ESPÍRITO
"Sai-lhe
o espírito, e ele volta para a terra; naquele mesmo dia perecem os seus
pensamentos." (Salmos, 146:4).
Estudiosos do hebraico
informam que a palavra "ruach", que aqui é traduzida para espírito, é a mesma
usada no Gênesis: "E formou o Senhor Deus o homem do pó da terra, e
soprou em suas narinas o fôlego da vida; e o homem foi feito alma
vivente." (Gênesis 2:7). "Espírito" (ruach) significa para os
primeiros autores bíblicos, "fôlego de vida". O fôlego sai do homem, "ele
volta para a terra", ou seja morre e é sepultado, transformando-se novamente em
terra, e seus pensamentos perecem.
O grego
correspondente, "pneuma", e o latim "spiritum" também significam ar.
Daí a origem grega de "pneu", redução de "pneumático", que contém ar; e os
nossos verbos "inspirar" e "expirar", que nada mais é do que por ar para dentro
e por ar para fora.
Não obstante o sentido
literal dessas palavras, o homem antigo a ligou a algo que imaginou existir além
do nosso corpo, uma parte imaterial capaz de sobreviver à extinção do corpo,
conclusão primitiva deduzida do sonho, fenômeno que nos leva a sentir que
estamos em lugares os mais diversos enquanto estamos dormindo e nos ocorre um
pensamento.
Quando estamos
acordados, imaginamos situações e sabemos que elas são simples hipóteses da
nossa cabeça. Contudo, quando sonhamos, temos uma imaginação com a sensação de
estarmos de fato vendo, e fazendo coisas que apenas imaginamos. Mas o
homem primitivo não entendia isso. Daí deduziu que seu ser fosse composto
de duas entidades, uma material e uma imaterial. Estava criado o
espiritismo antigo, que deu base para o chamado "espiritismo moderno".
Pela leitura dos livros
mais antigos da Bíblia, percebemos que os hebreus antigos tinham a noção de que
o homem, ao ficar privado do ar que respira, não é capaz de pensar mais, além do
que não cogitavam eles da existência dessa parte imaterial, ideia que já existia
entre outros povos com os quais viriam a conviver.
“Pois os vivos sabem
que morrerão, mas os mortos não sabem coisa nenhuma, nem tampouco têm eles daí
em diante recompensa; porque a sua memória ficou entregue ao esquecimento. Tanto
o seu amor como o seu ódio e a sua inveja já pereceram; nem têm eles daí em
diante parte para sempre em coisa alguma do que se faz debaixo do sol.”
(Eclesiastes, 9:5, 6). Assim pensavam os judeus antes do cativeiro
babilônico.
Após viverem na
Babilônia, aprenderam a ressurreição dos mortos e também que existiria esse
espírito que não seria simplesmente o ar que respiramos, mas uma entidade
imaterial que sobrevive quando o corpo morre.
O novo testamento está
cheio de referências contraditórias à vida após a morte. Na parábola do Rio e
Lázaro, o rico morreu e foi sepultado, mas se achava vivo sofrendo entre as
chamas daquele lugar de tormento que também foi descoberto pelos judeus na
Babilônia (Yavé não tinha criado esse inferno antes de eles sofrerem esse
exílio). Essa situação de eterno sofrimento do rico seria
irreversível. Já na carta do apóstolo Pedro, os espíritos dos
mortos teriam oportunidade de se livrar desse sofrimento. Afirma ele que
Jesus "pregou aos espíritos em prisão". Se "foi o evangelho pregado também aos
mortos”, esses mortos estariam tendo uma oportunidade de ser salvos (I S. Pedro,
4: 5, 6).
Contrariando a parábola
"Rico e Lázaro" e a carta de Pedro, o próprio Jesus teria afirmado que a condenação ao sofrimento
após a morte só viria no futuro, no chamado "dia do juízo": "Em verdade vos
digo que, no dia do juízo, haverá menos rigor para o país de Sodoma e Gomorra do
que para aquela cidade." (Mateus 10:15). Conforme esse texto, os
habitantes de Sodoma e Gomorra não estariam sofrendo no inferno como o rico da
parábola, mas viriam a sofrer após esse "dia do juízo".
Como se vê pelos textos
bíblicos mais antigos e as próprias palavras da nossa língua, "espírito" é o ar
que inalamos e exalamos, mas os religiosos deram à mesma palavra o sentido de
uma suposta parte imaterial de cada pessoa.
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