CORRENTE DA SORTE OU DO AZAR
Eu 1986, quando ainda não tínhamos uma
constituição limitando a jornada de trabalho a quarenta e quatro horas por
semana, eu estava trabalhando em um escritório de uma construtora exaustivas
nove horas e meia de trabalho de segunda a sexta-feira. Contando as horas que eu
passava dentro de dois ônibus para ir e dois para voltar, pode-se ver que não me
sobrava tempo para muita coisa.
Certo dia, recebi pelo correio (único
meio que tínhamos de correspondência) uma carta-corrente, que dizia que várias
pessoas que a haviam enviado para outras dez pessoas tiveram muita sorte, e
todas as que a guardaram sem reenviar, ou a jogaram fora, tiveram graves
problemas na vida.
Eu não quis jogar a corrente fora, mas
a guardei, como aqueles que também estavam entre os desastrados. rs.
Guardei só para ter mais exemplar das sandices humanas.
No mês de julho, perdi o emprego.
Seria a hora de os supersticiosos dizerem que eu estava começando a ter o azar
decorrente de não ter atendido o apelo da corrente.
A essa altura, eu já tinha feito um
concurso público, coisa que se faz em dia de domingo. Voltei para casa,
passei uns dias verificando novas oportunidade e brincando de datilografia, algo
de que eu precisaria muito na segunda prova. A perda do emprego foi, como
dizem os cristãos, "uma bênção".
Em agosto, fui chamado para um teste
em outra empresa, onde trabalharia apenas seis horas diárias, ganhando um
pouquinho mais do que ganhava na primeira empresa. Lá fiquei dois meses,
donde saí para assumir meu cargo no Tribunal de Contas de Minas Gerais, ganhando
quatro vezes mais do que ganhava naquele primeiro emprego.
Não dei atenção à corrente, e em
nenhum outro ano tive tanto progresso profissional quanto naquele. É claro
que tive melhoras constantes mediante outros concursos até chegar ao posto que
ocupo hoje; mas nunca tive uma mudança tão súbita.
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