Pedro Malazarte vivia inconformado com
o mundo. Tudo estava errado.
— Ah! Se eu fosse Deus,
iria colocar tudo direito no seu devido lugar. Transformaria as formigas em
trabalhadores e os preguiçosos em formigas. Retiraria os espinhos das rosas,
pois estes não servem para nada. Eliminaria os ferrões das abelhas para ser mais
fácil colher o mel. Faria isso… Faria aquilo…
Assim, Pedro Malazarte
caminhava sonhando. Parou debaixo de uma jabuticabeira e pôs-se a tagarelar:
— Uma árvore tão grande
dando frutinhas tão pequenas. Ontem eu vi um pé de abóbora, com as ramas
fininhas e abóboras tão grandes. Seu eu fosse Deus faria a fruta pequena na
árvore pequena e a fruta grande na árvore grande.
Enquanto falava,
apanhou um punhado de jabuticabas, assentou-se debaixo da jabuticabeira e
tranquilamente as saboreou pensando no mundo por ele idealizado. Como estava
cansado, deitou-se e acabou dormindo. Sonhou com tudo já arrumado: com um mundo
belo e harmonioso reorganizado por ele. De súbito, foi despertando por uma
grande jabuticaba que caiu no seu olho e arrebentou-se. Pedro Malazarte acordou
apavorado. Levou a mão aos olhos e, ao sentir o caldo e a dor, pensou que alguém
havia lhe atirado uma pedra.
Quando se deu conta do
ocorrido, sentiu um frio na espinha ao pensar que se ele fosse Deus, teria
morrido, pois, em vez de cair uma jabuticaba, teria caído uma grande abóbora e
amassado sua cabeça.
Lendo essa estória, pensei na Castanha-do-Pará: se Pedro
Malazarte tivesse deitado debaixo de uma castanheira, ele nem teria tido tempo
para pensar na sacanagem divina.