Logo após assumir o poder, os militares incluíram a reforma agrária entre suas
prioridades. Um grupo de trabalho foi imediatamente designado, sob a coordenação
do Ministro do Planejamento, para a elaboração de um projeto-de-lei de reforma
agrária. No dia 30 de novembro de 1964, o Presidente da República, após
aprovação pelo Congresso Nacional, sancionou a Lei nº 4.504, que tratava do
Estatuto da Terra.
O texto - longo, detalhista, abrangente e bem-elaborado - constituiu-se na
primeira proposta articulada de reforma agrária, feita por um governo, na
história do Brasil.
Em vez de dividir a propriedade, porém, o capitalismo impulsionado pelo regime
militar brasileiro (1964-1984) promoveu a modernização do latifúndio, por meio
do crédito rural fortemente subsidiado e abundante. O dinheiro farto e barato,
aliado ao estímulo à cultura da soja - para gerar grandes excedentes exportáveis
- propiciou a incorporação das pequenas propriedades rurais pelas médias e
grandes: a soja exigia maiores propriedades e o crédito facilitava a aquisição
de terra.
Assim, quanto mais terra tivesse o proprietário, mais crédito recebia e mais
terra podia comprar.
Nesse período, toda a economia brasileira cresceu com vigor - eram os tempos do
"milagre brasileiro" -, o país urbanizou-se e
industrializou-se em alta velocidade, sem ter que democratizar a posse da terra,
nem precisar do mercado interno rural. O projeto de
reforma agrária foi esquecido e a herança da concentração da terra e da renda
permaneceu intocada. O Brasil chega às portas do século 21 sem ter
resolvido um problema com raízes no século 16."
Como naquele tempo eu vivia em lugares onde não se sabia do que estava
acontecendo, e eu mesmo nem sabia que existia uma ditadura, só ouvia propagandas
do governo pelo rádio, lembro que havia uma propaganda que dizia "plante que o
governo garante"; e também não sabia o que seria reforma agrária. Alguns idosos
que hoje ainda dizem que aquele tempo era melhor, certamente devem acreditar que
foi feita reforma agrária naquele tempo também.