MEU CÉREBRO – MEU COMPUTADOR – POUCA DIFERENÇA

04/09/2003

 

Quanto mais penso nas semelhanças entre o computador e o cérebro animal, mais similaridades encontro. Parece-me que as diferenças existentes estão cada vez menores.

Já ouvi muita opinião oposta ao termo “inteligência artificial”; porém não acho que o termo esteja errado. Inteligência significa habilidade de entender, e não podemos dizer que isso não ocorra com o cérebro eletrônico. Alguns afirmam que o computador é capaz de calcular e entender se uma coisa está certa ou errada só quando alguém lhe implanta um programa direcionado a cada uma dessas funções. Mas quem pode dizer que a nossa habilidade de cálculo e nossa capacidade de selecionar se uma coisa é certa ou errada não é implantada de modo bem parecido também?

Como sou meio infomaníaco, também um pouco webmaníaco, além de outras pequenas manias que já levaram pessoas a me classificarem, ora com gênio, ora como louco, e talvez eu tenha de tudo um pouco, até mesmo agora, que meu cérebro está bem semelhante a um disco defeituoso, que mantém as informações antigas e falha no momento de adicionar novas (pouco me lembro do que aconteceu ontem ou anteontem e recordo bem dos fatos da minha infância), estive pensando: eu compro um computador com um disco de cinqüenta gigabytes, e lá está apenas aquele material preparado para implantar inúmeros programas e gravar uma imensidade de dados. Um bebê que nasce hoje está já com algumas informações implantadas, porque, no ventre da mãe, já percebe barulho, a voz da mãe, etc. e herda algumas informações genéticas. O computador recebe as informações através do teclado, de uma câmara digital, de um escâner, etc. O bebê, começa a receber informações visuais ao nascer, e levam um bom tempo para reconhecer o significado dos sons que ouve. Os dados a serem utilizados pelo seu cérebro são: informações visuais, implantadas através dos olhos; os sonoros, através dos ouvidos; os táteis, através dos receptores nervosos da pele; os odores, que entram pelas narinas e são captados pelas células olfativas; e os sabores, recebidos pelas papilas gustativas da língua. Dos dados visuais e sonoros vêm as informações que lhe permitem reconhecer quantidade e qualidade e os efeitos que lhe são ensinados. Daí é que duas pessoas dificilmente acham boas ou más as mesmas coisas e tem habilidades distintas, de acordo com as formas como receberam suas programações intelectuais.

Quando Gary Casparov, o campeão mundial de xadrez, perdeu uma longa partida para o “Deep Blue”, um computador, ficou mais provado que o homem cria inteligência artificial. Se um computador é capaz de escolher o melhor caminho das peças em oposição aos seguidos por um homem supercapacitado e ao final derrotar esse homem, não podemos negar que a programação do seu criador criou inteligência artificial.

No dia que for criado um computador com um receptor óptico, um sonoro, e dispositivos de reconhecer temperatura, pressão, etc., aí estará uma máquina capaz de acumular experiências e tomar decisões. Haja vista os vírus de computador, por exemplo o Clésio – não, Clésio é o nosso colega – queria dizer Klez, que é capaz de, após se implantar no seu computador, enviar automaticamente cópias mediante o correio eletrônico para todas as pessoas relacionadas no seu catálogo de endereços, e cada cópia equivale a um clone seu, hábil a fazer alguns estragos nas máquinas infectadas.

Quando seu computador está muito carregado, ele precisa de uma limpeza de disco, para eliminar dados inúteis, e alguns já são excluídos automaticamente em determinado número de dias. O nosso cérebro também faz a mesma coisa, só que bilhões de anos de desenvolvimento nos levou a eliminar automaticamente as lembranças que não são utilizadas e reter as mais importantes. O computador não erra, ou erra muito raramente. O computador dá muitos defeitos. Nós erramos, e muito mais que eles. O computador fica velho e passa a funcionar mal, vai de mal a pior, sendo passível de consertos, up-grades, etc. Nós também ficamos doentes, passamos a funcionar mal à medida que envelhecemos, e somos passíveis de consertos também através de remédios, cirurgias, etc. Até as bactérias e vírus que danificam nosso organismo não faltam ao computador, que enfrenta milhares de vírus cada vez mais poderosos, tais quais os vírus que desafiam a medicina.

O computador não funcionada sem energia elétrica. Nós também não; a nossa energia elétrica é fornecida pelos alimentos que ingerimos e pelo oxigênio do ar que respiramos. Nós somos até um pouco mais vulneráveis; porque, quando dormimos precisamos continuar consumido ar e a energia que foi armazenada nas nossas células tal qual a que é induzida em uma bateria; e o computador pode ficar sem energia por determinado tempo e depois ser ligado novamente. Nós não podemos ser nunca desligados. Em poucos segundos de desligamento, o nosso material vivo se deteriora irremediavelmente.

Aqueles cyborgs dos filmes de ficção científicas não estão muito longe de virem a existir. Se alguém falasse no século XIX em um dia em que você poderia ver alguém do outro lado do globo terrestre ou conversar com ele à distância e guardar a voz de uma pessoa para ser ouvida em outro tempo, as pessoas certamente diriam que isso era a maior bobagem, embora quase todas acreditasse na possibilidade de um dia seus corpos pulverizados no solo serem recompostos sobrenaturalmente.

Não podemos duvidar muito de que um dia as máquinas criadas pelo homem venham a competir com ele com uma precisão muito maior do que a de seu criador.

Eu não nasci com capacidade de saber se há cinqüenta e ou cem pessoas em um grupo, nem de entender que laranja é uma fruta e que me ajuda a viver. Tudo isso foi implantado na minha cabeça por outras pessoas. Quando eu era criança, eu sabia que manga misturada com leite era um veneno letal, e jamais teria coragem de verificar a autenticidade dessa informação. Hoje, misturo as duas coisas e não me faz mal algum, porque aprendi isso e desaprendi aquilo que sabia antes. Eu esperava que um dia as estrelas do céu fosse cair sobre a Terra, e torcia para que nenhuma caísse em cima de mim, porque está escrito que Jesus Cristo prometeu isso. Hoje, eu não creio nisso mais, porque sei que se uma pequena estrela passasse bem próximo da Terra, isso só seria suficiente para destruir a todos nós. Eu sabia que o mundo e tudo mais do universo tinha sido feito havia aproximadamente seis mil anos, porque isso foi implantado na minha cabeça como este texto está sendo implantado no cérebro do meu computador. Hoje, tenho a convicção de que bilhões de anos transcorreram desde o surgimento desta Terra e nós humanos somos um aperfeiçoamento animal de um pequeno espaço deste tempo, isso também porque foi escrito na minha massa cinzenta em alguns anos de estudo, ficando aquela estória agora contada no arquivo das piadas.

Com essas e muitas outras considerações, considero que somos uns computadores desenvolvidos naturalmente em alguns bilhões de anos. Dizer-me que isso não se desenvolveria ao acaso não me convence; porque os mesmo que afirmam isso acreditam que um ser superpoderoso, criador de tudo isso, não tenha precisado de outro para criá-lo. Somos desenvolvidos lentamente e temos um cérebro programado muito semelhantemente a um “hard disc”=disco rígido de um “personal computer”=computador pessoal que estou usando neste momento. Amanhã, posso não me lembrar de quase nada que escrevi neste momento, mas ainda sou capaz de raciocinar e criar outro texto um pouco diferente, com informações parecidas.

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