DITADURA ENRIQUECEU EMPRESAS PRIVADAS COM DINHEIRO PÚBLICO
Empresários que apoiaram golpe de 64 ficaram
milionários com dinheiro público
Empresários que apoiaram o golpe de 64 construíram grandes fortunas com dinheiro
público. Pesquisador afirma que no golpe dos empresários, a “mais beneficiada
foi a Globo”
Roberto Marinho, ACM e a Ditadura
Com mestrado na Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo sobre os
empresários e o golpe de 64 e em fase de conclusão do doutorado sobre os
empresários e a Constituição de 1988, o professor Fabio Venturini esmiuçou os
detalhes de “como a economia nacional foi colocada em função das grandes
corporações nacionais, ligadas às corporações internacionais e o Estado
funcionando como grande financiador e impulsionador deste desenvolvimento,
desviando de forma legalizada — com leis feitas para isso — o dinheiro público
para a atividade empresarial privada”.
Segundo o pesquisador, é isto o que nos afeta ainda hoje, pois os empresários
conseguiram emplacar a continuidade das vantagens na Carta de 88.
Venturini cita uma série de empresários que se deram muito bem durante a
ditadura militar, como o banqueiro Ângelo Calmon de Sá (ligado a Antonio Carlos
Magalhães) e Paulo Maluf (empresário que foi prefeito biônico, ou seja, sem
votos, de São Paulo).
Na outra ponta, apenas dois empresários se deram muito mal com o golpe de 64:
Mário Wallace Simonsen, um dos maiores exportadores de café, dono da Panair e da
TV Excelsior; e Fernando Gasparian. Ambos eram nacionalistas e legalistas. A
Excelsior foi a única emissora que chamou a “Revolução” dos militares de “golpe”
em seu principal telejornal.
Sobre as vantagens dadas aos empresários: além da repressão desarticular o
sindicalismo, com intervenções, prisões e cassações, beneficiou grupos como o
Ultra, de Henning Albert Boilesen, alargando prazo para pagamento de matéria
prima ou recolhimento de impostos, o que equivalia a fazer um empréstimo sem
juros, além de outras vantagens. Boilesen foi um dos que fizeram caixa para a
tortura, e comparecia pessoalmente ao Doi-CODI para assistir a sessões de
tortura. Foi justiçado por guerrilheiros.
Outros empresários estiveram na mira da resistência, como Octávio Frias de
Oliveira, do Grupo Folha, que apoiou o golpe. O que motivou o desejo da
guerrilha de justiçar Frias foi o fato de que o Grupo Folha emprestou viaturas
de distribuição de jornal para campanas da Operação Bandeirante (a Ultragás, do
Grupo Ultra, fez o mesmo com seus caminhões de distribuição de gás). Mais tarde,
a Folha entregou um de seus jornais, a Folha da Tarde, à repressão.
“Se uma empresa foi beneficiada pela ditadura, a mais beneficiada foi a Globo,
porque isso não acabou com a ditadura. Roberto Marinho participou da articulação
do golpe, fez doações para o Instituto de Pesquisas Econômicas e Sociais (Ipes,
que organizou o golpe). O jornal O Globo deu apoio durante o golpe. Em 65, o
presente, a contrapartida foi a concessão dos canais de TV, TV Globo, Canal 4 do
Rio de Janeiro e Canal 5 São Paulo”, diz Fabio Venturini.
Ainda segundo o pesquisador, “na década de 70 a estrutura de telecomunicações
era praticamente inexistente no Brasil e foi totalmente montada com dinheiro
estatal, possibilitando entre outras coisas ter o primeiro telejornal que
abrangesse todo o território nacional, que foi o Jornal Nacional, que só foi
possível transmitir nacionalmente por causa da estrutura construída com dinheiro
estatal. Do ponto-de-vista empresarial, sem considerar o conteúdo, a Globo foi a
que mais lucrou”.
“A Globo foi pensada como líder de um aparato de comunicação para ser uma
espécie de BBC no Brasil. A BBC atende ao interesse público. No Brasil foi
montada uma empresa privada, de interesse privado, para ser porta-voz
governamental. Se a BBC era para fiscalizar o Estado,
a Globo foi montada para
evitar a fiscalização do Estado. Tudo isso tem a contrapartida, uma empresa
altamente lucrativa, que se tornou uma das maiores do mundo (no ramo).”
Venturini também fala do papel de Victor Civita, do Grupo Abril, que “tinha
simpatia pela ordem” e usou suas revistas segmentadas para fazer a cabeça de
empresários, embora não tenha conspirado.
<http://www.pragmatismopolitico.com.br/2014/03/empresarios-que-apoiaram-golpe-de-64-ficaram-milionarios-com-dinheiro-publico.html>
Ver mais
POLÍTICA BRASILEIRA