ESTÁ NA HORA DE NORMALIZAR O ATEÍSMO


 Está na hora de normalizar o ateísmo
fevereiro 12, 2022


Hoje é 12 de fevereiro. Há exatos 213 anos nascia o naturalista Charles Darwin; além de ser geólogo e biólogo. ‘Tá’, mas o que tem Darwin com a questão de normalizar o ateísmo? A resposta é bem simples: Darwin com sua teoria da evolução muito bem embasada e carregada de evidências destruiu o mito da criação divina. Então, apesar de não ser um consenso geral, o dia 12 de fevereiro ficou registrado como o dia do Orgulho Ateu.

Até aí tudo bem, apesar de Nietzsche ter afirmado que deus está morto, é possível supor que Darwin tenha matado deus. Mas, quando deus esteve vivo de fato? Quando as perguntas eram complexas demais para os pobres mortais? Quando era preciso contar muitas estórias para controlar um povo? Quando era preciso acalentar o miserável? Quando era preciso acalmar o moribundo? Quando era preciso ameaçar para dominar? Deus esteve vivo por tempo demais!

Mas tantos deuses morreram pelo caminho. Alguns não serviam mais, estavam obsoletos, já não faziam milagres. Quantos deuses morreram encharcados de sangue, porque era preciso conquistar certos territórios. Essas terras eram cheias de lendas e de deuses que já eram desnecessários. Era tempo de mostrar a essa gente o deus verdadeiro. O mesmo que é amor, perdão e misericórdia, mas que não aceita concorrência.

Deus esteve vivo durante a escravidão, durante a inquisição, durante o holocausto, durante as guerras santas, nos campos de batalha, na queima às bruxas, durante as pandemias, as estiagens, enchentes, terremotos, maremotos, furacões, vendavais, violência urbana, crimes hediondos, crises financeiras, miséria, fome, desgraças. Em silêncio e inerte, mas vivo!

Deus ainda exala seus últimos suspiros, ninguém pode negar. É o fim dos tempos, Jesus está voltando, o deus morto na cruz, não morreu de fato. Foi para casa assistir às tragédias que antecederão o seu retorno. Segundo a promessa não passaria uma geração, e lá se foram mais de dois mil anos. O que ainda espera; mais tragédias?

Deus mesmo moribundo, ainda vive alimentando a fé. Fomenta o velho mercado de indulgências; repaginado e de cara nova. O chamado vem de uma uma voz melosa e hipnótica, que induz ovelhas ao abate; pobres a darem o que não têm á lobos de gravata. O deus moribundo se tornou fonte de renda, líquida, e sem impostos.

O quase cadáver, já rodeado de moscas; ainda sustenta ideologias, hipocrisia, preconceito, violência. Acoberta crimes. Elege candidatos a cargos importantes. Passa uma demão de tinta sobre a podridão. Esconde pedofilia debaixo das batinas. Enriquece, manipula, governa, explora, dá poder, fornece honestidade.

A modernidade apresenta o quadro de um deus, pintado a guache, e que não aguenta as gotas de realidade que respigam o tempo todo. A cada resposta encontrada, perde forma e tonalidade. O conhecimento transformou essa imagem em um borrão sem sentido. A reflexão e a observação do mundo tiraram esse deus dos holofotes. A lógica e a razão tiraram essa peça inútil das lacunas. Não há mais lugar nesse bonde para castradores da liberdade intelectual.

Diante dessa figura desforme, apodrecida, obsoleta e ilógica. Que em nome da manipulação, exploração e do poder muitos teimam em desfibrilar. Está na hora de normalizar o ateísmo, a descrença, a militância antirreligiosa, o humanismo. Como não dizer hoje que o homem está no centro de todo poder? Quem cura doenças? Quem salva vidas? Quem ajuda? Quem ampara? Quem protege os indefesos?

Pode-se afirmar com isso que o demônio também está morto. Realmente o inferno está vazio. Quem mata? Quem rouba? Quem explora? Quem abusa do poder? Quem condena? Quem violenta? Quem desrespeita? Quem domina? Quem suga?

Deus é o homem, o diabo também é o homem. A humanidade é a versão verdadeira do bem e do mal. É hora de assumir isso, é hora de ser honesto, é hora de compreender os que tiveram coragem de assumir sua pequenez e finitude.

Normalização é uma palavra da moda, favor não confundir com normatização, ninguém merece. Já existem normas demais e que não resolvem nada. Aproveitando o vocábulo e o gancho, há tantas outras coisas a serem normalizadas. A sociedade cria padrões e acha que são moldes, que todos precisam sair dali formatados, programados, convencidos a fazerem e serem desse modo ou daquele. Chega de fôrmas, chega de receitas, chega de fórmulas pré determinadas.

É normal sair da caixa. É normal desconstruir. É normal não aceitar. É normal questionar. É normal amar a quem amar. É normal ser como sentir. É normal ser dono de si. Só não dá para normalizar, estar bem ajustado nessa sociedade profundamente doente, como diria Krishnamurti.

Infelizmente tem tanta gente enraizada no chão, que não aceita sair do lugar. Darwin ficaria chocado e colocaria em xeque a evolução das espécies. Mas a evolução que é natural e perceptível não se importa com isso, ela segue e continua em ação, bem diferente de deus, não precisa que ninguém acredite nela para continuar fazendo efeito.

Considerando nosso perfil atual eu conserto o que disse Darwin: “não é o mais forte que sobrevive, mas é preciso um tanto de inteligência para se adaptar às mudanças”

Joana Maria
Jornalista e escritora

<https://www.marmitafria.com/2022/02/esta-na-hora-de-normalizar-o-ateismo.html>

 

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