EXTREMA POBREZA CONTINUA
AUMENTANDO NO PRIMEIRO ANO
Extrema pobreza sobe e
Brasil já soma 13,5 milhões de miseráveis
Grupo, que sobrevive com 145 reais mensais, vem crescendo desde 2015. Número de
miseráveis no país é maior que a população da Bolívia, mostra IBGE
Carla Jiménez
São Paulo - 06 Nov 2019 - 13:35 BRT
A extrema pobreza subiu no Brasil e já soma 13,5 milhões de pessoas sobrevivendo
com até 145 reais mensais. O número de miseráveis vem crescendo desde 2015,
invertendo a curva descendente da miséria dos anos anteriores. De 2014 para cá
4,5 milhões de pessoas caíram para a extrema pobreza, passando a viver em
condições miseráveis. O contingente é recorde em sete anos da série histórica do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A alta do desemprego, os
programas sociais mais enxutos e a falta de reajuste de subvenções como o Bolsa
Família aumentam o fosso do mais pobres. O indicador de pobreza do Bolsa
Família, por exemplo, é de 89 reais, abaixo do parâmetro de 145 reais utilizado
pelo Banco Mundial.
A miséria atinge principalmente estados do Norte e Nordeste do Brasil, em
especial a população preta e parda, sem instrução ou com formação fundamental
incompleta. Mesmo os filhos dessas famílias que queiram superar a condição de
estudos dos pais acabam paralisados pela limitação econômica familiar. A falta
de renda acaba empurrando os estudantes desse estrato para a evasão escolar.
Entre ir à escola ou trabalhar para evitar que a família passe fome, a segunda
opção é a mais óbvia. Segundo o IBGE, 11,8% dos jovens mais pobres abandonaram a
escola sem concluir o ensino médio no ano passado. Trata-se de um índice oito
vezes maior que o dos jovens ricos.
O crescimento da extrema pobreza coincide com o início da recessão que começou
em 2014 no Brasil e terminou em 2016. Embora tenha continuado a subir, a
velocidade é bem menor. De 2017 para 2018 foram 200.000 pessoas a mais que
assumiram o status de miseráveis. Um ano antes, porém, de 2016 para 2017, a alta
havia sido de 1.339 milhão. Nesse período, o Brasil ajudou a inflar os dados de
extrema pobreza em todo o continente, como mostrou um estudo da Comissão
Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL, um órgão da ONU).
O IBGE, porém, aponta a necessidade de um trabalho focado para este grupo.
Segundo André Simões, gerente do estudo Síntese de Indicadores Sociais, a saída
da miséria desta população depende de cuidados maiores. “É fundamental que as
pessoas tenham acesso aos programas sociais e que tenham condições de se inserir
no mercado de trabalho para terem acesso a uma renda que as tirem da situação de
extrema pobreza”, diz ele. Um dado do IBGE, porém, chama a atenção. Dos 13,5
milhões de miseráveis, 13,6% tinham alguma ocupação, ainda que informal,
cumprindo abaixo das 40 horas de trabalho semanal.
Bolsonaro: “Falar que se passa fome no Brasil é uma grande mentira, é um
discurso populista”
Impulsionada pelo Brasil, extrema pobreza na América Latina tem pior índice em
dez anos
O estudo sugere um investimento extra de 1 bilhão de reais mensais para atender
aos brasileiros em condição de extrema pobreza. A projeção, porém, esbarra num
momento em que o Governo de Jair Bolsonaro está focado no aprofundamento do
ajuste fiscal, como mostrou o pacote do ministro Paulo Guedes nesta terça, e na
ideia da redução do papel do Estado, que foi abraçada pelo país desde o governo
de Michel Temer. Essa mudança se reflete, por exemplo, no número de usuários do
Bolsa Família. Hoje, 13,7% dos lares brasileiros recebem o benefício, contra
14,9% em 2014.
Uma das maiores críticas ao governo de Jair Bolsonaro e à política econômica que
adotou é a falta de foco nos programas sociais. Bolsonaro foi criticado em julho
deste ano por não ter reconhecido que o país tinha um quadro preocupante de
crescimento da pobreza, que incluía uma população que passava fome.
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