DISPUTAS POR UM
DEUS
Sangue em nome de Deus
Embora preguem a paz, as religiões deixaram suas marcas em
guerras e outros crimes cometidos contra a humanidade. Por quê?
por
Texto Eduardo Szklarz
As três grandes religiões monoteístas —
cristianismo, judaísmo e
islamismo — pregam a paz, a tolerância, a compaixão e o amor ao próximo, mas deixaram suas
marcas em guerras e banhos de sangue ao longo da história. Para alguns
pesquisadores, uma explicação estaria na própria lógica do
monoteísmo: se apenas o "meu" Deus é verdadeiro,
os "outros" certamente são falsos —
e seus seguidores, infiéis. "As religiões são diferentes, mas todas elas
exigem a mesma
exclusividade", diz o historiador britânico Christopher Catherwood, da
Universidade de Cambridge, na Inglaterra.
Foi assim com os judeus, os primeiros monoteístas, que reivindicaram uma aliança
especial com Deus há 4 mil anos. Sua noção de "povo eleito" foi atacada por João
Crisóstomo e outros patriarcas da Igreja Católica, que no século 4 qualificaram
os seguidores do judaísmo de filhos do Diabo e inimigos da raça humana. Em 325,
o 1º Concílio de Nicéia culpou-os pela morte de Jesus — uma acusação só retirada
em 1965, no Concílio Vaticano 2º, e que insuflou 2 mil anos de injúrias e
matanças. Durante a Inquisição, por exemplo, milhares de judeus foram colocados
na fogueira; outros tantos se converteram em massa à fé cristã, já que o batismo
era a única chance de salvação.
No século 7, foi a vez de o islã tentar impor a primazia de seu Deus sobre os
demais. Os exércitos de Maomé partiram da Arábia para invadir o Oriente Médio, o
norte da África e a Espanha. "O objetivo da expansão não era tanto econômico ou
político, como no imperialismo ocidental do século 19, mas a conquista em nome
da fé, que eles acreditavam ser a verdadeira", diz Catherwood. Reconhecidos como
"povos do livro", judeus e cristãos puderam manter sua fé desde que pagassem
altos tributos — e, dependendo do governo em exercício, sofriam perseguições.
Assim, quando o papa Urbano 2º lançou as cruzadas para tentar recuperar a Terra
Santa, em 1096, os espanhóis já vinham lutando contra os muçulmanos havia quase
400 anos. Urbano prometeu apagar para sempre os pecados de quem embarcasse na
empreitada, que fracassou depois de transformar Jerusalém em um cemitério a céu
aberto. "Cabeças, mãos e pés se amontoavam nas ruas", escreveu Raymond de
Aguiles, um dos cruzados.
Em 1215, o 4º Concílio de Latrão proibiu os judeus de exercer funções públicas e
os obrigou a usar um distintivo de identificação sobre as roupas — medidas que
seriam reeditadas no século 20 por Adolf Hitler e o regime nazista. É certo que
o Holocausto foi executado no auge da sociedade moderna e racional. Mas a força
motriz do genocídio — o antissemitismo — se nutriu dos mitos religiosos
arraigados durante séculos na Europa.
Cristãos e islâmicos pregam a paz,
mas promovem matança entre eles
Da mesma forma, só é possível entender os conflitos dos anos 90 nos Bálcãs tendo
em conta as heranças religiosas do passado. No século 14, a região foi invadida
pelos turcos-otomanos — o último império muçulmano, que determinava a identidade
das pessoas pela religião a que pertenciam. A maioria delas pôde continuar
acreditando no Deus do cristianismo, sem os mesmos direitos dos "fiéis". Muitos,
no entanto, se converteram ao islamismo — e veio o problema. "Os atuais bósnios
muçulmanos descendem daqueles que se converteram durante a conquista turca", diz
Catherwood. "Para os sérvios, eles são traidores."
Cristãos ortodoxos, os sérvios até hoje celebram o ano de 1389 — quando Lazar,
chefe das tropas sérvias, morreu enfrentando os muçulmanos e virou mártir. O
líder sérvio Slobodan Milosevic invocou esse sacrifício em seus discursos de
1989, acendendo a chama dos confrontos que levariam a uma matança desenfreada.
Nas palavras do historiador americano Mark Juergensmeyer, da Universidade da
Califórnia, a linguagem religiosa tem o poder de "trasladar o conflito humano a
uma dimensão cósmica". Traduzindo: no dia-a-dia, não matamos gente; mas, se Deus
ordena, podemos. Nesse caso, a violência não seria um ato selvagem, mas o
cumprimento da vontade divina.
O século 20 viu crescer uma devoção militante nas principais religiões, chamada
popularmente de fundamentalismo. "Alguns fundamentalistas não hesitam em
fuzilar
devotos numa mesquita ou matar médicos que fazem aborto. A maioria não é
violenta, mas rejeita conquistas da modernidade, como a democracia, o
pluralismo, a tolerância religiosa e a separação entre religião e Estado", diz a
pesquisadora inglesa Karen Armstrong, autora do livro "Em Nome de Deus".
Para esses radicais, a nossa sociedade racional e pecadora tem levado a uma
crise moral. "O fracasso da modernidade seria causado pela ausência de Deus",
diz o sociólogo francês Jean-Louis Schlegel. Essa reação ocorre não apenas nas
religiões monoteístas mas também no hinduísmo e no budismo.
Apesar das enormes diferenças entre os grupos fundamentalistas, eles geralmente
buscam reconduzir sua religião ao caminho "puro e verdadeiro" de seus
ancestrais. Por isso, os alvos principais são os seguidores moderados de sua
própria crença. Foi o caso dos protestantes americanos que, no início do século
20, quiseram se distinguir dos protestantes liberais e se denominaram
"fundamentalistas" — daí o nome. Eles
queriam voltar aos fundamentos da tradição
cristã, o que incluía interpretar a Bíblia da forma mais literal possível e
parar de ensinar a Teoria da Evolução nas escolas — uma campanha que ainda
divide os EUA.
Dentro do judaísmo foi criado o grupo ultraortodoxo Naturei Karta, que é contra
a existência do moderno Estado de Israel. Para esse grupo, o regime israelense é
herético porque sua ideologia fundadora — o sionismo — rejeitaria Deus e a Torá
(o livro sagrado). Rabinos do Naturei Karta apoiam o presidente iraniano Mahmoud
Ahmadinejad, que prega a destruição de Israel.
Já o fundamentalismo islâmico vem do grupo Irmandade Muçulmana, fundado em 1928
no Egito. Para ele, o islã entrou em decadência ao adotar o modo de vida
ocidental. Portanto, é preciso derrubar os governos moderados e substituí-los
por regimes baseados na sharia, a lei islâmica. São essas ideias que inspiram
terroristas como os da Al Qaeda.
Mas o radical islâmico que joga um avião contra um prédio não acredita no mesmo
Deus que um muçulmano moderado? Como o Deus de um pode condenar esse crime, se o
Deus do outro promete transformá-lo em herói?
Aí é que está: o Deus é o mesmo, mas as interpretações de sua mensagem são
distintas. O suicídio, por exemplo, sempre foi pecado na tradição islâmica.
Hoje, no entanto, é interpretado como martírio pelos fundamentalistas — e usado
como arma por terroristas.
Judaísmo, cristianismo e islamismo têm o mesmo deus, mas não se entendem
Pomos da discórdia
Exemplos de conflitos de fundo religioso
Judeus x Muçulmanos
Onde: Oriente Médio
Quando: Em curso desde 1947
Resultado: Mais de 7,5 mil mortos de 2000 para cá
O conflito começou como disputa territorial por causa da criação do Estado de
Israel, mas assumiu caráter religioso. Hoje, fundamentalistas judeus e islâmicos
são o maior entrave para a paz. Um não aceita a existência do outro e quer
varrer o oponente do mapa para sempre.
Hindus x Muçulmanos
Onde: Índia e Paquistão
Quando: Fim da década de 1950
Resultado: 500 mil mortos
A violência eclodiu com o fim do domínio colonial britânico sobre a Índia, em
1947. Os muçulmanos se negaram a integrar um país com os hindus, foram à guerra
e criaram o Paquistão. Outros dois conflitos já ocorreram, por causa da disputa
pela região da Caxemira.
Católicos x Protestantes
Onde: Irlanda do Norte
Quando: Décadas de 1960 a 1980
Resultado: Cerca de quatro mil mortos
A rixa histórica entre cristãos irlandeses descambou para a violência embalada
por um componente político: de um lado, a maioria protestante (chamada
unionista) quer continuar ligada ao Reino Unido; do outro, a minoria católica
(nacionalista) almeja pôr fim ao domínio britânico.
Cristãos x Muçulmanos
Onde: Bálcãs
Quando: Décadas de 1980 e 1990
Resultado: Mais de 100 mil mortos
Durante décadas, o ditador comunista Josip Tito manteve as províncias da
Iugoslávia unidas à força. Com sua morte, em 1980, o nacionalismo religioso
explodiu numa espécie de luta de todos contra todos, incluindo sérvios
(ortodoxos), bósnios (muçulmanos) e croatas (católicos).
<http://super.abril.com.br/religiao/sangue-nome-deus-619248.shtml>
Se você pensa em um mundo melhor, com liberdade de pensamento e direitos humanos, não
contribua com seu voto para dar poder a religioso. Pois eles têm
como base, para criar leis, um livro escrito por um povo bárbaro e revoltado que
vivia oprimido por dominadores cruéis e pensava em vingança o tempo todo.
Assim como a lei de Moisés mandava matar prostituas,
homossexuais, filhos rebeldes, até uma pessoa que trabalhasse em determinado dia
da semana, assim como Josias rei de Judá matou e
queimou sobre os altares os sacerdotes que cultuavam deuses assírios, se
nosso corpo legislativo um dia for constituído por religiosos, poderão mudar a
Constituição e começar a condenar e executar a todos que
contrariarem o que acham que seu deus quer, assim como fazem muçulmanos
nos países que dominam e como fez a Igreja Católica quando teve poder até sobre
os reis da Europa. Religiosos não reconhecem direitos humanos, só pensam em
impor ao resto do mundo o que creem ser "vontade de Deus".
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