Lá estava eu
naquela manhã, planejando as pancadas que iria dar naqueles colegas que gostavam
de zombar de mim, coisa das que eu mais fazia na escola.
Subitamente, apareceu uma porção de pessoas, todos nossos vizinhos, e fiquei
sabendo que era hora de ir para o céu.
Avisei minha família, inclusive minha irmã mais velha, que estava no tear
tecendo cobertor e me disse que iria trabalhar um pouco mais, depois iria para o
céu.
No grupo dos que iam para o céu estava o sogro do meu irmão, um senhor muito
católico, que fazia uma reunião de oração cada fim de semana alternando entre as
residências dos vizinhos. Parece-me que cem por cento da população vizinha eram
católicos.
Quando eu já estava começando a caminhar rumo ao céu,
caminho que começava com uma montanha ao norte da minha casa, o Sr. Antônio
Virgílio, o referido rezador, disse: “O Joãozinho não pode ir para o céu não”.
Ele era bem conhecedor das minhas tendências para as brigas, o que me fez sentir
certo susto, já que ele era também alguém considerado de bom caráter e muito
dedicado às coisas espirituais.
Mas, para minha salvação, um outro vizinho muito amigo disse imediatamente:
“Não, sô Antonho, Deus deu orde dele i, uai!”; ao que o Sr. Antônio não se opôs.
E eu fiquei feliz nesse momento.
Daí, caminhamos pela íngreme montanha em direção ao céu. E o céu não parecia
estar muito distante. Chegamos rapidinho lá.
Parando na porta do céu, nem me lembrava das outras pessoas que foram comigo. Só
fiquei observando o ambiente. Havia uma cerquinha de pau a pique, igualzinha a
umas que eu via muito pela região, que estava fazendo a fronteira entre o céu e
o inferno. Não me lembro das pessoas que estavam no céu; mas via uma pessoas
chorando baixinho no lado do inferno. Não vi aquelas chamas que me diziam
existir no inferno, nem vi o Diabo. No céu, vi Deus, um homem idoso bem grande
assentado.
Em determinados momentos, observei que alguns dos que estavam no inferno
saltaram por sobre a cerca e passaram para o lado do céu. Mas eu ficava
observando, fora daqueles dois ambientes opostos.
Antes que eu decidisse entrar no céu – no inferno não ia querer entrar mesmo -,
eu me despertei.