DEVASSA, NÃO; MAS LINDA, SIM
Devassa, não. Mas linda, não podemos negar.
"Sandy devassa e Dilma cozinheira
Ruth de Aquino
RUTH DE AQUINO
é colunista de ÉPOCA
[email protected]
Quem convence mais? Sandy bebendo cerveja ou Dilma preparando omelete? A cantora
e a presidente decidiram popularizar suas imagens. Sandy ficou loura platinada e
posou com uma tulipa nos lábios, sem nenhum jeito de devassa. Dilma encarou a
frigideira no programa de Ana Maria Braga e se saiu melhor do que a cantora.
Marketing por marketing, a presidente foi menos polêmica e mais convincente no
papel desenhado para ela: uma avó normal e afetuosa que lê romances açucarados e
Dostoievsky.
“Todo mundo achava que ela era comportadinha, boa menina, dormia cedo.”
Assim começa o anúncio da cerveja, com a Sandy de costas. Aí ela faz algo que
certamente nunca tentara antes e precisou ensaiar bastante: destampa a garrafa
com um golpe de mão no balcão. E se vira, os cílios enormes, a bochecha rosada
de blush. Reconhecemos ali a moça que sempre defendeu a virgindade antes do
casamento. Cervejeiros se recusam a acreditar que a cantora seja boa de copo. E
seu striptease meia bomba é despido de qualquer traço de sensualidade.
Pela polêmica, a campanha é sucesso – só não sabemos se vai convencer homens e
mulheres a consumir a cerveja. O jeito com que Sandy segura o copo cheio, com o
dedo mindinho tenso, denunciou a incompatibilidade da moça com o líquido
dourado.
A escolha da garota-propaganda rendeu piadas no Twitter. “A Sandy é tão devassa
que... comeu os docinhos antes do parabéns... para causar, cortou o papel
higiênico fora do picote.... tocou a campainha da Wanessa Camargo e saiu
correndo!... já usou condicionador antes do xampu... A Sandy é tão devassa que
uma vez comeu cereal matinal à tarde.” Como a Sandy nunca me convenceu nem
como cantora nem como mulher atraente, custo a encontrar o motivo do
cachê milionário. Além do mais, prefiro cerveja ruiva e preta. Não sou
definitivamente o público-alvo dessa campanha.
A outra investida de imagem na semana, que exibiu a Dilma dona de casa, avó e
cozinheira, me convenceu bem mais. Foi um marketing bem pensado às vésperas do
Dia Internacional da Mulher, 8 de março. Não faço parte do público de programas
populares ou de televisão aberta no Brasil. Jamais assisti a um Big Brother, nem
por dever de profissão. Há sacrifícios impossíveis.
Dilma encarou a frigideira e se saiu
melhor do que a nova garota-propaganda da cerveja
Como Dilma seria a entrevistada de Ana Maria Braga, resolvi assistir ao
programa. Li críticas azedas à presidente, pela conversa de comadre numa semana
em que o país discutiu volta da inflação, cortes no Orçamento e aumento nos
juros.
Vi e gostei. Na cozinha, Dilma parecia menos deslocada do que Sandy no botequim.
Estavam ali no programa duas mulheres que venceram uma luta contra o câncer. Não
dá para achar que Dilma vai tomar café da manhã com o papagaio e Ana Maria Braga
para discutir a Líbia ou a demissão de Emir Sader na Cultura ou o assédio do
Paulinho da Força Sindical. Dilma chegou a falar de CPMF e das microempresas.
Saúde e empreendedorismo são temas caros à mulher. Com um timbre de voz mais
suave, tentou desgarrar sua imagem do ex-presidente que agora ganha R$ 200 mil
por palestra autolaudatória.
O que mais me agradou em Dilma quase não repercutiu: seu apreço pela educação.
“Meu pai valorizou uma coisa que todos os pais e mães devem valorizar nas
crianças e jovens, o estudo. É uma forma de conhecer o mundo e ser uma pessoa
melhor. Eu gostava de romances açucarados com final feliz, da Coleção das Moças,
mas meu pai me dava junto um livro de Dostoievsky.” A presidente disse ter tanta
paixão por livros que adora cheirar as páginas novas. “Se quiser me dar imenso
prazer, me deixa numa livraria. Faço outras compras como todas as mulheres, mas
amo livros.”
|
Não dá para negar!
(Revista Nova, agosto/2010) |
Após dois mandatos de um presidente que se gabava de não ler nem jornal, oito
anos sendo obrigada a engolir a glamourização da ignorância e a glorificação do
inculto, dá enorme alívio ouvir Dilma falar assim. Não importa que a maioria
dos telespectadores nem sequer saiba quem é Dostoievsky, o autor de Crime e
castigo que viveu no século XIX. Isso é detalhe. "
http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI216044-15230,00-SANDY+DEVASSA+E+DILMA+COZINHEIRA.htmL
Na verdade, Sandy nem consegue fingir devassidão. Mas não é
difícil encontrar o "motivo do cachê milionário". Se ela não convence Ruth
de Aquino, "como cantora nem como mulher atraente", o fabricante de
cerveja sabe muito bem que a maioria dos homens não pensa assim. Tudo em
que a pequena se mete tem grande repercussão. Não é por acaso que
ela sempre aparece entre as primeiras nas listas de mulheres mais interessantes.
Se em 2003 ela foi a
décima de cem selecionadas, e em
2007 foi a terceira,
em 2009, foi a quinta, além de aparecer bem outras enquetes, não adianta negar que ela é uma mulher
linda. Não conseguiu passar a imagem de devassa; e sempre gostamos
de fazer piadas com o seu jeito de certinha mesmo; mas onde ela aparece, não há
como não notar. A palavra devassa não chamava muito a atenção antes.
Mas, agora com ela nada devassa ligada à cerveja, nunca a cerveja poderia ser
tão lembrada. Com certeza o fabricante da bebida não está nem um pouco
arrependido de ter pagado o cachê milionário.
Em 2012, ela foi eleita a mulher que mais agrada
o públicdo masculino.
Ver mais
sobre
Sandy