O CÍRCULO VICIOSO DA MISÉRIA

- 28/04/2001 -

 

Há um CÍRCULO de miséria que tenho observado durante toda essa seqüência de planos econômicos que nos tem sido imposta.  Cada plano econômico reduz, em primeiro lugar, o poder aquisitivo da remuneração do trabalhador.  A conseqüência lógica é a redução do consumo.   Disso resulta: baixa no comércio e na indústria, com aumento do desemprego; diminuição da arrecadação de impostos, com maior deficit público.  O governo compensa as perdas com aumento de impostos, que reduz o lucro do produtor, o qual aumenta seus preços quando consegue.  O trabalhador, que paga mais impostos do que o capitalista, passa a ter menor capacidade de consumo, agravando a situação.  Obviamente, tudo retorna ao começo: novos aumentos de impostos, com mais perdas e ampliação das diferenças sociais.

O Jornal do Brasil de 15/01/2000 informou em primeiro lugar que nunca se pagou tanto imposto do Brasil como em 1999. Apesar da recessão, em 2000 deve ter sido pago mais.

Nos primeiros anos do Real, observei o seguinte:

Na comparação entre os planos Cruzado e Real, encontram-se no Real várias vantagens ou desvantagens, dependendo da posição do observador, se empresário ou operário. Pois o Real é mais concentrador de Rendas.

O elemento surpresa. Os defensores do Real sempre tocam nesse ponto como um elemento positivo do Real, por ser ele transparente, sem surpresas. É positivo para quem? O Cruzado surpreendeu a população. Menos desvantagem par ao trabalhador e menos vantagem para o empresário, que não pôde aumentar antecipadamente seus preços. O Real veio lentamente, ficando todos avisados de antemão. Nada de benefício para o trabalhador, ao qual é imposta a redução salarial, cabendo-lhe aceitar e sofrer previamente pelas perdas futuras. Para o empresário, muito benefício: ganhou tempo para manipular a situação aumentando seus lucros. Ex.: A mesma mensalidade escolar que em novembro de 1993 e equivalia a aproximadamente U$80,00 (oitenta dólares) no Colégio Imaculada Conceição, passou para R$118,77 em agosto de 1994 e, com apoio do Supremo Tribunal Federal, a mais ou menos 250,00 em janeiro de 1996. A primeira mensalidade mencionei aproximadamente em dólares, porque cada mês era valor diferente, e dá uma base do acréscimo atual em comparação com a moeda americana mesmo com sua supervalorização atual. Hoje, como minha filha não estuda lá, não sei quanto está, mas com certeza deve ser valor aproximado dos R$367,00 que pago em outro colégio.

Nos primeiros anos, eu deduzia em minha declaração todas as mensalidades escolares da minha filha e ainda gastos com materiais escolares. Hoje não posso deduzir nem a metade do valor das mensalidades, enquanto pago uma parcela muito maior dos meus vencimentos, chegando à faixa dos 27,5%.

O sistema de conversão salarial. No Plano Cruzado, os salários foram convertidos pela média dos últimos seis meses. Considerando a inflação menor da época, as perdas salariais não foram muito grandes. No real, a conversão foi pela média dos últimos quatro meses. Com uma inflação maior e entrando no cálculo os meses de maior defasagem, a perda do empregado foi maior e o ganho do empregador, a curto prazo, em conseqüência, maior também.

No Cruzado, a alternativa das empresas para aumentar os preços foi esconder mercadorias. No Real, tiveram seis meses livremente para os aumentos, contando com uma conversão monetária matematicamente muito complicada, tornando mais difícil a população perceber os abusos. Tudo foi bem feito para passar despercebido.

No Cruzado, os preços e serviços se congelaram de uma vez. No real, o tempo de URV foi suficiente para se efetuarem aumentos abusivos, com o apoio do Judiciário, o que fizeram as escolas.

No final de tudo isso, o trabalhador passou a ganhar muito menos, e o empresário só não ganhou muito mais, porque a queda do consumo reduziu também seus ganhos e o aumento de impostos comeu o resto. Assim o círculo vicioso da miséria atingiu quase a todos.

Com os salários em constante baixa, as escolas públicas sucateadas e as escolas particulares cada vez mais caras, a carga tributária cada vez maior, os trabalhadores serão cada vez menos qualificados, e a miséria tende a agravar.

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