E criou o
homem aos deuses à sua imagem e semelhança. E, nos deuses, o homem
expressou toda a sua maldade.
"DEUS É BOM?
Por Fabiano Onça
Nem sempre. Em mitologias de todas as épocas e culturas é possível encontrar uma
faceta bem diferente do deus amoroso e compreensivo tão valorizado no ocidente.
O próprio Zeus, deus supremo do Olimpo, estava mais para um soberano impiedoso
do que para pai bonachão. "A maior parte das entidades divinas é ambígua. Elas
apresentam um lado rígido e outro benevolente. Se você cumpre o "trato", é
recompensado; se é "infiel", será punido", diz o americano Edwin Reesink,
antropólogo pela Universidade Federal da Bahia, especialista em sociedades
indígenas.
A função dos deuses irritadiços ou malévolos é alertar os homens para perigos
morais e físicos, mostrando as terríveis conseqüências de ignorar regras
predeterminadas. "Com certos assuntos não se deve brincar. Assim, para ensinar
lições importantes, os deuses mostram seu lado mais duro", diz Charles Chiasson,
professor de mitologia grega da Universidade do Texas, Estados Unidos.
Mesmo sem os assassinatos rituais tão populares na Antiguidade,
a tradição de
dor e sofrimento continua viva nos dias de hoje. "No cristianismo temos vários
exemplos de sacrifícios, como as peregrinações e a
eucaristia (comer a hóstia
que representa o corpo de Cristo), um sacrifício símbolico", diz Reesink.
[O Cristianismo salvou os bezerros, bodes, cordeiros e
aves, mas manteve a ideia de sacrifício, sacrificando um deus em lugar desses
animais]
ENCRENQUEIROS DIVINOS
Alguns deuses que não estão para brincadeira
BAAL MOLOCH (DEUS DO SOL) Origem: Cananeu (da região bíblica de Canaã – Palestina)
Um dos mais sanguinários de todos os tempos, era representado por uma
estátua
oca de bronze com cabeça de touro, dentro da qual deveria haver um fogo aceso.
Para aplacar sua ira e garantir que o Sol não esfriasse, os homens sacrificavam
bebês primogênitos, jogando-os nas chamas da estátua. Durante o ritual, o povo
tocava flautas e tambores para disfarçar os gritos infantis.
[A
barbaridade naquele pedacinho de mundo é sem par! Haja vista o que ocorre
ali até hoje]
Aji-Suki-Taka-Hi-Kone (Deus do trovão)
Origem: Japonês
A lenda conta que o deus já nasceu barulhento. E que foi piorando à medida que
crescia. Os outros deuses costumam colocar escadas à sua frente, para que ele se
mantenha longe e lhes dê um pouco de paz. As subidas e descidas constantes
explicariam o porquê do ribombar do trovão soar ora mais perto, ora mais longe.
[Parece
que os criadores de deuses do Japão eram os mais bonzinhos. O deus deles
só perturba o silêncio, sem torturar fisicamente ninguém. rs]
Ukupanipo (Deus-tubarão das águas)
Origem: Havaiano
Podia ser mortalmente severo ou incrivelmente bondoso. Controlava a quantidade
de peixes disponível para os pescadores, punindo com a morte os inabilidosos,
distraídos ou desrespeitosos.
Em contrapartida, salvava crianças do afogamento, dando-lhes o poder de se
transformarem em tubarões.
[Nesse era mais fácil acreditar. A criança morria afogada, era comida
pelos seres do mar, e os fiéis tinham certeza de ela que tinha-se transformado
num tubarão]. rs
Huitzilopochtli (Deus do sol)
Origem: Asteca
Os astecas acreditavam que o mundo já havia sido destruído e reconstruído quatro
vezes e que a quinta seria definitiva. O primeiro sinal da catástrofe seria o
sol não surgir pela manhã, daí a necessidade de manter calmo este deus propenso
à ira. Oferendas de sangue humano eram a garantia de que o Sol nasceria no dia
seguinte.
[Esses
astecas, diferentemente dos cristãos, até tinham uma solução para o mundo não
acabar. rs].
Musso Koroni (Deusa da desordem e do sofrimento)
Origem: Africana
Adorada pela nação Bambara, Musso Koroni era conhecida como a primeira mulher a
caminhar na Terra. Teria plantado seu marido, Pemba, mas, incomodada com seus
espinhos, abandonou-o.
A partir daí, passou a vagar pelo mundo, levando tristeza e confusão por onde
passasse"
(Superinteressante, abril;2005, pág. 36).
[O
Fabiano nos deixou uma dúvida: não informou se Musso Koroni plantou
o marido depois de ele morrer, ou se o enterrou vivo. rs]
A SUPER deixou de falar do mais conhecido dos deuses:
Yavé, o deus dos hebreus, dito ser perfeito,
justo e bom, não obstante suas barbaridades; e os cristãos também o têm como o
único deus.
Os deuses do Oriente Médio recebiam sacrifícios humanos; e
seus adoradores lhes ofereciam os próprios filhos, como relata o escritor
bíblico:
“... pois até seus filhos e suas filhas queimam no fogo aos seus deuses”
(Deuteronômio, 12:31).
“Não oferecerás a Moloque nenhum dos teus filhos, fazendo-o passar pelo fogo;
nem profanarás o nome de teu Deus. Eu sou o Senhor” (Levíticos, 18: 21).
Todavia, Yavé, o deus de Israel não era muito diferente dos outros. Ele não
recebia só uma enorme quantidade de sangue de bezerros, cabritos, cordeiros,
aves, etc. Pessoas também eram mortas como oferta a Yavé, como ficou
registrado em Levíticos: “Ninguém que dentre os homens for dedicado irremissivelmente ao Senhor, se
poderá resgatar: será morto” (Levíticos, 27: 29).
Como vemos aí, sacrifícios humanos eram proibidos quando oferecidos aos outros
deuses; mas ao deus de Israel era permitido.
O profeta Isaías apresentou Yavé como um deus autor do bem e do mal.
“Eu formo a luz, e crio as trevas; eu faço a paz, e crio o mal; eu sou o Senhor,
que faço todas estas coisas." (Isaías, 45: 7).
Esse deus judaico-cristão-muçulmano é apresentado hoje como perfeito, justo, bom, etc., refletindo o grau
de civilização do cristianismo atual. Mas os principais cristãos confirmam que
seu deus é o mesmo deus que no passado escolheu a nação hebraica e mandou que
matassem os povos da região que chamavam de Canaã. Mas o apresenta
um pouco pior: em vez de simplesmente matar, ele condena a
uma tortura eterna até uma pessoa que simplesmente não crer na mensagem cristã
(Marcos, 16:16). É por isso que dizemos que o homem faz deus à sua
imagem e semelhança: mau como os piores dos humanos.