Há um CÍRCULO de miséria que tenho observado durante toda
essa seqüência de planos econômicos que nos tem sido imposta. Cada plano econômico reduz, em primeiro lugar, o poder
aquisitivo da remuneração do trabalhador. A conseqüência lógica é a
redução do consumo. Disso resulta: baixa no comércio e na indústria,
com aumento do desemprego; diminuição da arrecadação de impostos, com maior
deficit público. O governo compensa as perdas com aumento de impostos, que
reduz o lucro do produtor, o qual aumenta seus preços quando consegue. O
trabalhador, que paga mais impostos do que o capitalista, passa a ter menor
capacidade de consumo, agravando a situação. Obviamente, tudo retorna ao
começo: novos aumentos de impostos, com mais perdas e ampliação das diferenças
sociais.
O Jornal do Brasil de 15/01/2000 informou em primeiro lugar que nunca se
pagou tanto imposto do Brasil como em 1999. Apesar da recessão, em 2000 deve
ter sido pago mais.
Nos primeiros anos do Real, observei o seguinte:
Na comparação entre os planos Cruzado e Real, encontram-se no
Real várias vantagens ou desvantagens, dependendo da posição do observador, se
empresário ou operário. Pois o Real é mais concentrador de Rendas.
O elemento surpresa. Os defensores do Real sempre
tocam nesse ponto como um elemento positivo do Real, por ser ele transparente,
sem surpresas. É positivo para quem? O Cruzado surpreendeu a população. Menos
desvantagem par ao trabalhador e menos vantagem para o empresário, que não pôde
aumentar antecipadamente seus preços. O Real veio lentamente, ficando todos
avisados de antemão. Nada de benefício para o trabalhador, ao qual é imposta a
redução salarial, cabendo-lhe aceitar e sofrer previamente pelas perdas futuras.
Para o empresário, muito benefício: ganhou tempo para manipular a situação
aumentando seus lucros. Ex.: A mesma mensalidade escolar que em novembro de 1993
e equivalia a aproximadamente U$80,00 (oitenta dólares) no Colégio Imaculada
Conceição, passou para R$118,77 em agosto de 1994 e, com apoio do Supremo
Tribunal Federal, a mais ou menos 250,00 em janeiro de 1996. A primeira
mensalidade mencionei aproximadamente em dólares, porque cada mês era valor
diferente, e dá uma base do acréscimo atual em comparação com a moeda americana
mesmo com sua supervalorização atual. Hoje, como minha filha não estuda lá, não
sei quanto está, mas com certeza deve ser valor aproximado dos R$367,00 que pago
em outro colégio.
Nos primeiros anos, eu deduzia em minha declaração todas as
mensalidades escolares da minha filha e ainda gastos com materiais escolares.
Hoje não posso deduzir nem a metade do valor das mensalidades, enquanto pago uma
parcela muito maior dos meus vencimentos, chegando à faixa dos 27,5%.
O sistema de conversão salarial. No Plano Cruzado, os
salários foram convertidos pela média dos últimos seis meses. Considerando a
inflação menor da época, as perdas salariais não foram muito grandes. No real, a
conversão foi pela média dos últimos quatro meses. Com uma inflação maior e
entrando no cálculo os meses de maior defasagem, a perda do empregado foi maior
e o ganho do empregador, a curto prazo, em conseqüência, maior também.
No Cruzado, a alternativa das empresas para aumentar os
preços foi esconder mercadorias. No Real, tiveram seis meses livremente para os
aumentos, contando com uma conversão monetária matematicamente muito complicada,
tornando mais difícil a população perceber os abusos. Tudo foi bem feito para
passar despercebido.
No Cruzado, os preços e serviços se congelaram de uma vez. No
real, o tempo de URV foi suficiente para se efetuarem aumentos abusivos, com o
apoio do Judiciário, o que fizeram as escolas.
No final de tudo isso, o trabalhador passou a ganhar muito
menos, e o empresário só não ganhou muito mais, porque a queda do consumo
reduziu também seus ganhos e o aumento de impostos comeu o resto. Assim o
círculo vicioso da miséria atingiu quase a todos.
Com os salários em constante baixa, as escolas públicas
sucateadas e as escolas particulares cada vez mais caras, a carga tributária
cada vez maior, os trabalhadores serão cada vez menos qualificados, e a miséria
tende a agravar.
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