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CURA GAY - ENGANO
Francisco Dautdt da Veiga
Natureza Humana: A Cura Gay
28 mai 2013
Um taxonomista é sempre um obsessivo. Sua profissão consiste em classificar por
grupos (geralmente seres vivos), separando-os por minúsculos detalhes. Alfred
Kinsey era um taxonomista que classificava vespas na Universidade de Indiana,
EUA.
Aplicou mais tarde sua perícia e meticulosidade na pesquisa e no estudo da
sexualidade humana, tornando-se o criador da sexologia.
Seu primeiro livro, fruto de uma quantidade inacreditável de entrevistas, foi
sobre a sexualidade masculina, de 1948, onde está a “Escala Kinsey” de
orientações sexuais masculinas, com seis tipos assim definidos:
0. heterossexual exclusivo;
1. hétero ocasionalmente homossexual;
2. hétero mais do que ocasionalmente homo;
3. igualmente hétero e homo (“bissexual”);
4. homo mais que ocasionalmente hétero;
5. homo ocasionalmente hétero;
6. exclusivamente homossexual.
Ele ainda incluiu um grupo de homens sexualmente indiferentes, mas nunca conheci
um nesses 43 anos de clínica. Também não conheci um bissexual perfeito, que a
preferência erótica masculina se pesquisa através da direção dos olhos, do tesão
visual: o gênero que mais atrair o olhar de um homem determinará sua orientação
sexual. Nunca vi um que tivesse seus olhos e emoções puxados igualmente para
outros homens e mulheres. Os homens têm seu tesão despertado pelos olhos, eis
porque eles são os compradores de pornografia. Só 10% das mulheres têm tesão
visual. Os 90% acham um homem visualmente “interessante”. Se ele a olhar com
tesão, o desejo da mulher então se desperta.
Esses esclarecimentos servem para pensarmos o título “Cura gay”. Cura? Começa
que o verbo curar se aplica a doenças, o que não é o caso. Nascer com algo de
gay (dos tipos de 1 a 6), e tudo indica que venha de berço, hereditário ou da
gestação, ainda não ficou claro, apesar de a hipótese genética ser a mais cotada
entre os cientistas, definitivamente não é nascer com alguma doença.
Por outro lado, assisti a um programa de TV supostamente sobre sexualidade, com
uma seção sobre gays. A apresentadora, eufórica, abria o tema em tom
publicitário: “A diferença é linda, é saúde, é amor, é ótima (“agora em sabor
limão?”)”.
Ora, tenha a santa paciência, se há uma boa razão para a homossexualidade não
ser uma escolha, uma opção, e sim um destino, é o fato de que a presença de
atração gay na mente é perturbadora para a maioria dos homens. Pode ser muito
sofrida, e, mesmo não sendo doença em si, pode ser causadora de doença psíquica,
desde a neurose obsessiva até a depressão e a paranóia. Como o foi, outrora, o
fato de se nascer canhoto (não faz muito tempo, eles tinham a mão esquerda
amarrada para “se curarem”).
Ninguém, em sã consciência, entraria no supermercado de orientações sexuais e,
animadíssimo, poria em seu carrinho de compras o destino de ser gay, com a
gôndola de ser hétero ao lado. É muito mais fácil ser hétero.
A escala Kinsey possibilita algumas afirmações ESTATÍSTICAS, e vai assim em
caixa alta porque tem sempre alguém para dizer, “ah, mas eu conheço um que…”:
a) Nenhum tipo zero será perseguidor de gay, pois para esses, a homossexualidade
nem é um assunto. Os homofóbicos estão trazendo para fora uma luta de dentro de
suas cabeças, um conflito com algo que perceberam em si e que agora os faz se
esforçar para dizer: “gay são os outros”.
b) Apenas os tipos 6 saem do armário sem maiores problemas, pois não concebem
outro tipo de vida. Os que nascem com cabeça de mulher e brincam de boneca desde
a primeira infância, bem, já nasceram fora do armário. Os outros sofrem mais na
medida em que percebem que a vida de hétero lhes seria uma possibilidade.
c) Os americanos são extremados, sua militância não reconhece meio-termo, um
rapaz de tipo 1 a 3 pode ser pressionado a “viver sua verdade”, a se rotular
gay, como se as mulheres lhe fossem indiferentes, e ele não pudesse ser feliz
casando com uma e tendo filhos.
“Cura gay” seria uma tentativa de erradicar o desejo homo em quem não é tipo
zero nem 6. Completa ilusão, pior, erro grave. Eles até se casam com mulher,
gostando, mas, na melhor das hipóteses, o desejo homo estará engatilhado numa
prateleira, como algo causador de potenciais problemas. Parecido com o tesão na
cunhada. Na hipótese pior, será reprimido, causando doença psíquica.
E não pense que só religiosos namoram a idéia da cura gay. Até os anos 90,
muitos psicanalistas e psicoterapeutas em geral eram convencidos de que o desejo
homo era uma derivação do narcisismo, uma “incapacidade de aceitar a diferença”,
um terror de enfrentar a “angústia de castração produzida por um ser sem um
pênis”, idiotices como essas, desvios da normalidade a serem curados. Ou seja,
eles simplesmente não aceitavam que a coisa pudesse ser da natureza da pessoa,
sem nada a fazer. Todos os casos de “cura” psicanalítica do desejo gay que
conheci, e não foram poucos, “recaíram” tempos depois.
E as mulheres? Afora os tipos zero e 6, nem Kinsey conseguiu classificá-las.
Começa que elas são muito mais patrulhadas por parecerem putas que por lésbicas.
Entre elas, o trânsito de um tipo para o outro é muito grande, às vezes por
modismo, como nos dias de hoje em que as meninas “ficam” com outras para
experimentar, às vezes por estarem cansadas dos homens por um tempo. Enfim, o
miolo passeia…
Material publicado na coluna “Natureza Humana”, da Folha de São Paulo.
http://www.franciscodaudt.com.br/a-cura-gay/#.UaX4NthOClg
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