ELEIÇÃO DA BANCADA EVANGÉLICA
ANULADA
Eleição para presidente da bancada
evangélica tem troca de farpas, fraudes nos votos e é anulada
"Eleição de novo líder da bancada evangélica é anulada após briga por causa de
cédula impressa. Em votação marcada por denúncias, nome do PL disputa contra
adversário do Republicanos
Por Eduardo Gonçalves — Brasília
02/02/2023
O deputado Silas Câmara (Republicanos-AM) durante sessão no plenário da
Câmara
Em meio a uma briga envolvendo o uso da cédula impressa e
o sistema da Câmara, a Frente Parlamentar Evangélica anulou nesta quinta-feira a
eleição do novo presidente da bancada. Foi a primeira vez na história que
o grupo criado em 2003 não escolheu o seu representante por aclamação e precisou
recorrer às urnas.
Ligado à Assembleia de Deus da região Norte, o deputado Silas Câmara
(Rep-AM) era considerado o favorito para derrotar o deputado Eli Borges
(PL-TO) e o senador Carlos Viana (Podemos-MG).
Nos últimos dias, Eli chegou a despontar com força, devido à articulação do PL e
da desistência do deputado Otoni de Paula (MDB-RJ), que declarou voto nele.
Quando a eleição por cédula estava se encaminhando para o fim, o grupo de Eli
começou a questionar supostos indícios de fraude no
registro de votos.
— Se for declarado um vencedor, eu vou judicializar porque essa eleição foi
fraudada — declarou Otoni de Paula, ao se retirar irritado no meio da reunião da
bancada evangélica. Segundo ele, parlamentares que não estavam subscritos como
membros da Frente votaram em Silas Câmara.
— A gente não diz que somos crentes, irmãos, que somos a
palmatória do mundo, que a gente corrige gay, todo mundo. E faz essa
sacanagem aqui dentro, eu não tolero isso, não — acrescentou Otoni.
Otoni de Paula desistiu de comandar a Frente Evangélica e apoiou Eli Borges —
Foto: Câmara dos Deputados
Devido à confusão, a reunião durou 4 horas e terminou sem se chegar a uma
definição. A eleição foi remarcada para a segunda quinzena de fevereiro.
— A minha decisão foi pela nulidade da eleição. Vou publicar um novo edital. Nós
tivemos dificuldades por causa do sistema de informática da Câmara — disse o
atual presidente da Frente, Sóstenes Cavalcante (PL-RJ).
Os nomes de inscritos fornecidos pela Casa Legislativa não batiam com os da
cédula impressa. Segundo ele, houve um problema técnico nas ferramentas de
informática da Câmara, que não atualizaram o registro de integrantes da bancada,
como o da deputada Carla Zambelli (PL-SP) e do
pastor Sargento Isidorio (Avante-BA), por exemplo.
A inscrição é o que conferia o direito ao voto.
— Briga, briga e briga. Está parecendo o PL — disse um deputado
evangélico, aos risos, ao sair no meio da deliberação.
Prevendo o confronto, Sóstenes já havia determinado que a deliberação ocorresse
a portas fechadas - até assessores de parlamentares foram
impedidos de entrar na sala.
— Eleição dá essa confusão mesmo. Por isso, eu sempre fui a favor de um acordo —
afirmou Sóstenes.
Antes da reunião, existia a possibilidade de os candidatos entrarem em um
consenso para selar a paz. Entre os deputados, que se consideram "irmãos na fé",
houve a sugestão de que um candidato assumiria no primeiro ano e o outro, no
segundo.
O problema é que os dois postulantes mais competitivos -
Silas Câmara e Eli Borges - queriam iniciar a legislatura na presidência e não
arredaram o pé. A eleição, então, foi realizada.
Em seu sétimo mandato como deputado federal, Silas já foi presidente da Frente
entre 2019 e 2020 e mantém diálogo com lideranças de diferentes denominações.
Irmão do pastor Samuel Câmara, presidente da chamada Igreja-mãe da Assembleia,
ele conta com o apoio de parlamentares da Universal, como o senador
Marcelo Crivella e o deputado
Márcio Marinho, ambos do Republicanos. E até de membros da igreja de Eli,
a Assembleia de Deus do Ministério Madureira. O
principal deles é o deputado Cezinha da Madureira
(PSD-SP), que já presidiu o comitê durante 2021.
A favor de Eli Borges, que está no segundo mandato, há o respaldo de boa parte
do PL e a movimentação do presidente da legenda, Valdemar
Costa Neto. O PL possui hoje a maior bancada na Câmara e na frente
evangélica.
— Ele (o deputado Eli) tem muitas chances. É o favorito — disse Valdemar ao
GLOBO, nesta quarta-feira.
Os deputados e senadores evangélicos saíram do encontro tentando minimizar o
conflito interno. Crivella disse que o episódio não significa que há um racha no
bloco.
— Seguimos o que a Bíblia diz: O pai é nosso, de todos nós — declarou ele.
Sóstenes, por sua vez, comentou que a briga reflete a relevância alcançada pela
bancada. — Antes, não tinha gente para comandar a FPE. Hoje, temos até disputa.
<https://oglobo.globo.com/politica/noticia/2023/02/eleicao-de-novo-lider-da-bancada-evangelica-e-marcada-por-briga-por-causa-de-cedula-impressa.ghtml>
A "relevância" que vemos é que a ganância evangélica não é diferente da de
outros. O "amor ao dinheiro", como dizem eles, "é a raiz de todos os
males".
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