1. Hidrelétrica de Itaipu
- 2. Paulipetro - 3. Ponte "Costa e Silva" (Rio-Niterói) - 4. Delfim
Neto e a Camargo Correa - 5. Newton Cruz e o caso Capemi - 6.
Transamazônica - 7. Grupo Delfin - 8. Golpe militar financiado por
Caixa 2 - 9. Corrupção do chefão do Dops: Paranhos Fleury - 10.
Fraude do Farelo.
"10 escândalos de corrupção
da ditadura militar, abafados pelas Forças Armadas
O general Hamilton Mourão ameaçou uma intervenção militar "caso o
Judiciário não limpe a política da corrupção". Qualquer conhecedor
da história brasileira sabe que as Forças Armadas estão tão próximas
da corrupção como o pus da ferida.
Jean Barroso
segunda-feira 25 de setembro|
O general Hamilton Mourão
ameaçou uma intervenção militar "caso o Judiciário não limpe a
política da corrupção". Qualquer conhecedor da história brasileira
sabe que as Forças Armadas estão tão próximas da corrupção como o
pus da ferida. Se quiséssemos ilustrações recentes, basta olhar para
o Pará: neste último 21/9, como
mostra o G1, o Superior Tribunal Militar (STM) condenou o
coronel do Exército, Carlos Alberto Paccini Barbosa, e mais seis
pessoas - um ex-tenente e cinco civis -, por envolvimento em um
esquema de desvio de dinheiro público em obras que estavam sob a
responsabilidade do 8º Batalhão de Engenharia de Construção (8º BEC),
quartel do Exército sediado em Santarém.
Em primeiro lugar, deram
origem a figuras tão "íntegras" como Paulo Maluf, Antônio Carlos
Magalhães e José Sarney, durante a ditadura militar. A ditadura
militar no Brasil, ainda, deu o ponta pé inicial para o
enriquecimento abrupto das grandes empreiteiras como a Odebrecht,
sempre envolvida em esquemas de corrupção (como mostramos
aqui). Mas além disso, podem-se enumerar dezenas de conhecidos
casos de corrupção na ditadura militar, que desabilita os "cérebros
das casernas", como Mourão, a falar sobre "limpeza de ilícitos" numa
instituição impregnada de escândalos.
1.
Hidrelétrica de Itaipu
A maior produtora de
energia elétrica do mundo provavelmente também foi a obra em que
mais se desviou verba pública durante o regime militar. Em 1979, o
embaixador José Jobim foi encontrado morto com uma corda no pescoço.
Sua filha afirma que uma semana antes ele estava na posse de João
Figueiredo e havia anunciado que escreveria um livro sobre a
corrupção na construção da usina. Jobim participou do empreendimento
indo ao Paraguai para negociar as turbinas com a empresa Siemens.
Sinais de sangue nas
roupas e os pés encostados no chão, mas o investigador concluiu que
teria sido "suicídio" sem sequer abrir o inquérito. (Leia
a fonte aqui.)
2.
Paulipetro
"Rouba mas faz" foi o
slogan de ninguém menos que Paulo Maluf, que teve empresa criada
para a perfuração de petróleo enquanto foi governador de São Paulo.
Depois de perfurados 69 poços, constatou-se que não havia petróleo
algum e que R$ 4 bilhões foram gastos na "empreitada". Belo presente
da ditadura militar, tão aclamada pelos saudosistas dos coturnos e
uniformes verde e amarelo, proporcionou à política brasileira.
3. Ponte
"Costa e Silva" (Rio-Niterói)
O primeiro grande
empreendimento faraônico dos militares, a Ponte Rio-Niterói demorou
5 anos para ser entregue e passou por dois consórcios diferentes. O
general Costa e Silva, que "humildemente" deu o próprio nome à
ponte, licitou a Construtora Ferraz Cavalcanti, a Construtora
Brasileira de Estradas, a Empresa de Melhoramentos e Construções
S.A. e a Servix Engenharia S.A, que entregariam a obra por 238
milhões de cruzeiros em 1971.
Com o atraso nas obras e
inúmeros acidentes que levaram a morte de muitos operários, o
ministro dos Transportes, Mário Andreazza, da alta cúpula das obras
faraônicas dos militares, adiou a inauguração e entregou a obra para
a Camargo Corrêa, Mendes Júnior e Construtores Rabelo Sérgio Marques
de Souza.
Segundo
O Globo, a obra terminou custando US$ 674 milhões de dólares na
época. Já segundo a
Istoé, o empreendimento teria ficado em R$ 5 bilhões. Difícil
saber o número exato quando os militares escondem as informações e
censuram a imprensa.
Médici passeia com Andreazza na ponte no Rolls Royce
presidencial, A opulência dos militares daria inveja em muitos
políticos de hoje- Fotos Acervo Globo
4. Delfim
Neto e a Camargo Correa
Delfim Neto foi ministro
da Fazenda durante o governo Costa e Silva, Médici, embaixador na
França durante o governo Geisel e ministro da Agricultura no governo
Figueiredo.
Sobre ele pesam as
suspeitas, também abafadas pela censura e pelo encobrimento de tudo
o que ocorreu durante os governos militares, de ter facilitado a
Camargo Correa na construção de outras duas hidrelétricas, de Água
Vermelha (MG) e de Tucuruí. As denúncias foram publicadas em no
livro "Ditadura Acabada" de Élio Gaspari.
A hidrelétrica de Tucuruí, no projeto US$ 2,5 bilhões, acabou
custando US$ 10 bilhões de dólares. (Fonte.)
5. Newton
Cruz e o caso Capemi
Um caso leva a outro, e o
jornalista e colaborador do Serviço Nacional de Inteligência,
Alexandre von Baumgarten, teria sido morto por ter contato com as
denúncias envolvendo o general Newton Cruz com a Agropecuária Capemi
e a exploração da madeira no futuro lago Tucuruí (ver anterior).
Pelo menos US$ 10 milhões de dólares teriam sido desviados para
beneficiar o SNI. O ex-delegado do Dops, Cláudio Guerra, declarou em
2012 que a ordem para matar veio do próprio SNI.
6.
Transamazônica
Conhecida por ser a a
estrada que liga o nada ao lugar nenhum, a Transamazônica foi uma
obra faraônica bilionária e inconclusa por parte dos militares,
durante o governo Médici (1969 - 1974). O projeto previa a ligação
do Cabedelo, na Paraíba, à cidade de fronteira Benjamin Constant, no
Amazonas. A ideia era seguir até o pacífico pelo Peru e o Equador,
um roubalheira realmente sem limites, combinado ao desmatamento da
mata, expulsão de povos indígenas e seringueiros. No fim, a
Transamazônica terminou 687 km antes, em Lábrea, e, claro, sem
asfalto. Nem por isso, deixou de custar a bagatela de US$ 1,5
bilhões de dólares na época
7. Grupo
Delfin
A corrupção rolava tão
solta, que os corruptos de casos diferentes se juntavam
esporadicamente para roubar. No caso do grupo Delfin, Mario
Andreazza (ministro do Interior, ex transportes) e Delfim Netto
(Planejamento, ex fazenda) se encontram com Ermano Galvêas
(Fazenda), em uma reportagem da Folha de SP em 1982 que apontou que
a empresa de crédito imobiliário Grupo Delfin, dos três, recebeu 70
bilhões de Cruzeiros do Bando Nacional de Habitação (governo) para
quitar dívidas.
8. Golpe
militar financiado por Caixa 2
FOTO: João Marques - 14.abr.1964/"Última Hora"
Em 2014, o coronel
reformado Elimá Pinheiro relatou à Comissão da Verdade da Câmara
Municipal de São Paulo que os militares receberam financiamento
através de caixa 2 de empresas. No caso relatado Raphael de Souza,
presidente da Federação das indústrias do Estado de São Paulo
(Fiesp), teria pago o equivalente a, nos dias de hoje, R$ 9,5
milhões para comprar o apoio do general Amaury Kruel, que comandava
o 2º Exército em São Paulo e havia sido Ministro da Guerra de João
Goulart.
Segundo o depoimento,
"Cada um trazia duas maletas, uma em cada braço. No total, seis
maletas. (...) Mandei abrir. Começou uma briga, mas olhei e vi que
era só dólar, dólar, dólar. Todas elas cheias de dólares.
Amarradinhos do banco, aqueles pacotes de depósito bancário. Um
milhão e 200 mil dólares." Kruel jurava lealdade a Jango e
rapidamente mudou de lado.
"Ninguém doava dinheiro
de lucro" disse Paulo Egydio Martins, ex-governador de São Paulo
e presidente da Associação Comercial de São Paulo na época. Esta
fato ilustra que, não só existiu corrupção durante a ditadura
militar, mas mais que isso, se não fosse a corrupção dos
capitalistas, os militares não teriam força para se manter no poder
por si próprios, sem o apoio dos capitalistas que financiaram aquele
regime autoritário em troca de multiplicar seus lucros. (Fonte
aqui..)
9. Corrupção
do chefão do Dops: Paranhos Fleury
Um dos nomes mais
conhecidos da repressão, atuando na captura, na tortura e no
assassinato de presos políticos, o delegado paulista Sérgio
Fernandes Paranhos Fleury foi acusado pelo Ministério Público de
associação ao tráfico de drogas e extermínios. Apontado como líder
do Esquadrão da Morte, um grupo paramilitar que cometia execuções,
Fleury também era ligado a criminosos comuns, segundo o MPF,
fornecendo serviço de proteção ao traficante José Iglesias, o
"Juca", na guerra de quadrilhas paulistanas. No fim de 1968, ele
teria metralhado o traficante rival Domiciano Antunes Filho, o
"Luciano", com outro comparsa, e capturado, na companhia de outros
policiais associados ao crime, uma caderneta que detalhava as
propinas pagas a detetives, comissários e delegados pelos
traficantes.
Fleury também é acusado de
envolvimento em diversos outros episódios de sequestro, tortura e
assassinato durante a ditadura militar, entre eles os do militante
Carlos Lamarca e do dominicano Frei Tito, caso relatado no filme
Batismo de sangue. Também participou da prisão de participantes do
Congresso de Ibiúna da União Nacional dos Estudantes (UNE) e é
apontado como um dos comandantes da Chacina da Lapa, em São Paulo, e
da Chacina da Chácara São Bento, no Recife.
10. Fraude
do Farelo
Na pequena cidade de
Floresta, Pernambuco, a agência do Banco do Brasil fazia empréstimos
a pessoas influentes do estado, supostamente para plantar mandioca.
Mas elas nunca pagavam: alegavam que a seca destruíra os plantios
que nunca foram feitos e os prejuízos eram cobertos pelo seguro
agrícola. Em 1981, quando se descobriu a mutreta,
calculava-se que o valor total dos “empréstimos” chegara a 700
milhões de dólares. O processo de desvio de dinheiro não foi
concluído e, claro, nenhum dinheiro foi devolvido. Em Pernambuco
mesmo, no ano seguinte, grandes pecuaristas pediam financiamento
para comprar farelo para alimentar o gado e aplicavam o dinheiro na
caderneta de poupança. Essa história ficou conhecida como “fraude do
farelo”.