AS ESTAÇÕES DO HOMEM

 

À semelhança do ano, nós temos quatro estações e nascemos na primavera. Uns têm mais flores, outros, mais espinhos; contudo é essa a ordem da nossa vida.

Os caldeus, criadores das medidas do tempo, marcaram o início do ano no equinócio da primavera setentrional, por volta de 20 de março do nosso calendário. Uma grande semelhança existe entre a nossa vida e as estações do ano.

Nascemos na primavera. Iniciamos a vida cercados de carinho e proteção dos pais. É a época de brincar e não se preocupar com a subsistência. Tudo são flores (ou quase tudo). Por muito espinhosa que seja a vida de uma criança, ainda podemos dizer que, em regra, é sua fase mais florida.

Passa a infância e a adolescência, vem o calor do verão. Muito trabalho, muita competição, é a fase em que o homem procura firmar-se na vida. Uns dão tudo de si para subir ao pódio; outros se acomodam na sombra das riquezas, livres das disputas da vida; outros se escondem e deixam os demais dominarem o campeonato, vivendo como o acaso permitir, ou esperando ajuda divina.

Bem ou mal, ganhando ou perdendo, competindo ou desistindo, o homem passa pelo verão, e um dia chega o outono, quando vamos colher os frutos do nosso trabalho, sejam muitos ou poucos. O homem aposenta-se e vai viver com o que conseguiu de proventos. Já não compete tanto como no passado, e como as fases do ano, um dia chega o inverno: tudo mais frio e seco. As energias físicas e mentais vão se esgotando, os sentidos diminuindo, caminhando rumo ao fim.

A fase mais perigosa é a transição da primavera para o verão. Muitas pessoas, não satisfeitas com as flores que receberam, procuram iludir-se, querendo tornar mais florida a primavera e o verão, mediante excitantes, tranqüilizantes, alucinógenos, todos os tipos de coisas que desvirtuam os sentidos normais, e não percebem que estão encurtando as estações e abreviando a chegado do inverno, ou, muitas vezes, não chegam até o outono.

Essa é a realidade que em regra todos temos que enfrentar. Nos nossos dias, está havendo uma agravante: os nossos governos fazem tudo que podem com a finalidade de prolongar nossos dias de verão e tornar menos frutífero nosso outono, com previsão de inverno rigoroso.

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