PROJETO DE LEI Nº , DE 2013
(Do Sr. Alexandre Toledo)
Institui o Dia Nacional da
Mandioca
O Congresso Nacional decreta:
Art. 1º É instituído o Dia Nacional da Mandioca (Manihot esculenta), a ser
comemorado anualmente no dia 22 de abril, em todo o Território Nacional.
Art. 2º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
JUSTIFICAÇÃO
Eis um produto genuinamente brasileiro. Estudos em sítios arqueológicos
auxiliados
pelo uso do carbono 14 indicam nosso País (mais precisamente o sudoeste da
Amazônia) como o centro de origem e dispersão da espécie. Hoje, sua importância
alimentar é base de sustentação para mais de 600 milhões de pessoas no mundo.
A mandioca, também conhecida por aipim, macaxeira e vários outros nomes, é uma
planta da família das Euphorbiáceas (como bem apresenta o cantor Djavan em uma
canção) originária do Brasil, de onde se espalhou, primeiramente para Guatemala
e
império maia, e depois pelas mãos dos conquistadores espanhóis para a Europa
(pois
se espantaram com a fartura da farinha de mandioca, muito mais abundante e fácil
de
ser obtida que a farinha de trigo europeia), tornando-se típica na região
tropical
firmando produção, portanto, nos continentes africano e asiático. Atualmente ela
é
cultivada em cerca de 80 países do planeta.
O Brasil produz em torno de 27 milhões de toneladas de raiz provenientes, em
grande
parte, de mais de 14 milhões de agricultores familiares, em mais de 1,7 milhão
de
hectares plantados, com uma produtividade média de quase 15 toneladas/ha.
A
condição de maior produtor mundial, que o Brasil deteve por muitos anos, foi
ultrapassada pela Nigéria na África e mais recentemente pela Tailândia, caindo
para o
posto de terceiro lugar.
Essa condição indica a necessidade de rever e aprimorar as políticas públicas
para o
setor, buscando aprimorar o uso do produto em função da sua versatilidade de
usos
na alimentação humana e animal, repensando formas apropriadas para torná-la um
diferencial na fixação do homem no campo, auxiliando sobremodo no equilíbrio
social.
Recentemente, em audiência pública, por nós requerida, discutimos, no âmbito da
Comissão de Agricultura desta Casa, as agruras e perspectivas para todo o setor.
A versatilidade da mandioca no plano da alta gastronomia permeia a recomendação
e
uso por laureados chefs de cuisine e culinaristas do porte de Iracema Sampaio,
Nelson Conceição, Braulino Oliveira, Teresa Corção, Alex Atala, Dona Lucinha,
Margarida Nogueira, Neide Rigo, Beth Beltrão, Claude Troisgros, Beto Pimentel,
Paulo
Martins, Rafael Sessenta, Tereza Paim, Ofir Oliveira, Faustino Paiva, Layr
Marins
entre outros.
No plano cultural, já foi decantada em prosa e verso por Gabriel Soares de
Souza,
Manoel da Nóbrega, José de Anchieta, Jean de Lerry, Debret, Rugendas, Câmara
Cascudo, Couto de Magalhães, Pinto de Aguiar, Milton de Albuquerque, Antônio
José
da Conceição, Patativa do Assaré e se traduz nas músicas de Luiz Gonzaga,
Djavan,
Juraildes Cruz, Xangai, Raimundo Sodré e expressões populares na voz de
cantadores, repentistas e cordelistas.
Entre todos os momentos da história da Raiz do Brasil, o mais destacado acontece
no
século XIX com a instalação da 1ª Constituição do Brasil em 1823, denominada
“Constituição da Mandioca”. Chamada elitista, ela era a expressão da importância
da
mandioca: o povo não votava e somente os detentores de posse, que não era
avaliado
em moeda corrente mas sim em alqueires de farinha de mandioca (medida em litros.
Nos primórdios do descobrimento, ano de 1500, os portugueses a encontraram como
alimento básico dos índios servindo como complemento indispensável sob a forma
de
farinha acompanhando a carne e o peixe abundantes; logo em seguida, tornava-se o
principal energético para o trabalho escravo e dos bandeirantes no desbravamento
do
nosso território.
Na sua chegada ao Brasil, em 1553, o Padre José de Anchieta viu a importância da
mandioca e logo a batizou de “pão da terra” ou “pão dos trópicos”. Um dos
primeiros
registros feitos sobre a raiz autóctone pelo escrivão do descobrimento, Pero Vaz
de
Caminha, ao rei de Portugal, diz: “Eles não lavram nem criam; aqui não há boi,
nem
vaca, nem cabra, nem ovelha, nem galinha ou qualquer outra criação que
acostumada
seja ao viver dos homens”; ao referir-se aos nativos dizia: “são tão rijos, tão
nédios
(gordos) que não o somos tanto, com tanto trigo e legumes que comemos”.
Quando se referia ao alimento dos nativos escreveu: “Eles não comem senão doutra
coisa a não ser dum inhame que brota da terra”; este inhame a que se referia,
era a
mandioca, desconhecida do conquistador português que conhecia algo semelhante, o
inhame, proveniente das colônias da África portuguesa.
Lembra o pesquisador da Embrapa Mandioca e Fruticultura Tropical, Joselito da
Silva
Motta, que “a história do Brasil é muito pródiga em registros sobre a
importância da
mandioca e tem como aliada o escritor e folclorista Luís da Câmara Cascudo,
autor do
livro ‘A História da Alimentação do Brasil’, que destinou um capítulo especial à
mandioca, denominado-a de ‘Rainha do Brasil’ onde destaca seu valor histórico,
cultural, alimentar; sua obra totaliza 164 livros e o torna a maior expressão
literária do
Rio Grande do Norte”.
O antropólogo alemão Hans Staden, que viveu no Brasil à época do estabelecimento
das capitanias hereditárias, tem diversos registros de fatos que colocam a Raiz
do
Brasil como o fundamental, “o basalto, o recurso, a provisão”, como relata
Cascudo.
Alguns historiadores apontam para o fato que, se o Brasil não tivesse mandioca o
tempo de desbravamento do nosso território seria muito mais longo ou mesmo quase
impossível; a farinha, principal derivado, dado a sua vida útil prolongada, foi
logo
incorporada à intendência de navegação como suprimento alimentar e atendia
também outras expedições que aportavam no Brasil em direção às Américas. Seguia
também para a África para servir de alimento nos porões dos navios negreiros na
viagem ao Brasil e também nos ciclos do pau-brasil, da cana-de-açúcar, do café
etc.
Os primeiros governadores gerais do Brasil, Thomé de Souza, Duarte da Costa e
Mem
de Sá, embora portugueses e tivessem o privilégio do trigo a mesa, preferiam os
derivados da mandioca por considerá-los mais saudáveis.
Em outro momento da história na última década do século XVIII, comerciantes
especuladores antevendo as secas cíclicas do Nordeste, compravam a farinha de
mandioca para venderem a preços elevados no momento da crise; o fato obrigou o
governo da época e confiscar a farinha – primeiro produto confiscado – para
vendê-la
a preços módicos às populações carentes; a chegada da farinha do governo era
anunciada com foguetes daí a expressão também registrada na história – “farinha
de
foguete”.
A importância da mandioca foi preponderante no período colonial e se estendeu ao
longo dos séculos como base alimentar. Hoje é cultivada em todo o território
nacional,
com significativa importância para a economia do Nordeste e Norte do país em
função
de suas características de resistência a seca além de produzir em solos de baixa
fertilidade.
A ciência esclarece as diferenças de mandioca: as mansas, chamadas de mandioca
nas regiões Sul e Sudeste e Centro Oeste e de aipins ou macaxeiras ou de mesa no
Nordeste possuem teor de HCN (ácido cianídrico) baixo para o consumo fresco, e
as
bravas utilizadas para a indústria, com teor de HCN mais elevado e que se torna
reduzido pelo processamento industrial.
Caldos, sucos, pães, bolos de puba, de aipim, escondidinho, bolachas, biscoitos,
paçocas, cuscuz, tortas, rocamboles, mingaus, sopas, cremes, pudins, sorvetes,
farinhas, pirões, purês, farofas, pizza, maniçoba, tacacá, tucupi, xibé, caxirí,
ximango,
xiringa, avoador, pêta, ginete, brevidade, casadinho, cozido e assado, sagu,
farinha de
tapioca, tapioca pipoca, tapioca recheada, pão de queijo, beijus tradicionais e
coloridos
preparados com frutas e hortaliças; pratos quentes e frios, doces e salgados são
exemplos da vasta culinária regional espalhada Brasil afora, como iguarias que
evidenciam a presença da Raiz do Brasil.
Essas possibilidades tão variadas, todas marcadas pelo componente energético
proporcionado pelo amido, podem fazer parte do cardápio diário da merenda
escolar
no Brasil em substituição a vários produtos industrializados muitos deles
inconvenientes a saúde das crianças e que são determinantes nos hábitos
alimentares
durante a juventude e na vida adulta.
Ao concentrarmos a atenção na riqueza de alternativas proporcionadas pela raiz
não
devemos desprezar o potencial alimentar proporcionado pela parte aérea da
planta;
enquanto a raiz é rica em carboidratos representados pelo amido, as ramas e
folhas
são fonte de proteínas, vitaminas e minerais com elevado teor de proteínas – 28
a
32% nas folhas – Fe, Ca, Vits B1, B2, B6, Vit C e principalmente vitamina A;
toda sua
riqueza pode estar na mesa ao ser transformada em mais carne, leite e ovos como
suprimento alimentar dos animais sob a forma de farinha das folhas, feno, raspa
e
silagem.
A versatilidade da mandioca se revela também por meio do seu amido diferenciado
contido nas raízes com ampla aplicação na indústria de cosméticos, petrolífera,
siderúrgica, papeleira, de cervejas, confeitaria, colas, tintas, embutidos de
carne,
sorvetes, balas, dentifrícios, panificação, especialmente na substituição do
trigo
importado, e, mais recentemente, na fabricação de embalagens biodegradáveis,
ecologicamente corretas.
Em função do governo brasileiro, no passado, ter subsidiado fortemente uma
política
para o trigo, excluindo a mandioca. Atualmente, o País consome cerca de 8,5
milhões
de toneladas de farinha de trigo, cerca de 80% importada, resultando num custo
anual
de US$ um bilhão, que poderia ser reduzido se incentivasse-se mais o consumo de
farinha de mandioca e seus derivados.
Estudos feitos pela Embrapa indicam que se pode usar fécula da mandioca para
substituir em até 20% o trigo importado na fabricação do pão francês,
carro-chefe da
panificação, em 30% para outros produtos e até 40% nas massas de pizza.
Pelo forte apelo inclusivo social e econômico deste projeto e pelas razões
expostas,
estamos convencidos de que esta iniciativa merecerá o acolhimento e os
aperfeiçoamentos que se fizerem necessários por parte dos ilustres membros desta
Casa, pois, ao criarmos uma data nacional para mandioca, coincidindo com o mesmo
dia em que o Brasil foi descoberto, ampliamos a visibilidade desse tesouro
nacional,
mostrando ao País e ao mundo a verdadeira importância desse produto genuinamente
verde-amarelo.
Sala das Sessões, em ...........de abril de 2013
Deputado Alexandre Toledo
(PSDB/AL)
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