DEUS, DIABO E SUAS CRIATURAS
10/10/2003
Contou alguém dos mais conhecedores
dos fatos que marcaram a inauguração do nosso mundo que foi o Diabo que, vendo
tão solitário o animal feito à imagem do Criador, resolveu dar uma mãozinha,
criando para ele aquela companheira ideal que lhe faltava. E que ajuda! Um
paraíso sem mulher não seria bem paraíso. E, além disso, imagine se o homem
fosse perpetuar a espécie multiplicando-se por cissiparidade, como as bactérias!
Não seria nada interessante. E a obra do Diabo nunca deixou de estar no centro
das atenções do homem. Talvez seja por haver inventado coisa tão boa para o
homem, que o Diabo tem conquistado tantos amigos.
A mulher sempre esteve de alguma
forma ligada a fatos relevantes na vida do homem, e sua influência chegou até ao
céu. A Bíblia relata que os filhos de Deus (anjos) se uniram às filhas dos
homens, e dessa união surgiu uma descendência nada angélica, que fez que o
Criador se arrependesse de ter posto o homem sobre a terra. Então o grande Jeová
resolveu afogar toda a humanidade. Mas, para não acabar de vez com sua
representação na terra, livrou da inundação, junto com uma diversificada fauna,
Noé e sua família, que somavam oito pessoas segundo a Bíblia, mas alguns povos
disseram que foram seis, outros afirmaram ser só três, e houve até alguns mais
ingênuos, que disseram que se salvara um homem sozinho. Se dissessem que fora
uma mulher, até teriam mais credibilidade.
A quase total desumanização da
terra, todavia, não solucionou o problema. Continuou a existir gente malvada,
gente mentirosa, gente traidora, gente sem-vergonha e outros tipos indesejáveis.
Imagino que, ou foi uma falha tecnológica não reparada do criador dos criadores,
ou a criatura rebelde continuou a sabotar a produção.
Para evitar mais conflitos entre os
homens, Jeová, o Senhor, determinou: “Não cobiçarás a mulher do teu próximo”.
Entretanto, mal o próximo se afasta das proximidades, o peralta já começa a
tentar conhecer mais detalhes da diabólica companheira de seu semelhante.
Sabemos, pela Bíblia, que, bem cedo em nossa história, alguns homens, querendo
ser mais divinos do que os outros, recusando qualquer parceria com o Diabo,
inventaram essa onda de satisfazer a impropriamente chamada fraqueza da carne
com outros homens. Isso, porém, irritou muita gente. Mas não é só gente: Esse
comportamento esquisito acendeu a ira do Criador, a ponto de ele prescrever
severamente para Moisés: “Maldito o homem que se deitar com outro homem”. E
dizem que essa prática maldita foi uma das razões por que o Todo-Poderoso
incinerou os habitantes de Sodoma e Gomorra, deixando a salvo, junto com a
família, apenas o Ló, aquele beberrão que foi seduzido pelas próprias filhas.
Mas também ele estava meio sem saída. Sua satânica companheira fizera pouco caso
da ordem do Onipotente e olhara para trás, talvez para ver se havia escapado
algum outro varão, e foi mineralizada no ato.
Pouco antes de Ló, Jeová já havia
deixado desamparado o pobre do Abraão, que, para salvar a própria pele, abriu
mão temporariamente de sua preciosa dádiva diabólica. Abraão também não era
bobo! Se perdesse a mulher, poderia arranjar outra; mas a vida, se perdesse,
estaria tudo perdido. Ele nunca tinha ouvido falar dessa idéia de reencarnação,
de que alguns falam hoje.
E a mulher continuou a provocar
coisas dos diabos. Salomão, o mais sábio dos homens de Deus, que foi agraciado
com uma multidão de setecentas esposas e trezentas concubinas, foi capaz de
mandar eliminar seu próprio irmão, só porque o infeliz cometeu o atrevimento de
lhe pedir uma de suas mais belas mulheres. Que barbaridade de um homem de Deus!
E Davi? Não era tão afortunado de mulheres como seu filho Salomão, mas devia ter
mais do que qualquer um ricasso árabe de hoje; contudo matou um de seus
miseráveis súditos para ficar com sua mulher. É, outrossim, conhecida a história
de que Sansão perdeu a força, os olhos e finalmente a vida, tudo por obra de uma
mulher, a Dalila. Essa foi bem demoníaca.
Quando o primogênito de Deus veio à
terra como cordeiro de Deus para tirar o pecado do mundo, resolveu reformular
alguma coisa. Dizem que o Senhor escrevera na pedra: “Não adulterarás”. O seu
filho foi mais longe: “Qualquer homem que olhar para uma mulher com intenção
impura, em seu coração já prostituiu com ela”. Aí pintou sujeira mesmo! Quanta
prostituição! Quanto adultério! Hoje, no entanto, tenho a impressão de que já
foi revogado esse sétimo mandamento. Sétimo, para alguns; para outros é o sexto.
Aliás já desconfiei que esses dez mandamentos são apenas nove. Contudo, sem
ficar preocupado em saber se são dez ou nove, há um que nos agrada bastante, o
quarto (ou terceiro?); pois trabalhar todos os dias e não ter nem um para nos
dedicar aos prazeres seria o fim do mundo. Ah, por falar em fim do mundo, parece
até mentira, mas até nos nossos dias ainda existem pessoas que, não satisfeitas
com a miséria globalizada em que vivem, têm a coragem de aplicar castigo a si
próprias, visando a assegurar uma vaguinha em um mundo novo que deverá
substituir este após a ocorrência de um eclipse ou qualquer uma data escolhida
por outros sonhadores.
Deixando de lado o fim do mundo,
retornando à personagem principal do meu tema, pensando bem, parece que a mulher
não foi obra exclusiva do Diabo. Acho que Deus participou um pouco dessa
criação. Pois nem sempre as mulheres são tão diabólicas. Às vezes são divinas.
Algumas, todavia, adoram levar o homem para o paraíso e depois mandar o coitado
para o inferno.
O Senhor, criador de todas as coisas
(ou quase todas?), depois de tamanha carnificina, prometeu para Noé que nunca
mais destruiria a humanidade com água. E continua a manter a sua palavra. Mas,
como é o dono de toda sabedoria, tem sempre uma saída. São Pedro, que tinha uma
comunicação mais íntima com o céu, disse que agora Ele vai é tocar fogo nesse
mundo, e nem faço idéias de quantas pessoas vão escapar do incêndio.
Uma novidade! Considerando que a
mulher é uma das mais fecundas fontes de conflitos entre os homens, Cristo disse
que no reino dos céus não se casarão nem se darão em casamento, mas serão como
os anjos. É! Esse reino deverá ser um pouco monótono, a não ser que novamente
anjos resolvam a ter mulheres e a regra volte a mudar, liberando a satisfação
das nossas concupiscência carnais. Aqueles homens divinos, como os de Sodoma,
estão mesmo descartados! Pois um certo apóstolo disse que eles não entrarão no
reino dos céus. E, como alguém anda cantando por aí “nóis num vive sem muié”,
resta-nos esperar que o Senhor dos Senhores reveja sua política quanto às
relações humanas no reino e nos libere daquele papel angélico, se escaparmos da
anunciada explosão atômica. Agora, sejamos justos! Se esse lance da mulher
criada pelo Diabo for verdade, o Diabo até não é tão mau como dizem por aí.
Este texto faz parte da publicação da Ponto de Vista com o Título
NOVOS
TALENTOS DA LITERATURA NACIONAL
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