COMO O NEOLIBERALISMO DESTRUIU A ARGENTINA
e está destruindo o Brasil também.
Com o intuito de destruir a esquerda do país e o legado peronista (e aqui não
vou me apegar as controvérsias do peronismo, mas o que ele possa ter tido de
bom, como a ideia de um estado nacional forte e industrializado), e com isso
impôr o modelo neoliberal, os militares forçaram um processo de
desindustrialização, enfraquecimento econômico dos centros urbanos e voltou a
sua economia para o campo.
Uma das economias mais dinâmicas das Américas, atrás apenas de Canadá e EUA, se
viu transformada então numa grande roça pelo neoliberalismo.
E sabem quem está com um plano igualzinho para o Brasil? A turma da lava-jato e
do Jair Bolsonaro. Com o intuito de destruir a esquerda, o PT e as
universidades, eles estão matando toda a indústria. Vai ser terra arrasada.
Vinícius Carvalho
Formado em História e mestrando em História do Tempo Presente pela Universidade
do Estado de Santa Catarina
Como o neoliberalismo destruiu a Argentina
19 de Abril de 2019
Tem uma galera me pedindo "ajuda" pra entender a crise argentina e se existe
alguma similaridade entre esta crise e a venezuelana. Bem, eu não acho que sou
tão qualificado assim pra falar sobre as coisas, não me acho inteligente, e quem
fala demais dá bom dia a cavalo. Quem nada, corre e voa é o Pato. Corre mal, voa
mal e nada mal.
Mas eu estudo neoliberalismo, o neoliberalismo é por si só uma doutrina
monetarista e a crise argentina tem, em grande medida, um flanco monetarista.
A ditadura militar argentina, assim como a chilena e a uruguaia - e diferente da
brasileira - teve uma característica neoliberal de influência da Escola de
Chicago e as teorias de Milton Friedman. Portanto esse conjunto de fatores
quando somados podem sim explicar o contexto geral da crise argentina atual.
E é diferente da Venezuela, cuja crise começou com um processo econômico chamado
"Doença Holandesa", que é quando um país fica completamente dependente de uma
única atividade econômica. No caso de lá, a venda de commodities, do petróleo. E
aprofundada por sabotagem internacional.
A fome já atinge a outrora pomposa classe-média argentina, racionamento de leite
(o que é incrível, pois a Argentina é uma das maiores produtoras de leite do
mundo, só que a moeda está tão deteriorada, que mal sobra produção para atender
o mercado interno, vai tudo quase que automaticamente para exportação), de
alimentos nos mercados do país, inflação galopante, moeda derretida... e agora,
congelamento de preços.
E outra diferença da Argentina para a Venezuela, é que a
Argentina teve todo o
apoio do mercado internacional após a vitória do Macri. Enquanto que
a Venezuela
vem resistindo com sanções, sabotagem, ameaça de bombardeio, cerco de guerra
etc.
É evidente que a derrocada Argentina tem vários culpados e vários motivos, mas é
bom destacar que os hermanos chegaram a possuir, no início do século passado, um
PIB Per Capita comparável ao da Alemanha e Holanda, e superior ao da Espanha,
Suécia, Suiça e Itália.
O projeto de estado da Argentina no século XIX vislumbrava ser a potência que ia
fazer frente com os Estados Unidos. Eles realmente acreditaram e tentaram, de
certa forma, realizar este plano.
Enquanto o Brasil não tinha uma universidade, contava com cerca de 95% de sua
população analfabeta, e o Conde D'eu fazia tiro ao alvo com crianças na Guerra
do Paraguai, sequestrava meninas paraguaias para trabalhar como escravas sexuais
nos prostíbulos de membros da família real brasileira, o
Bartolomeu Mitre voltou
para a Argentina para mediar o projeto de alfabetização e urbanização do país.
Uma população quase que integralmente alfabetizada, um PIB que cerca que o dobro
do Brasil, e responsável por mais de 50% das exportações de toda a América do
Sul, no início do século XX.
A Argentina foi, no mundo contemporâneo, talvez a única nação literalmente
desenvolvida que se transformou subdesenvolvida num período relativamente curto.
Com todos os problemas que esses termos carregam, claro.
Agora, de todos os processos que levaram a Argentina a esta catástrofe, eu
destaco a ditadura militar daquele país e, claro a supressão do mercado nacional
e da indústria pelo monetarismo.
O neoliberalismo, principalmente após a década de 90, após o Plano Brady e o
Consenso de Washington, se aprofundou de forma com que permitisse que os países
pudessem "lastrear" a sua moeda não apenas com riquezas do setor produtivo, ou
dólares, mas com "papel". Todas as moedas passaram ali a serem especulativas. Em
uns países mais e em outros menos. E a Argentina foi a que levou tal processo
mais a fundo.
Porém, cerca de 2 décadas antes, durante a ditadura, por lá ocorreu o que eu
chamo de "quimioterapia econômica e social". Explico:
Com o intuito de destruir a esquerda do país e o legado peronista (e aqui não
vou me apegar as controvérsias do peronismo, mas o que ele possa ter tido de
bom, como a ideia de um estado nacional forte e industrializado), e com isso
impôr o modelo neoliberal, os militares forçaram um processo de
desindustrialização, enfraquecimento econômico dos centros urbanos e voltou a
sua economia para o campo.
Com isso, automaticamente, na contramão do século XX, um modelo de trabalho
sindical, de alta qualificação, uma sociedade civil pujante e inteligente, uma
classe-média cosmopolita e progressista se viu de uma hora para outra
desempregada e dilapidada. Some a isso a grande crise do petróleo dos anos 70.
Sim, meus amigos. Os militares argentinos perceberam que para enfraquecer a
esquerda e o peronismo tinham que sacrificar a indústria do país, empobrecer a
população e com isso priorizar o campo.
Isso para não falar da repressão, que matou cerca de 30 mil pessoas...
A bomba relógio da atual crise argentina foi armada assim: Uma população
letrada, rica, empobrecida forçadamente, um país que viu seu PIB despencar,
passou a deixar de vender produtos industrializados com alto valor agregado para
vender produtos do campo, de baixo valor. É como se você abrisse mão da sua
revendedora da BMW para administrar um sacolão, tudo isso por ódio ideológico.
Somou aí o processo de tornar o peso uma moeda especulativa. Uma população com o
padrão de consumo despencando, passa a tomar empréstimos, se endividar, se torna
inadimplente e não tem como cobrir o buraco. A previdência não dá mais conta. E
aí, meus amigos, não adianta aumentar taxa de juros, decretar feriados
bancários, congelar preço e nem nada. A crise é cíclica e sem data para
terminar. Porque se uma moeda não tem um colchão de "riqueza" para que o seu
câmbio seja sustentado,
chega determinado momento que nem mais a especulação e a
espoliação dos mais pobres vai dar conta de alimentar o rentismo.
Uma das economias mais dinâmicas das Américas, atrás apenas de Canadá e EUA, se
viu transformada então numa grande roça pelo neoliberalismo.
E sabem quem está com um plano igualzinho para o Brasil? A turma da lava-jato e
do Jair Bolsonaro. Com o intuito de destruir a esquerda, o PT e as
universidades, eles estão matando toda a indústria. Vai ser terra arrasada.
E, com esse volume de perda de exportações, não me surpreende se o Real já não
começar a derreter este ano.
<http://amp.brasil247.com/pt/colunistas/geral/390772>
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