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A POBREZA DIMINUI OU OS MENOS POBRES
EMPOBRECE?
Novos empregos criados em 2011 estão concentrados na faixa até dois mínimos
Autor(es): Arícia Martins | De São Paulo
Valor Econômico - 20/06/2011
No primeiro quadrimestre do ano, foram abertas 820,8 mil vagas formais pagando
até três salários mínimos, segundo o Cadastro Geral de Empregados e
Desempregados (Caged), mas como nas faixas salariais seguintes o saldo entre
demitidos e admitidos foi negativo, o total de novos empregos no país ficou 2,8%
menor e somou 797,7 mil no período. A parcela positiva de empregos entre dois e
três mínimos, contudo, foi ínfima - apenas 172 vagas.O começo de 2011 manteve,
portanto, o padrão de geração de vagas dos últimos anos, absolutamente
concentrado nas faixas de menor remuneração (até dois salários mínimos), apesar
do constante alarde feito por empregadores sobre a necessidade de mão de obra
qualificada.
A formalização do emprego, o aumento da oferta de vagas e os constantes
reajustes do salário mínimo podem explicar por que o saldo positivo de postos de
trabalho com carteira assinada continua concentrado nas faixas que vão até dois
mínimos, concordam analistas consultados pelo Valor. No substrato que vai de
três a quatro mínimos, o saldo de vagas criadas nos primeiros quatro meses de
2011 chega ao máximo de 16.162 postos cortados, sendo menor nos grupos
seguintes.
No mesmo período do ano passado, quando foram criados 962,3 mil postos com
carteira assinada, a tendência observada foi igual: o saldo de vagas nas faixas
de meio a dois salários superou o total do quadrimestre em 14%, ao passo que as
faixas de dois a mais de 20 mínimos registraram saldo negativo de 25,7 mil
postos.
Se em 2009 - ano em que o Brasil sentiu o efeito da crise financeira - a
principal explicação para a má qualidade das vagas formais criadas eram as
demissões de cargos mais altos para que as empresas reduzissem os custos de suas
folhas de pagamento, agora analistas avaliam essa estatística como algo não
passageiro, mas sim inerente à economia brasileira, que cresce apoiada no setor
de serviços e em salários menores, como qualquer país emergente.
"O salário mais baixo tem a ver com a estrutura ocupacional que está gerando
postos de trabalho. Esse dado desnuda o quão longe ainda estamos de ser um país
desenvolvido", diz Sérgio Mendonça, supervisor técnico do Departamento
Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). O economista
destaca que os principais setores contratantes da economia são os que pagam
menos, como o de serviços, comércio e construção civil.
Das vagas abertas nos primeiros quatro meses de 2011, 47% estão no segmento de
serviços (382.321), enquanto na indústria da transformação - setor que, segundo
Mendonça, costuma pagar entre dois a três mínimos - o saldo positivo é 53%
menor, de 179.066 vagas, que representam 22% do total do primeiro quadrimestre
do ano.
No mesmo período de 2010, do total de vagas criadas, 36% foram geradas no setor
de serviços (346.474), e 29% na indústria da transformação (287.443 postos).
João Saboia, professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio
de Janeiro (UFRJ) e especialista em mercado de trabalho, afirma que nos últimos
cinco anos, de cada três empregos criados, um foi gerado pela construção civil.
Além disso, segundo Alcides Leite, professor de economia da Trevisan Escola de
Negócios, as empresas mantêm muitas alternativas fora da formalidade para
contratar mão de obra especializada, porque o custo tributário desse trabalhador
é muito alto. "A tentativa de fuga desses tributos sobre o trabalho é feita
principalmente por parte do próprio empregado, por conta do Imposto de Renda",
comenta Leite.
Saboia, da UFRJ, lembra que esses movimentos não são novidade. "A novidade é o
crescimento da geração de emprego com carteira assinada e a taxa de desemprego
baixa. Isso é positivo." Os economistas também explicam que o efeito estatístico
do reajuste do mínimo aumenta o saldo positivo nas faixas salariais inferiores,
o que não é ruim do ponto de vista da formalização do mercado de trabalho e da
consequente maior proteção que o trabalhador passa a ter com sua carteira
assinada, além do ganho real de renda.
Mendonça observa que o salário mínimo, hoje em R$ 545, acumulou aumento 53%
acima do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) desde 2003. Com reajuste
de cerca de 14% do mínimo em vista para 2012, a fatia dos que ganham salários
até dois mínimos deve engrossar ainda mais no próximo ano, o que, para os
especialistas consultados, não é necessariamente uma situação negativa.
"O importante é que o salário mínimo vem crescendo acima da inflação, fazendo
com que o piso também venha crescendo. Isso faz com que as pessoas vivam melhor,
ajudando a corrigir o erro histórico de concentração de renda do país", defende
Leite, da Trevisan.
<https://conteudoclippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2011/6/20/novos-empregos-criados-em-2011-estao-concentrados-na-faixa-ate-dois-minimos>
Olhando por outro ângulo, podemos ver o seguinte: a faixa de
trabalhadores menos pobres ficou mais pobre. Talvez até uma boa parte dos
pequenos salários que aumentaram em número seja composta por vítimas do
desemprego da classe que está pouco acima. É o que não está explicado
quando dizem que a renda dos mais pobres cresceu bem mais do que a dos mais
ricos. Nesse meio está o empobrecimento da classe média, que os economistas
oficiais tentam sempre ocultar.
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