OS ERROS NOSSOS DE CADA DIA

- 24/03/209 -

 

Diariamente, cometemos erros de várias formas, ainda que tentemos evitá-los.  Podemos errar por desconhecimento, mas também por falha mecânica.  Por isso é bom seguir o conselho de Machado de Assis, revisando o que fazemos, o que não nos isenta totalmente de erros mas diminui muito sua incidência.

"Deve-se escrever da mesma maneira como as lavadeiras lá de Alagoas fazem seu ofício. Elas começam com uma primeira lavada, molham a roupa suja na beira da lagoa ou do riacho, torcem o pano, molham-no novamente, voltam a torcer. Colocam o anil, ensaboam e torcem uma, duas vezes. Depois enxáguam, dão mais uma molhada, agora jogando a água com a mão. Batem o pano na laje ou na pedra limpa, e dão mais uma torcida e mais outra, torcem até não pingar do pano uma só gota. Somente depois de feito tudo isso é que elas dependuram a roupa lavada na corda ou no varal, para secar.

Pois quem se mete a escrever devia fazer a mesma coisa. A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso; a palavra foi feita para dizer."  (Machado de Assis)

“No princípio do século XX, a Editora de Machado de Assis publicou uma segunda edição de suas “Poesias Completas”. Como todos os livros eram impressos na França, seria praticamente impossível que, mesmo depois da revisão, não sobrasse algum erro. No Prefácio havia uma frase em que o escritor inseriu de entremeio a expressão: “cegara o juízo”. Pois durante a impressão foi trocado o “e” por um “a”. Dizem que Machado, pessoalmente, teria raspado um a um o maldito “a” dos milhares de volumes, e corrigido a tinta nanquim. Bem, isto foi uma reação extrema. O maior escritor que até então vira brilhar o Cruzeiro do Sul, escrever que alguém teria praticado um ato tão nefando e nojento contra a própria razão, não poderia mesmo jamais ficar esquecido. A atitude que Machado teve de tomar foi a única possível se não quisesse ter o seu nome associado para sempre a um verbo tão chulo. Este intróito serve apenas para dizer que existem erros e “erros”.” (Raymundo Silveira, O(S) ERRO(S)).

Quando editei o livro “PROTEJA SUA LÍNGUA”, revisado por duas outras pessoas e por mim próprio, verifiquei que ainda havia deixado algumas falhas.  Mas o pior, que me obrigou a fazer uma errata, foi o fato de eu ter escrito em Word e outra pessoa ter convertido o texto para Page Maker.  Isso originou erros capazes de lançar dúvida sobre o meu conhecimento da matéria.

O prefácio da coletânea de poesias de Machado de Assis mencionado pelo nosso colega me lembra uma falha cometida quando eu trabalhava no Tribunal de Alçada de Minas Gerais.  Ainda não havia computador no Tribunal, e eu estava datilografando em uma máquina velha, que falhava em algumas teclas, entre elas a letra “v”.  E essa falha ocorreu exatamente quando eu escrevi o nome do juiz “Orlando Carvalho”.  Quando o texto retornou na conferência, meu chefe se aproximou de mim sorrindo e disse: “Olhe o que você fez”.    Constatei depois que eu não era o primeiro a escrever o nome com aquela falha.  Outra vez, trabalhando como digitador de audiência e de sentença, na Justiça do Trabalho, a juíza presidente em exercício se aproximou mim, também sorrindo,  perguntando o que era “cobra do artigo 486”.   Eu deveria ter digitado “dobra” onde digitei “cobra”. 

Por aqueles dias, uma colega copiou do texto manuscrito da juíza presidente titular que as alegações do reclamante foram “impregnadas” pela reclamada.   Essa juíza, entretanto, não achou nenhuma graça, ficou irritada, repetindo por que não gostava de trabalhar com “quem não sabe Direito”.  O termo correto seria “impugnadas”.

Muitas vezes escrevo um texto e, depois de algum tempo, resolvo lê-lo e descubro erros.  Parece que o tempo é pouco para, além de tantas outras coisas que tenho a fazer, eu seguir o conselho de Machado de Assis e tratar meus textos como as lavadeiras tratam as roupas.  Mas o melhor a fazer é isso mesmo.   Caso o leitor ainda encontre alguma nódoa neste ou noutro texto meu, ficarei grato se me avisar.

 

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