AS DIVINDADES E A REALIDADE
O homem primitivo criou divindades
conforme sua natureza animal. Seres poderosos, autoritários, vingativos,
egoístas, apreciadores de sacrifícios de vidas, etc. O deus dos
hebreus não fugiu à regra: um ser monstruoso que criou a Terra cercada por um
céu ornamentado por milhares de estrelinhas; colocou nela muitas espécies de
animais e um casal humano, esse superior, à sua imagem, devendo dominar sobre os
outros animais, mas ser estritamente obediente às suas ordem e lhe render
homenagens constantes, sob pena de sofrer o mais duro castigo. E, para os
cristãos, embora chamando de bom, justo, perfeito, e uma série de outros
adjetivos elogiáveis, esse deus se tornou ainda mais cruel, aplicando
castigo eterno aos que não lhe obedecessem ou simplesmente não acreditassem nele.
Mas o homem inteligente se rebelou contra esse ser imaginário e descobriu que as
leis físicas do universo não estão aí para favorecer ninguém, trazendo sempre
muitas surpresas, entre elas os seres vivos na Terra, talvez em algum outro
planeta também; porém essas vidas podem a qualquer momento ser vítimas das
alterações climáticas e outras.
O homem primitivo imaginou deuses à
sua imagem, como gostaria de ser: poderosos, intolerantes, vingativos, querendo
o respeito e adoração de todos. Assim, achou que, se sacrificasse vidas em
homenagem a esses seres imaginários, iria conquistar seu beneplácito, sendo por
eles protegido. E, dessa forma, desde as tribos africanas até os incas,
maias e astecas americanos, todos derramavam rios de sangue em honra aos deuses.
A certa altura da civilização, lá pelo
Egito ou no Oriente Médio, alguém teve a idéia de supor que não havia tantos
deuses como se pensava, mas um único deus que teria criado todas as coisas.
Todavia, o novo deus imaginado não deixou de lado a exigência dessa horrenda
prática de tirar vidas e mais vidas para satisfazer sua arrogância.
Cordeiros, bezerros, aves, etc., algumas vezes até seres humanos, eram
oferecidos em sacrifício a esse deus todo-poderoso e vingativo, que teria dito
vingar a "iniquidade dos pais nos filhos até a terceira e a quarta geração"
daqueles que o aborrecessem (Deuteronômio, 5: 9).
Para o povo monoteísta, que se arvorou
escolhidos do Altíssimo, Esse deus, chamado Yavé, teria a Terra, como centro do
universo, rodeada por um céu cheio de estrelinhas, com dois grandes luminares,
uma para iluminar o dia e outro para iluminar a noite. Esse deus teria
feito um casal humano superior a todos os animais, à semelhança do próprio deus,
colocando esse homem para dominar sobre os animais, mas exigindo dele uma
estrita obediência, sob pena de morte. Mas uma cobra teria seduzido a
fêmea humana a comer de uma fruta que o deus proibira e, por esse pequeno
deslize, a humanidade teria sido condenada eternamente a sofrimento,
envelhecimento e morte.
Tendo o primeiro casal dois filhos, um
deles achou graças aos olhos do monstro todo poderoso ao sacrificar ovelhas em
sua honra; no entanto, o irmão, que era agricultor, lhe ofereceu vegetais,
deixando o deus bastante decepcionado; pois ele não sabia que deuses gostam é de
sangue. Daí, o irmão que se sentiu abandonado pelo deus ficou também tão
decepcionado, que matou o irmão de quem o deus se agradou.
Como o ser humano é o pior dos
animais, em poucos séculos esse deus se arrependeu de ter criado uma espécie tão
má, aquela à sua imagem e semelhança, que resolveu destruir a humanidade; pois
maldade só ele podia fazer à vontade. Pensando (não obstante onisciente)
que poderia criar uma humanidade melhor a partir de um único casal cujo cabeça
lhe parecia um homem justo, fez uma descomunal inundação, destruindo quase a
totalidade de todas as espécies junto com a humana.
Mas o onisciente não previu que a
humanidade continuaria má, e novamente o mundo se encheu de gente desobediente.
E, como ele havia prometido para seu homem escolhido que nunca mais iria
destruir o mundo com água, teve um outro plano: escolheu um caldeu que lhe
parecia perfeito para gerar uma descendência destinada a dominar sobre todos os
outros, que eram maus. Esse povo passou a viver para destruir quem
desobedecesse seu deus. Travava uma batalha após a outra, na esperança de
dominar o mundo, como lhe teria sido prometido pelo deus todo-poderoso.
Posto que vivesse sempre dominado por
adoradores de outros deuses, os escolhidos de Yavé nunca desconfiaram de que ele
não fosse cumprir o que acreditavam ter-lhes sido prometido. Foram
tentando superar seus dominadores até serem expulsos da terra da promessa por um
povo que adorava uma multidão de deuses que eles consideravam falsos. E
não perceberam que o deles não era em nada superior aos dos gregos e romanos.
Paralelamente à nação javista, que
havia perdido tudo que julgava ter por concessão divina, surgiu outro grupo,
alegando que o grande deus havia rejeitado aquele povo e doravante estava
chamando os povos de todas as nações para ser seus novos representantes.
Sem deixar a crença de que o pecado
humano deve ser expiado com sangue, os novos javistas idealizaram um outro
estranho sacrifício: o grande deus teria oferecido seu próprio filho para sofrer
a morte mais ignominiosa que se conhecia, a crucifixão, pagando os pecados de
toda a humanidade, ou melhor, de todas as pessoas que o aceitassem como o
salvador. Por outro lado, exacerbando a monstruosidade daquele deus,
passaram a pregar que quem não cresse na nova mensagem salvadora seria condenado
a um suplício eterno em meio a chamas inapagáveis. E esse grupo teve
sucesso, porque sua doutrina foi oficializada pelo império.
Com a queda do Império Romano, os
novos conquistadores, já catequizados pela nova religião, passaram a aplicar a
condenação divina a quem não cresse. Todos os outros grupos religiosos
foram eliminados e quem duvidasse da verdade da religião oficial ou a ela se
opusesse era colocado vivo para ser assado e incinerado pelas chamas das santas
fogueiras. E milhões foram dessa forma sacrificados em nome do deus que
eles diziam misericordioso, justo, perfeito, etc.
Mas a curiosidade humana não foi de
todo detida pela imposição divina. O homem começou a fazer ciência de
descobrir realidades que estavam fora do alcance da onisciência do deus então
dominante. Descobriu-se que a Terra não era o centro do Universo como
preconizado pela palavra divina, nem estava a flutuar sobre as águas como
cantado nos salmos davídicos.
Depois de muitos séculos de
barbaridades em nome de um deus, ministros religiosos de vários países começaram
a questionar o comportamento da poderosa igreja e a veracidade de sua doutrina,
surgindo vários grupos dissidentes, que transformaram a representante do
cordeiro de deus em bicho de sete cabeças, ou seja, a besta do apocalipse.
Guerras e mais guerras resultaram do novo embate religioso, e de todos os lados
opositores eram empalados, espedaçados, queimados, ou mortos de outras formas
cruéis, tudo em nome de um deus bom e justo. E terminou por a igreja
primitiva perder o seu poderio que tinha sobre as nações europeias e todo o
mundo colonizado.
Depois de a Astronomia ter abalado
bastante os alicerces da verdade divina mostrando que o nosso Planeta não é o
centro do universo, o sepultamento da arrogância dos que se julgavam criação
divina especial estava por vir no âmbito da biologia. Um biólogo
genial mostrou ao mundo que os seres vivos não foram criados seis mil anos atrás
cada um segundo a sua espécie, mas as espécies surgiram de mutações biológicas
ocorridas durante bilhões de anos. No início, como não existiam as
abundantes provas que temos hoje, essa descoberta foi ferrenhamente combatida
pelo mundo religioso, onde ainda existem alguns redutos persistentes até hoje.
Como a igreja era dona de quase todas as universidades, muitos estudantes de
ciência se dedicaram a desfazer o que a Biologia estava desvendando, e até hoje
há vários deles tentando desacreditar a Ciência, na tentativa de preservar vivo
o deus que os homens primitivos criaram à sua imagem.
O aprimorado conhecimento astronômico
da atualidade já nos mostra uma dura realidade: planetas surgem de
explosões de estrelas; poucos deles têm condições de habitabilidade; estão sendo
constantemente bombardeados por rochas que viajam pelo espaço e se encontram com
eles pelo caminho; há buracos negros que engolem planetas e até estrelas; e,
onde surge vida, os seres vivos estão sempre em risco de extinção.
Para um povo de três
mil anos atrás, a verdade era que um deus criou tudo que existe cerca de seis
mil anos atrás, sendo o nosso planeta o centro do universo, e o homem um ser
especial criado à imagem divina para dominar sobre os outros seres vivos.
Mas a visão telescópica criada pelos homens da Ciência desmentiu essa chamada
"verdade"; os métodos científicos de datação provaram que nosso jovem planeta
tem bilhões de anos; e o avanço no conhecimento genético não deixa mais dúvida
de que não somos criaturas tão especiais, mas parentes próximos dos chimpanzés e
temos parentesco até com as bactérias. E o mais decepcionante para os que se
julgam protegidos por divindades é que as leis físicas do universo não estão aí
para favorecer ninguém. Onde surge a vida, as espécies que não se
adaptarem às mudanças planetárias estão fadadas à extinção, sobrevivendo os mais
adaptáveis, e prosseguem uns devorando os outros, e o homem, crente ou
descrente, ainda não conseguiu se livrar de se tornar alimento de bactérias.
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