Ricardo Gondim é um
crente excepcional. Se isso fosse a regra, o mundo seria bem melhor.
"'Se
Deus é soberano, Ele é o responsável pelo orgasmo do pedófilo', afirma
Ricardo Gondim
Publicado por Renato Cavallera em 1 de junho de 2011
O pastor Ricardo Gondim tem o dom da oratória. E da polêmica. Na semana que
passou, o presidente nacional da igreja Betesda, cearense radicado em São
Paulo há 20 anos, deixou de ser colunista da revista evangélica Ultimato por
defender o reconhecimento legal de uniões homoafetivas.
Antes de publicizar sua opinião sobre
a necessidade da igreja não se
intrometer no funcionamento do Estado laico, o pastor Gondim já havia
causado estranhamento em alguns setores evangélicos ao questionar o modo
como eles entendiam a soberania Divina. E em seu site publicou um artigo
revelando o temor que um dia os evangélicos tomem o poder no Brasil (leia
trechos nesta página).
Nesta entrevista exclusiva, concedida por telefone na última sexta-feira, o
pastor justifica seus posicionamentos, reafirma suas posturas e declara: “O
Brasil não se tornará melhor com o crescimento do Movimento Evangélico.”
O senhor causou polêmica ao defender publicamente a regulamentação de uniões
homoafetivas no Brasil. O senhor mantém esse pensamento?
Ricardo Gondim – Não é uma questão de pensamento. É uma questão de lógica e
eu repito o que disse. Em um estado laico, a lei não pode marginalizar ou
distinguir homens ou mulheres que se declarem homoafetivos. Há que se
entender que num estado laico não podemos confundir teologia, convicções
pessoais, com o ordenamento de leis de um país. Não podemos impor preceitos
religiosos para toda a sociedade civil. Se os preceitos são meus, você tem o
direito de não adotá-los. Foi assim que me posicionei sobre essa questão do
STF, que, a meu ver, agiu corretamente garantindo o direito de um segmento
de nossa sociedade.
Além do posicionamento a favor da regulamentação de uniões homoafetivas, há
outros pontos polêmicos em declarações recentes suas. Uma das críticas que
setores evangélicos fazem ao senhor diz respeito à sua opinião sobre a
soberania Divina. Eles dizem que o senhor passou a pregar que Deus não é
soberano.
O que acontece é que eu descarto a teologia que se difundiu sobre a
soberania de Deus. Por essa teologia, Deus tem o controle absoluto de todas
as coisas. E as pessoas não estão dispostas a entender que o corolário desse
pensamento, o que dele decorre, é que até o orgasmo, o gozo do pedófilo, ou
os horrores de Auschwitz (um dos mais conhecidos campos de concentração
nazista) estão na conta de Deus, sob a alegativa de que Ele é soberano. Se
as pessoas estão dispostas a entender assim, esse Deus é um monstro, não um
Deus de amor. A minha leitura da Bíblia é a partir de Jesus Cristo, que é um
Deus de amor, e não de Deus títere, que é responsável por chacinas,
atrocidades, limpezas étnicas. A história segue não porque Deus a controla,
a história segue porque somos personagens livres e nos comportamos com
desobediência à vontade de Deus. É por isso que existem a miséria, os
crimes, a exclusão. Porque Sua vontade é contrariada. As pessoas não estão
dispostas a lidar com esses conceitos, preferem se amparar na Soberania, que
nos rouba a nossa responsabilidade na história.
Recentemente, o senhor publicou no seu site o artigo Deus nos livre de um
Brasil evangélico, onde demonstra o seu temor que o segmento chamado
Movimento Evangélico chegue ao poder no Brasil e aponta uma série de razões
para isso. Como esse artigo foi recebido?
Foi muito mal recebido. Porque há, sim, um segmento no Brasil, que se
auto-denomina Movimento Evangélico, que difunde a ideia de que se os
evangélicos se multiplicarem no País, se houver um número suficiente para
dominar a política, as leis, se chegarem ao poder, o Brasil será um País
melhor. Isso é um ledo engano. O Brasil não se tornará melhor com o
crescimento do Movimento Evangélico. Porque esse crescimento não significa
por si só o crescimento dos valores do Reino de Deus, que são a justiça, a
inclusão que dos que estão à margem, o amor. Esses valores não são
prioridade para o Movimento Evangélico. Até porque, o número crescente de
evangélicos também estará absorvendo outros valores como a cobiça, a
injustiça social, o desejo de crescimento financeiro e de poder. Esta última
tentativa de interferência no ordenamento do STF é um exemplo desse projeto
de poder.
O senhor se refere à votação da regulamentação das uniões homoafetivas?
Sim. Eles ficaram numa campanha interna, enviando mensagens pressionando os
ministros para que votassem contrários à união homoafetiva. E ficavam
conclamando seus fieis para fazer o mesmo. Isso em um estado laico é um
absurdo. A mesma coisa está acontecendo agora no Congresso Nacional.
O senhor fala da atuação da bancada evangélica na suspensão, por parte do
Governo Federal, da distribuição do kit anti-homofobia nas escolas?
Exatamente. Falo de uma das maiores aberrações éticas que já surgiu neste
País nos últimos tempos. Em nome de blindar um ministro que está suspeito de
enriquecimento ilícito, que está tendo que explicar o aumento meteórico de
seu patrimônio, negociou-se a questão do kit anti-homofobia. Isso mostra do
que esta bancada, que se diz evangélica, que diz representar os evangélicos,
está disposta a negociar. Em nome desse projeto de poder que eu falei
anteriormente, negociou-se um projeto de grande valor para esse País. Isso é
lamentável, completamente lamentável.
O senhor encontra ressonância para esse tipo de discurso na comunidade
evangélica ou sua fala – assim como o pensamento por ela representado – é
dissonante?
Ricardo – Não é dissonante, de maneira nenhuma. Existe um grande grupo que
concorda com esse pensamento e que caminha nessa linha. Embora eu esteja em
baixo de grande percepção por conta de grupos intolerantes e
fundamentalistas, tenho me surpreendido com o número de evangélicos que me
dizem para continuar.
O senhor se arrepende de ter se manifestado publicamente sobre essas
questões?
Ricardo – Não. Absolutamente. Eu continuo repetindo o que disse. As minhas
convicções não são intempestivas, são frutos de amadurecimento teológico. O
estado é laico, e é importante que se mantenha assim. Num estado laico todos
os grupos são protegidos, até os religiosos."
<Fonte:
O Povo -
http://noticias.gospelmais.com.br/deus-soberano-responsavel-orgasmo-pedofilo-ricardo-gondim-20332.html>
É extremamente raro encontrarmos um crente
que
pense assim. A maioria quer impor as próprias crenças e condutas ao
resto da humanidade. Aí é que está o pior mal da religião. Se
todos fossem como Gondim, o mundo seria bem melhor e haveria melhor
convivência entre crentes e não crentes.