Se me fosse possível, eu não seria ateu. Mas, para isso, eu teria que me
enganar. Isso é impossível.
Acreditar que haja um ser sobrenatural supremo que vá nos proteger contra todos
os males e ao final nos dar uma vida eterna e sem qualquer
sofrimento seria muito confortável. Aceitar a vida como ela é, uma constante
competição, onde vemos muitas injustiças entre as pessoas, e encarar a realidade
de que as catástrofes da natureza, os acasos, as epidemias, etc. não fazem
distinção entre bons e maus, atingindo quem estiver pela frente, não é mesmo uma
coisa agradável. É essa uma das razões por que tanta gente crê em um deus
onipotente, onisciente, onipresente, perfeito, justo e bom, o protetor ideal.
Todavia, jamais consegui elemento algum que pudesse manter em meu pensamento
essa fé. Procurei estudar bem a fundo as bases da crença em um ser sobrenatural
criador e mantenedor de todas as coisas, entretanto isso me levou à conclusão
contrária. Vi que não existe um deus protegendo quem
crê, tendo os crentes os mesmos riscos e sofrendo
os mesmos males que sofrem os que não crêem, e que
a dita palavra divina, cheia de equívocos dos
humanos do passado, não procede de um ser
onisciente, mas do
pensamento bárbaro daquele povo, que
achava justo o filho pagar pela maldade do pai.
Para ser sincero comigo mesmo, não pude continuar aceitando a idéia prevalente
nas mentes da maioria das pessoas. Não conseguiria enganar a mim mesmo. Se não
posso me enganar, o que posso fazer é continuar a me declarar ateus graças a
deus.