando naquele passarinho que bicava o mundo, enquanto
eu acariciava o outro medroso passarinho se preparando para uma vida de
traumas e medos.
O prazer era um crime. A partir daí, tudo ficava poluído, manchado de
culpa; a alegria virava falta de seriedade, a liberdade era um erro, as
meninas eram seres inatingíveis com seus peitinhos e bundinhas. Até
hoje, vivo dividido entre as santas e as "impuras"; quantas dores senti
na vida pelo cultivo destes ensinamentos, que transformava as mulheres
em perigos horrendos, "Liliths" demoníacas, tão ameaçadoras quanto o
imenso desejo que tinhamos por elas. A mulher, como Eva, era a origem de
todos os males.
Delas saía a vida e a morte, delas saía o prazer pecaminoso, o mal do
mundo.
Esta base criminal gera desde a "burka" até o "striptease", numa
antítese simétrica.
Hoje piorou. O mundo virou uma incessante paisagem de bundas e seios
nus, de pornografia na publicidade, que nos espreita no trânsito, nas
ruas, na TV. Já imaginaram esses padres vendo a Feiticeira e a Tiazinha,
de terço na mão, trancados em escuras celas, sob o voto de castidade?
Essa é a minha idéia de inferno.
Uma das grandes desvantagens da igreja católica diante de outras
religiões é o celibato. Daí, em cascata, surgem problemas que justificam
a queda do prestígio da igreja na era do espetáculo e da desconstrução
de certezas.
Rabinos casam, pastores protestantes casam. Budistas "do it", xintoistas
"do it", indis "do it', mesmo muçulmanos "do it". "Let's do it", pobres
padres trêmulos de desejo, no meu remoto passado jesuíta e no presente
do sexo massificado.
------------------------
Em parte concordo, claro que o celibato é uma coisa suspeita, os
apóstolos de Jesus não tinham filhos e eram casados? Deus deu até
permissão p/ um servo dele ter relações com a empregada a fim de não ter
sua linhagem perdida.
não sei pq um homem p/ pregar a palavra de deus deve ser virgem...
Mas me canso de ouvir historias de padres que pegavam outros padres e
menininhos de colégio, um garoto o qual conheço saiu do mosteiro quando
viu um padre pegando outro no armário... Cena chocante p/ um garoto de
16 anos que foi criado p/ se tornar padre, não?
Não acho que o Celibato justifica padres gays (ou seja lá como chamam um
homem que pega outro nesse caso), pq afinal eles poderiam pegar as
beatas (que bem gostam de fantasiar com o padre e de estigar o mesmo com
suas roupinhas, falas e olhares que dizem tudo) ou as freiras que estão
tão a perigo quanto eles.
Mas que essa proibição e marcação causa esses absurdos causa. Só não sei
até que proporção.
(Arnaldo Jabor)